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De “velho” a “enternecedor”. As reações dos partidos às críticas de Cavaco Silva

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José Sena Goulão / Lusa

O antigo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva teceu duras críticas, este sábado, ao Governo português. PS, PCP e Bloco de Esquerda reagiram.

Este sábado, Cavaco Silva deixou duras críticas ao Executivo de António Costa, sublinhando que a pandemia mostrou um “SNS fragilizado por decisões erradas do governo”. Além disso, referiu que Portugal vive “numa situação de democracia amordaçada” e considerou que os números recentes da pandemia causam “vergonha”.

Numa reação às críticas do antigo Presidente da República, o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, considerou ser “sempre tempo oportuno para um ato de contrição”, não deixando de ser “enternecedor ver o professor Cavaco Silva reconhecer que o Tribunal de Contas, o Ministério Público não são forças de bloqueio”.

“Noutros tempos recordamo-nos bem das considerações e dos pedidos para que deixassem governar o Governo presidido pelo professor Cavaco Silva”, lembrou, numa referência à célebre frase do social-democrata “deixem-nos trabalhar”.

Para José Luís Carneiro, “não deixa de ser enternecedor ver que, agora fora de funções executivas, há uma outra perspetiva sobre o modo como se governa e como se exercita o poder político”.

A propósito das críticas ao SNS, o dirigente socialista considerou interessante o reconhecimento de que “o SNS merece ser reforçado”. “Bem nos recordamos da falta de meios humanos, materiais, de investimento que o SNS teve durante décadas e da própria abertura às privatizações e ao setor privado, mas mais vale tarde que nunca”, atirou.

Questionado sobre as críticas de Cavaco Silva de que Portugal vive “numa situação de democracia amordaçada”, o socialista respondeu apenas: “Nós já nos conseguimos até esquecer das cargas policiais na Ponte 25 de Abril”.

“É a demonstração de que a expressão livre e democrática continua a demonstrar a qualidade da nossa democracia”, respondeu o secretário-geral adjunto do PS, quando questionado sobre a dureza das críticas do antigo primeiro-ministro do PSD.

Cavaco “está velho”

Em entrevista à RTP, no dia do centenário do PCP, Jerónimo de Sousa relativizou a crítica do ex-Presidente de que Portugal vive numa “democracia amordaçada”, considerando-a “exagerada”, e afirmou que o antigo líder do PSD “está velho”.

Questionado sobre as afirmações de Cavaco Silva, o líder dos comunistas recordou as “profundas críticas ao PS e ao Governo, particularmente em matérias económicas” e europeias, em que “há um grau submissão” da parte de Lisboa a Bruxelas. “Daí a tomar como verdadeira essa afirmação do ex-Presidente da República Cavaco Silva é, no mínimo, manifestamente exagerado”, afirmou.

Depois, disse que a intervenção de Cavaco Silva, de 81 anos, pode ser vista como “uma tática do PSD”, que “faz os entendimentos com o PS em questões de fundo, estruturais” e depois precisa de “umas vozes críticas que, correndo por fora, sempre ajudam a essa tática de reforço do PSD”.

“As pessoas merecem-me sempre respeito, mas, no somatório daquela entrevista, acho que está velho. Cavaco Silva está velho”, concluiu Jerónimo de Sousa, de 73 anos.

Problema de “colagem com a realidade”

A líder bloquista também reagiu às palavras do antigo chefe de Estado. Catarina Martins considerou que as declarações de Cavaco sobre o SNS são “uma autocrítica” à lei de bases que então defendeu, apontando-lhe um problema de “colagem com a realidade”.

“Presumo que Cavaco Silva está a fazer uma autocrítica, uma vez que durante décadas vigorou uma lei de bases que o PSD quis e que Cavaco Silva quis, uma lei de bases que obrigava o Estado a financiar o setor privado da saúde, com prejuízo do desenvolvimento do Serviço Nacional de Saúde”, respondeu a bloquista aos jornalistas.

Apesar de, precisamente no Governo da geringonça, se ter conseguido revogar essa lei de bases de saúde, a líder do BE considerou que “não é num ano ou dois que se resolve um problema que já tinha umas décadas”, porque a anterior lei “criou uma enorme fragilização do Serviço Nacional de Saúde”.

Questionada sobre as críticas de Cavaco de que Portugal vive uma “situação de uma democracia amordaçada”, Catarina Martins começou por ressalvar que se exige “algum respeito institucional por ex-Presidentes da República”. “Mas as nossas divergências são tão grandes que eu tenho até dificuldade em perceber sequer a que é que se refere. Julgo que há um problema até de colagem com a realidade”, apontou.

Concretamente sobre as críticas ao anterior Governo minoritário do PS, apoiado no parlamento por toda a esquerda, a líder do BE considerou não haver “nenhuma novidade”.

“Eu tenho dificuldade em encontrar algo para comentar sobre algo em que não vejo mesmo nenhuma novidade”, disse.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

5 Comments

  1. O Sr. Dr. Cavaco Silva devia ter lidado com este contexto desastroso para toda a Humanidade, até gostava de ver este Senhor que não conseguia viver com 2.000Eur. enquanto outros tinham de viver com 400 ou 300 ou menos, este Senhor que criou o Monstro, este egocêntrico, faccioso que dos fundos Europeus distribuiu pela coleção de amizades, está agora a mandar uns bitaítes só para aparecer, estava apagadito, e assim devia continuar, se para tal for preciso, eu proponho levar á sua linda e soberba mansão uma carrada de lenha para aquecer os pézitos e se manter caladito.

    Isto não vincula que e ache que este Governo seja topo de gama, mas venha o diabo e escolha, já dou razão a quem governa a China, em relação á pandemia não confinaram a bem confinaram a mal, aqui se mais Natáis, Anos Novos, Páscoas, festas e afins houvessem, ia ser uma razia na População Portuguesa, e um mal do Governo foi ter dado abertura a Portugueses, e Portugueses com abertura é o que dá.

    A. Sousa.

  2. Faz-me uma certa pena ver um ex PR a sujeitar-se a este jogo sujo de se servir de mentiras para derrubar o adversário. Vale tudo até tirar olhos!! Mas quem andará a tirar partido da provecta idade de Cavaco, aproveitando-se dela desta forma ignóbil? Fica-lhe muito mal, sr. ex PR, tanta desfaçatez! Esta mentira do SNS é de fazer cair os santos dos altares de todas as igrejas do país!

  3. É sempre um problema para a esquerda lidar com ex-políticos do centro-direita que ganharam eleições legislativas com maiorias absolutas e que deixaram Portugal em boa situação económica e social.
    No fundo resume-se àqueles que não se deixaram corromper e que teimaram em seguir um rumo de seriedade sem serem actores de processos de pedofilia, terrorismo, assaltos criminosos ou actos de traição.
    Grande CAVACO.

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