Um ano depois do incêndio na discoteca Kiss, no sul do Brasil, que causou a morte de 242 jovens, não há nenhum suspeito preso e os sobreviventes continuam a receber tratamento médico.
No dia 27 de janeiro de 2013, na cidade de Santa Maria, o incêndio teve início num concerto de uma banda que usava fogo pirotécnico, propagando-se pela instalação elétrica e pela cobertura, causando o pânico entre a assistência.
“Achei que fosse briga, e corri. Quando cheguei na porta, vi queá a fumaça tinha tomado conta, e que eu estava queimada”, recorda Kelen Ferreira, 20 anos, estudante de terapia ocupacional, que estava na festa com nove amigos. Três deles não sobreviveram.
A estudante ficou 78 dias internada, 20 deles em coma, realizou enxertos de pele e amputou a perna direita abaixo do joelho. Atualmente, faz fisioterapia, para se recuperar das lesões nos pulmões e voltar a mexer um dos punhos.
“Quero que se faça justiça. A gente saiu aquele dia para se divertir, como todas as outras vezes, e nunca iria imaginar” o que aconteceu, diz.
No total, 241 sobreviventes fazem acompanhamento periódico no Centro Integrado de Atenção a Vitimas de Acidente (CIAVA) do Hospital Universitário de Santa Maria, segundo a coordenadora do centro, Soeli Guerra.
Entre os pacientes, 43 fazem fisioterapia, 67 acompanham a evolução de lesões de pele e 65 frequentam a pneumologia.
Adherbal Ferreira, presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria e pai de uma das vítimas fatais, pede justiça. Os oito indiciados pela Justiça, entre os quais dois donos do local e dois integrantes da banda, respondem a processos-crime, mas em liberdade.
“Eles estão soltos, e nós, presos no nosso sentimento. Em vez de sair para comer pizza, eu e minha família vamos ao cemitério ver a minha filha”, afirmou.
Os donos da discoteca e os integrantes da banda respondem por homicídio, devido às falhas de segurança da casa e à realização da apresentação de pirotecnia em espaço inadequado.
No processo são ainda acusados dois bombeiros de fraude processual, por emitirem autos de segurança para o local, e outras duas pessoas, por falso testemunho para proteger os donos.
No entanto, Adherbal Ferreira lamenta que não estejam a ser julgadas as autoridades que atribuíram licença ao espaço.
Este fim de semana, realiza-se um encontro para discutir o caso, organizado pela associação, que deverá contar com a presença de membros da polícia, do Ministério Público e de estrangeiros que sofreram perdas em situações semelhantes.
/Lusa