António Cotrim / Lusa

Dois anos após o fatídico incêndio de 17 de Junho de 2017, as feridas abertas em Pedrógão Grande estão longe de sarar, enquanto os eucaliptos se regeneram desordenadamente e voltam a dominar a paisagem. O receio de novos incêndios persiste, até porque “ainda há áreas que não arderam”.
Em Pedrógão Grande, “as feridas ainda estão bastante abertas” e a elas juntam-se polémicas e processos judiciais relacionados com o incêndio, donativos e reconstrução de casas. “Há um sentimento de vergonha e as pessoas evitam falar do assunto”, revela em declarações à agência Lusa a professora Deolinda Campos que vive em Figueiró dos Vinhos, mas que trabalha em Pedrógão Grande.
“Em termos emotivos”, o incêndio “deixou marcas para a vida toda” nas populações afectadas, constata Deolinda Campos, de 57 anos.
Com ligações afectivas a Escalos do Meio, Carlos Cristo, de 69 anos, não residia em Pedrógão Grande quando o fogo eclodiu na vizinha aldeia de Escalos Fundeiros. Emigrou aos 13 anos com os pais para o Brasil e radicou-se em 2018 no município de Pedrógão Grande.
“Para modificar o presente e o futuro, não se percebe que esteja a acontecer alguma coisa”, declara também à Lusa.
O reformado realça que, apesar de “alguns rancores, ódios e situações pouco éticas”, “houve uma reconstrução das casas” após “uma experiência extremamente dramática”. Mas “não se nota que esteja a acontecer a reflorestação nos moldes diferentes que foram anunciados”, aponta.
“A região está verde, sim, mas tomada pelos fetos e pelos eucaliptos, que já têm novamente três metros de altura“, critica Carlos Cristo.
Moradores temem novos fogos
“Perdeu-se uma oportunidade fabulosa de dar a volta a isto tudo. Caiu-se já na rotina e temo que já não vá acontecer”, lamenta também em declarações à Lusa Jorge David, residente em Castanheira de Pêra, um dos municípios que foram mais atingidos pelo fogo de 17 de Junho de 2017, a par de Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos.
Este funcionário público reformado de 64 anos alerta que “as feridas abertas vão-se sarando”, as do corpo e as da alma, mas os moradores temem que outros fogos venham a ocorrer, devido às alterações climáticas e tendo em conta que “ainda há áreas que não arderam”.
No mesmo concelho, o acupunctor Pedro Kalidás, de 49 anos, reconhece que a situação “melhorou um pouco” ao nível da gestão de combustível nas faixas da responsabilidade das entidades públicas.
Todavia, nos terrenos privados, verifica-se “um desmazelo muito grande” e, em geral, as árvores queimadas ainda não foram removidas.
“Não apareceram investidores e a descentralização de serviços públicos para o interior não se vê”, refere, para lamentar que “o marasmo continue” quanto à criação de empregos nesta zona do distrito de Leiria.
Em Figueiró dos Vinhos, o autarca Jorge Abreu reconhece que “a maior vulnerabilidade à ocorrência de incêndios ainda não está debelada“, mencionando os “problemas de ordenamento florestal e do território”, além do “declínio demográfico” e de “um insuficiente desenvolvimento económico”.
Despovoamento e desemprego por resolver
O despovoamento e a falta de investimentos que promovam o emprego destacam-se entre os problemas por resolver em Pedrógão Grande e concelhos vizinhos.
“Ainda há muito por fazer”, admite à Lusa o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, lamentando não terem chegado a concretizar-se os investimentos previstos por diferentes empresas para este município.
Há dois anos, logo após a tragédia, em que morreram 66 pessoas e mais de 200 ficaram feridas, o grupo Lusiaves anunciou um investimento de 60 milhões de euros na produção de aves nos três municípios afectados, totalizando a criação de 300 empregos. Mas nenhum dos empreendimentos avançou.
“Tínhamos duas ou três empresas estrangeiras que queriam vir investir em Pedrógão Grande. Mas, depois, começaram a desculpar-se com tudo o que a comunicação social tem dito e desistiram“, afirma o autarca que é um dos 43 arguidos no inquérito às alegadas irregularidades nas ajudas à reconstrução de casas atingidas pelo fogo de 2017.
Eleito pelo PS em Outubro de 2017, após um primeiro mandato pelo PSD, ele é igualmente arguido no processo para apuramento de responsabilidades na ocorrência do incêndio, condição que partilha com o presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu (PS), e com Fernando Lopes (PS) que liderou o município da Castanheira de Pera, entre outros.
Em Março, ao assinalar o arquivamento de outro inquérito do Ministério Público, relacionado com suspeitas de fraude na entrega de donativos às vítimas do incêndio, Valdemar Alves alegou que a polémica em torno do assunto teve origem em movimentações políticas locais contra si.
A Lusa tentou obter também o testemunho da presidente da Câmara da Castanheira de Pera, Alda Carvalho (PSD), que não se mostrou disponível.
ZAP // Lusa
Mas alguem é capaz de dizer onde é que já houve arrancar de eucaliptos ilegais? E porque é que ninguem consegue nada contra os malditos eucaliptos?
Os malditos eucaliptos causam graves problemas nos incendios florestais, tal como se tem visto ultimamente, mas uma coisa que os eucaliptos fazem e que não dá para ver tao bem é as secas das fontes e ressecamento dos solos, questão esta muito mais grave e que “ninguem” está preocupado….
Manel isso não é totalmente verdade… os graves problemas nos incêndios devem-se principalmente à falta de organização/ordenamento e falta de limpeza. Como facilmente compreenderia se percebesse alguma coisa da poda, os pinhais/eucaliptais representam muitas vezes as poupanças de uma população envelhecida… acha mesmo que tem força e dinheiro depois de uma tragédia desta dimensão para arrancar eucaliptos ou o que quer que seja?
o que aconteceu depois do incendio é que o governo fez uma lei a proibir a plantação de eucaliptos.
so que essa lei em vez de entrar imediatamente em vigor, nao so entrou 6 meses depois da publicação.
por isto,, os proprietarios tiveram tempo de comprar e plantar eucaliptos.
e qualquer dia temos outra tragedia por causa destas leis
O prototípico matarruano, o leiriense, nunca aprende com os erros. Volta sempre a repeti-los duas vezes pior. Já tentaram pôr esta gente a pensar com boardoadas na cabeça mas mesmo assim eles não foram ao lugar. A única queda que têm é para a beatice, coscuvilhice e chico-espertismo – já dizia o Eça no Crime do Padre Amaro. Só quando surgir um incêndio que incinere a região toda, e quando for tudo povoado de novo, é que talvez uma nova estirpe de pessoas, com bondade e generosidade no coração, possa ali voltar a nascer. De outra forma não há esperança. O matarruano é um ser que não tem lugar nos novos tempos.