/

Trump já levou 6 empresas suas à falência (e deve milhões à banca)

3

Filippo Attili/EPA

Donald Trump

Donald Trump gosta de se apresentar como um empresário muito rico e mais esperto do que ninguém, mas já soma seis falências nos seus negócios. Numa altura em que a economia americana dá sinais de alarme, há quem pergunte se o Presidente dos EUA saberá o que anda a fazer…

Trump transmite aos americanos a certeza de que as suas políticas vão tornar a “América Grande Novamente”. Mas a sua guerra comercial, com ameaças de tarifas, está a criar uma enorme instabilidade nos mercados financeiros, com as bolsas em queda, e consumidores e empresários sem saberem o que esperar.

Há analistas que admitem que os EUA podem entrar em recessão, e o próprio Trump assumiu essa possibilidade – mas defende a máxima “no pain, no gain”, ou seja, não há sucesso sem sacrifícios.

A ideia não seria necessariamente controversa se não viesse de um homem que herdou uma fortuna do pai, que ficou multimilionário a construir complexos residenciais.

Trump fez render esse dinheiro como promotor imobiliário, operador de casinos e com um “reality show” – The Apprentice -, onde despedia pessoas.

Mas, ao contrário do que ele faz parecer, nem todos os seus negócios foram rentáveis. Na verdade, no seu currículo de empresário, conta com seis falências.

É preciso dizer que Trump nunca apresentou um pedido de falência pessoal – estão em causa falências de empresas que detinha. Mas o homem de negócios recusa a ideia de que tenham sido falhanços.

Em Agosto de 2015, afirmou que se limitou a usar as leis “para fazer um óptimo trabalho” para as suas empresas, funcionários, e para si e para a sua família.

Mas em 2016, o The New York Times (NYT) contava outra história. O jornal teve acesso a registos judiciais e a outros documentos e após uma investigação, concluiu que Trump “investiu pouco do seu próprio dinheiro” nos três casinos em Atlantic City que foram à falência.

De acordo com o jornal, o actual Presidente dos EUA até “transferiu dívidas pessoais para os casinos“, acabando por arrecadar “milhões de dólares em salários, bónus e outros pagamentos”.

“O fardo dos seus fracassos recaiu sobre os investidores e outros que apostaram na sua perspicácia empresarial”, sublinhava ainda o NYT.

Esta ideia faz eco nos dias que correm, quando se noticia que os multimilionários Elon Musk, Jeff Bezos, Sergey Brin, Mark Zuckerberg e Bernard Arnault já perderam mais de metade do PIB de Portugal desde a tomada de posse de Trump.

As perdas destes cinco magnatas já ultrapassam os 209 mil milhões de dólares (cerca de 192 mil milhões de euros), valor que “representa 67% da riqueza que é produzida em Portugal todos os anos”, segundo a CNN Portugal.

As seis falências de empresas de Trump

Nos seis casos de falências que envolvem negócios de Trump, foi sempre invocado o chamado “Capítulo 11”, uma lei que permite às empresas reestruturarem ou eliminarem grande parte das suas dívidas, mantendo-se em actividade, mas sob a supervisão de um tribunal de falências.

Nestes casos, os accionistas acabam, muitas vezes, por perder grande parte do património investido.

Três das falências de Trump ocorreram em casinos em Atlantic City, cidade do estado de Nova Jérsia, durante a recessão do início da década de 1990, e após o início da Guerra do Golfo, quando os tempos económicos difíceis afectaram muitos espaços de jogo.

Mas Trump também levou à falência um hotel de Manhattan e duas empresas que detinham casinos.

Eis a lista dos negócios que correram mal…

Trump Taj Mahal (1991)

O Trump Taj Mahal foi inaugurado em Atlantic City, em 1990, como a oitava maravilha do mundo, e o maior casino do planeta! Mas um ano depois, Donald Trump accionou o referido “Capítulo 11”, pedindo protecção contra a falência.

As receitas de jogo não foram suficientes para cobrir os enormes custos de construção do espaço, ainda para mais em plena recessão económica.

Na altura, Trump teve que abdicar da sua propriedade no casino, e vendeu o seu iate e a sua companhia aérea.

O Taj Mahal continuou a funcionar, mas foi enfrentando dificuldades financeiras e fechou portas em 2016. Dois anos depois, acabou por reabrir com um novo proprietário e um novo nome: Hard Rock Hotel & Casino Atlantic City.

Trump Castle Hotel & Casino (1992)

Este hotel e casino em Atlantic City também não conseguiu gerar receitas suficientes para cobrir as dívidas avultadas e entrou em falência em 1992.

O espaço foi inaugurado em 1985, e era detido por Trump através da holding Trump Organization, a empresa que alberga a maioria dos seus empreendimentos e investimentos comerciais.

O então empresário acabou por ser obrigado a ceder metade da sua participação no projecto aos detentores de títulos de dívida, que tinham sido emitidos por empréstimos de dinheiro.

Actualmente, o casino e hotel continua a funcionar, mas sob o nome Golden Nugget, e com uma nova gerência.

Trump Plaza Hotel and Casino (1992)

Este foi o terceiro casino de Trump em Atlantic City a entrar em falência devido a dívidas e receitas insuficientes. Também entrou em falência em 1992.

Inaugurado em 1984, foi um dos casinos mais icónicos daquela cidade, incluindo um hotel com 906 quartos, um casino de mais de 8.400 metros quadrados, restaurantes e espaços de entretenimento.

Um dos maiores problemas que o espaço enfrentou foi a concorrência de outros casinos, nomeadamente do Trump Taj Mahal – portanto, Trump a concorrer contra Trump!

O Trump Plaza acabou por fechar as portas em 2014, deixando mais de mil pessoas no desemprego. No início de 2021, o edifício que acolheu o casino foi demolido.

Trump Plaza Hotel em Manhattan (1992)

O Plaza Hotel de Trump tinha mais de 550 milhões de dólares (cerca de 506 milhões de euros) em dívidas quando entrou em processo de falência em 1992.

Localizado na Quinta Avenida e com vista para o Central Park, em Manhattan, o hotel não conseguiu pagar as prestações anuais da dívida depois de Trump ter comprado o espaço por 407 milhões de dólares em 1988.

Trump teve de abdicar de uma participação de 49% na empresa para os credores, bem como do seu salário e da função que mantinhas nas operações diárias do espaço.

Actualmente, continua a funcionar, mas já não pertence a Trump.

Trump Hotels and Casino Resorts (2004)

Esta era a holding de Trump que administrava vários casinos e hotéis do então empresário, incluindo o Trump Taj Mahal. A empresa entrou em falência em 2004, após um acordo para reestruturar dívidas de 1,8 mil milhões de dólares (cerca de 1,7 mil milhões de euros).

Nesse ano, a empresa registou prejuízos da ordem dos 48 milhões de dólares, fruto da queda significativa nas receitas dos casinos de Trump.

Graças ao “Capítulo 11”, a dívida da holding passou para cerca de 600 milhões de dólares (cerca de 552 milhões de euros), poupando cerca de 102 milhões de dólares (por volta de 94 milhões de euros) anuais em juros.

Trump teve que ceder o controlo maioritário da empresa aos detentores de títulos de dívida e saiu do cargo de director executivo.

Em 2005, a holding saiu da falência com o nome de Trump Entertainment Resorts.

Trump Entertainment Resorts (2009)

Depois de ter nascido dos escombros da falida Trump Hotels and Casino Resorts, esta empresa também entrou em falência em 2009, cerca de quatro anos depois de ter “nascido”.

Esta é mais uma holding que geria os casinos e resorts de Trump, e que foi vítima também das circunstâncias económicas devido à grande crise que começou em 2008.

Os casinos de Atlantic City sofreram particularmente nesses dias de grave recessão económica mundial.

Em 2016, a empresa saiu da falência e passou a ser controlada pela Icahn Enterprises, do investidor Carl Icahn, um dos mais bem-sucedidos e influentes de Wall Street.

Trump é milionário, mas os seus negócios têm dívidas avultadas à banca

O actual Presidente dos EUA tem uma fortuna pessoal estimada em 6,1 mil milhões de dólares (cerca de 5,6 mil milhões de euros), sobretudo fruto da participação em negócios imobiliários, do licenciamento de marcas e da sua rede social Truth.

Contudo, o valor real está sempre muito dependente da volatilidade do mercado financeiro e do desempenho das suas empresas – e como sabemos, o mercado bolsista anda amargo por estes dias, e por culpa dos anúncios e recuos de Trump quanto às tarifas.

Mas, contrariamente às suas contas pessoais favoráveis, as suas empresas têm um histórico de dívidas bancárias significativas.

Em 2021, os negócios de Trump tinham uma dívida de 900 milhões de dólares (cerca de 828 milhões de euros) que “venceria nos próximos quatro anos”, como noticiou a Forbes Brasil em 2022.

Mas o magnata conseguiu renegociar a dívida e “dois dos empréstimos mais problemáticos concedidos pelo Deutsche Bank”, da ordem dos 295 milhões de dólares (cerca de 271 milhões de euros), desapareceram “dos livros”, segundo a Forbes.

Na altura, Trump terá sido obrigado a vender um hotel em Washington, que estava a dar prejuízos, de acordo com a mesma fonte.

Também nesse ano, Trump “refinanciou 125 milhões de dólares em dívidas que tinham um resort de golfe em Miami como garantia, e renegociou uma hipoteca de 100 milhões de dólares da Trump Tower“, apontava a Forbes.

Apesar dessa reestruturação de dívidas, os negócios de Trump ainda ficaram com empréstimos avultados.

A Forbes estimava, em 2022, que as dívidas rondavam mais de mil milhões de dólares (cerca de 920 milhões de euros).

Deutsche Bank cortou relações com Trump

O Deutsche Bank, o principal banco da Alemanha, foi um dos maiores credores de Trump durante muitos anos, financiando diversos dos seus projectos imobiliários, mesmo quando outras instituições financeiras evitavam trabalhar com ele devido ao seu histórico de falências e dívidas.

Mas em 2021, o Deutsche Bank encerrou o seu relacionamento com Trump, após a invasão do Capitólio realizada pelos seus apoiantes.

Nessa altura, Trump ainda devia ao banco 340 milhões de dólares (cerca de 313 milhões de euros) em empréstimos.

Em 2024, o agora Presidente dos EUA acabou condenado por um tribunal de Nova Iorque, a uma multa de 450 milhões de dólares (cerca de 414 milhões de euros) por fraude financeira, como nota o Business Insider, na versão alemã, num artigo do ano passado.

Aquele tribunal considerou que “Trump fez declarações falsas aos credores sobre os seus bens e os valores da sua empresa, a Trump Organization”, para obter os empréstimos junto do Deutsche Bank.

Não se sabe se Trump ainda deve dinheiro ao banco alemão, ou se já pagou tudo.

Susana Valente, ZAP //

3 Comments

  1. Que escândalo!!!

    Toda e qualquer pessoa que trabalhe por conta própria e que abra empresas ou faça negócios, sabe que corre todo o tipo de riscos e que em último caso, pode falir e ter que fechar essas empresas, assumindo todos os prejuízos.

    Apenas o nosso querido estado se dá ao luxo de ter prejuízos recorrentes, em tudo o que faz e não lhe dá qualquer importância, porque quando precisam, os gestores públicos (nomeados pelos partidos, não pelas suas capacidades) injectam mais dinheiro do contribuinte, para tapar o buraco que fizeram, sem qualquer consequência.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.