O caso da ministra da Saúde é o oposto de Jorge Coelho

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Rui Minderico / LUSA

A ministra da Saúde, Ana Paula Martins

Pelo menos uma pessoa morreu por causa da greve no INEM. Ana Paula Martins não sai e recusa relação direta.

4 de Março de 2001. A Ponte Hintze Ribeiro colapsou em Entre-os-Rios. Um autocarro e três automóveis caíram ao rio Douro e 59 pessoas morreram.

Pouco depois, já de madrugada, Jorge Coelho demitiu-se. O então ministro do Equipamento Social (hoje seria ministro das Infraestruturas) assumiu a responsabilidade política do acidente.

Não ficaria bem com a minha consciência se não o fizesse. A culpa não pode morrer solteira. Nesse sentido, têm que se tirar as consequências políticas. Não ficaria bem com a minha consciência se continuasse”, justificou Jorge Coelho, que explicou em conferência de imprensa que, mesmo não tendo responsabilidade directa na tragédia, era o líder do ministério em causa – por isso, impunha-se que apresentasse a demissão.

Jorge Coelho tinha visitado aquela ponte um ano antes; decidiu na altura construir uma ponte naquele local porque a Ponte Hintze Ribeiro apresentava «alguma degradação ao nível do tabuleiro».

O primeiro-ministro, António Guterres, considerou “irrecusável” o pedido de demissão de Jorge Coelho: “É uma atitude de invulgar dignidade de quem seguramente está isento de qualquer responsabilidade pessoal pelos trágicos acontecimentos que enlutam o país”.

Ana Paula Martins, 2025

Ou seja, para Jorge Coelho, “era insuportável haver mortes associadas ao seu nome, não conseguia conviver com essa dor”, analisa hoje José Manuel Mestre.

O comentador estava a recordar o caso de Jorge Coelho por causa da situação da actual ministra da Saúde.

Ana Paula Martins sabe que o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) mostrou que a morte de um homem de 53 anos de Pombal (Leiria), em Novembro, poderia ter sido evitada se a vítima tivesse sido socorrida num tempo mínimo e razoável – na altura havia greve do INEM.

Na primeira reacção ao relatório, o Governo disse que a demora no socorro que levou à morte do utente estão relacionadas com a falta de zelo de dois profissionais, que intervieram no processo, e não com a greve no INEM.

A oposição quer que a ministra preste declarações – ou que se demita, como já se vai ouvindo há meses.

Mas Ana Paula Martins não sai. A ministra da Saúde acha que “o que está em causa, através de um relatório que é o espaço certo para se fazer esta avaliação, é que não houve – repito – não houve nenhuma relação entre a infeliz ocorrência e a greve do INEM“.

Por isso, Ana Paula Martins continua disponível para “trabalhar sob a liderança” do primeiro-ministro Luís Montenegro – que remeteu a discussão de relatórios para a Assembleia da República. E mantém a ministra, tal como aconteceu quando foi anunciado o novo Governo.

Mas a ministra está sob uma “fragilidade enorme”, comenta José Manuel Mestre na rádio Observador: “Tem feito uma série de coisas para esconder um problema. Foge sempre. É criticada por toda a oposição, até pelo PS, que não quer levantar ondas”.

ZAP //

1 Comment

  1. Casos e Casinhos que levam ao risco de Vida para Cidadãos comuns continuaram a florescer . Esta Sra. e seu 1º Ministro , são tão eficazes no preservar o bem comum en termos de Saúde como o Anterior Governo Socialista do Sr. A. Costa e da Sra. M. Temido . Se ainda não foi demitida por O 1º Ministro , é porque pode dar com a lingua nos dentes , e isso Montenegro não quer !

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