Trump volta a recuar nas tarifas a México e Canadá. Como se explica isto?

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Erik S. Lesser/EPA

Donald Trump à porta de restaurante McDonald’s

Donald Trump voltou a mudar de ideias, congelando a maioria das tarifas que tinha imposto ao Canadá e ao México. É a segunda vez que o Presidente dos EUA recua depois de se terem noticiado os efeitos catastróficos da medida.

As tarifas de 25% a Canadá e México ficam em stand-by até 2 de Abril no que se refere aos produtos abrangidos pelo acordo de comércio livre que o próprio Donald Trump assinou com os dois países vizinhos.

Esta decisão surge depois de vários economistas terem alertado para os efeitos catastróficos que a medida poderia ter na indústria dos EUA, com receios inclusive de uma possível recessão.

Para Canadá e México, os dois principais parceiros comerciais dos EUA, as consequências seriam igualmente graves.

Há cerca de um mês, Trump tinha também suspendido as tarifas aos dois países depois de as ter anunciado poucos dias antes.

Nesta última terça-feira de Carnaval, Trump voltou a anunciar as tarifas como certas. Mas, no dia seguinte, isentou a indústria automóvel das tarifas.

Já nesta quinta-feira, colocou todas as tarifas abrangidas pelo acordo de comércio livre EUA-Canadá-México em espera até 2 de Abril.

Ninguém sabe o que virá a seguir.

O Canadá já respondeu que vai também suspender as tarifas retaliatórias que tinha determinado aos produtos norte-americanos.

Por outro lado, Trump mantém as tarifas de 20% à China.

Trump reuniu-se com fabricantes automóveis

O Presidente dos EUA determinou a isenção das tarifas de 25% a produtos da indústria automóvel provenientes de Canadá e México depois de ter estado reunido com executivos das principais fabricantes de automóveis dos EUA – Ford, General Motors e Stellantis -, como adianta a CNN.

Estas taxas teriam um efeito determinante, e muito lesivo, para a indústria automóvel norte-americana que importa vários produtos de Canadá e México, que são essenciais para a sua cadeia de produção.

O aço e o alumínio canadianos, por exemplo, são cruciais para o fabrico dos veículos, e os mexicanos exportam para os EUA motores, transmissões e peças electrónicas, além de veículos montados.

O acordo de comércio livre assinado entre EUA, Canadá e México no primeiro mandato de Donald Trump na Casa Branca, incluía disposições específicas sobre o aço e o alumínio. A isenção de taxas aplicava-se apenas aos veículos fabricados que contivessem, pelo menos, 70% de peças originárias dos três países.

A nova suspensão de Trump às tarifas abrange também estes dois materiais determinantes para a indústria dos três países.

Mercados não aguentam este vaivém

A incerteza é o pior ingrediente para os mercados financeiros que dão sinais de alarme. Foi bem visível, nesta semana, verificar a queda no mercado de acções dos EUA, em directo, na televisão, enquanto Trump voltava a anunciar as tarifas.

As perdas foram “severas” para muitos investidores, destaca a CNN, notando que o Presidente dos EUA costuma estar particularmente atento ao mercado financeiro.

O novo recuo nas tarifas poderia ser um conforto, mas, na verdade, não se sabe até quando vai durar a suspensão.

Os economistas alertaram que as tarifas poderiam agravar a inflação, desacelerar o consumo e afectar negativamente o crescimento económico. Mas também sublinham que as dúvidas semeadas pelo Presidente dos EUA minam a confiança de consumidores e empresas.

“Como se pode tomar decisões sobre onde localizar uma fábrica de automóveis entre os Estados Unidos e o Canadá agora?”, questiona o estrategista global Bill Sterling da empresa de investimentos GW&K em Boston (EUA), em declarações à CNN.

Como explicar o comportamento de Trump?

Perante estes avanços e recuos do Presidente do país mais poderoso do mundo, é legítimo perguntar se Trump saberá o que está a fazer.

“Parece estranho que o presidente não tenha percebido o impacto das suas políticas antes de as impor”, “ou que os CEOs das três grandes gigantes automobilísticas tivessem que ligar para explicar que estava a colocar em risco uma indústria americana icónica”, nota o jornalista Stephen Collinson numa análise na CNN.

“Talvez o amor do Presidente por tarifas “bonitas” o tenha cegado das suas consequências”, admite Collins. “Ou a emoção teatral de exercer o poder reservado ao Presidente é tão sedutora que tudo isto era para ser nada mais do que uma farsa?”, questiona ainda.

O que é evidente é que esta actuação de Trump “sugere confusão em vez da força” que ele pretende sempre transmitir, acrescenta Collins. “Parece que ele recuou quando o Canadá e o México se recusaram a recuar”, acrescenta.

Agora, é esperar pelo dia 2 de Abril para mais “um grande dia para a América”, como tantas vezes tem prometido Trump.

Susana Valente, ZAP //

1 Comment

  1. Parece que para já as tarifas ao Canadá são para manter. Digo para já, porque não se sabe se a primeira coca-cola do dia o faça mudar de ideias.

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