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Turismo num impasse: ou reabre e perde dinheiro, ou mantém o pessoal em lay-off

Entre chamar de volta os trabalhadores ou mantê-los em casa, o turismo tem em mãos uma decisão difícil. Este é o dilema com que vários hotéis e unidades turísticas se têm debatido nos últimos tempos.

Todos os segmentos do turismo têm reclamado o alargamento do lay-off simplificado, que vigora até final de junho. Ao Expresso, Eduardo Abreu, sócio da consultora Neoturis, explicou que, no final de maio, os hotéis deverão ter um registo da procura expectável para os meses de verão, e é nessa base que terão de tomar uma difícil decisão.

Num cenário de grande incerteza, terão de decidir se reabrem ou não com capacidade reduzida, ponderando se vale a pena manter os trabalhadores em lay-off. Se por um lado não é rentável manter um hotel a funcionar com uma ocupação muito baixa, se as empresas arriscam abrir e deixam de ter lay-off, os custos disparam.

Os hotéis têm a possibilidade de não colocar todo o pessoal em lay-off caso venha a ser alargado, mas esta é também uma decisão complexa, uma vez que, independentemente do número de clientes, a operação hoteleira envolve trabalhadores a funcionar em todas as áreas de operação.

Acresce ainda o facto de, quando reabrirem, as unidades hoteleiras necessitarem de mais pessoal do que o que era habitual com todas as medidas de restrição que terão de respeitar a nível sanitário.

O grupo Vila Galé planeia reabrir alguns hotéis a 11 de junho em particular os que tenham “mais espaços verdes e zonas exteriores”, estando tudo dependente do acompanhar da evolução da pandemia e de medidas estritas acordadas com as autoridades de saúde.

O Pestana também aponta para junho a reabertura lenta de algumas unidades, prevendo que o processo vá ganhando mais expressão nos meses do verão como julho e agosto. Contudo, nem todos os hotéis têm dimensão suficiente e folga de tesouraria que lhes dê perspetivas de poderem fazer aberturas experimentais como estes dois casos.

Hotelaria algarvia: normalidade só na Páscoa de 2021

A hotelaria do Algarve poderá só regressar à normalidade na Páscoa de 2021, devido aos efeitos da pandemia de covid-19, mas há hotéis que ponderam reabrir já em junho ou julho.

O presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) falou à Lusa sobre as expectativas que o setor tem para a próxima época alta e considerou que, primeiro, é preciso levantar o estado de emergência e conhecer o calendário que o Governo está a preparar para a retoma progressiva da actividade económica a partir de maio.

“Há hotéis que estão a pensar reabrir já no mês de junho, sobretudo na segunda quinzena, outros no início de julho. Haverá alguns que já nem abrem este ano, porque as nossas perspetivas apontam para que tenhamos sobretudo procura por parte do mercado interno”, afirmou Elidérico Viegas.

O mercado externo terá uma “recuperação mais lenta” e a sua presença na região será “mais residual” devido à dependência do transporte aéreo, que está praticamente parado, pelo que a AHETA está já “a contar também que a recuperação e o regresso mais próximo à normalidade” só “tenha início a partir da Páscoa do próximo ano”, estimou, sublinhando que “tudo depende de como a pandemia evoluir”.

Elidérico Viegas considerou que o Algarve tem “uma valia competitiva importante”, porque “é das zonas do país menos afetada, quer em termos de infetados, quer de óbitos”, mas, argumentou, os hotéis e empreendimentos têm que saber quais os protocolos sanitários e de segurança que terão de ser adotar para poderem funcionar.

Sobre as restrições ao funcionamento de hotéis e empreendimentos turísticos durante o período inicial após a reabertura, a mesma fonte disse esperar pelos guias de boas práticas para se estudar a forma de implementação em cada unidade. Contudo, advertiu, é necessário dar passos seguros e não correr riscos, como no caso de países que sofreram o impacto da pandemia, reabrindo a atividade e depois voltando atrás.

“É tudo o que não nos pode acontecer: combater a pandemia, conseguir diminuir, entrar numa via descendente e, depois, porque deixámos de cumprir e ter práticas para evitar expansão do vírus, voltarmos ao início”, sustentou, considerando que “seria pior a emenda que o soneto”.

ZAP // Lusa

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