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Tesla massacrada na Europa. A culpa é do “tóxico” Elon Musk?

ChinaImages/DepositPhotos

O CEO da Tesla, Elon Musk

A Europa está a castigar o bilionário pelo seu “flirt com a extrema-direita? Vendas da Tesla caíram 45%, ações caíram 8% esta terça-feira e valor de mercado desceu para menos de um bilião de dólares.

A Tesla parece estar em apuros e a sofrer as consequências da ira anti-Elon Musk. As ações da empresa do bilionário registaram uma queda acima dos 9% na terça-feira, o que deixou o seu valor de mercado abaixo da marca de um bilião de dólares pela primeira vez desde novembro.

Em janeiro, as vendas da fabricante automóvel na Europa caíram 45%, o que se torna ainda mais preocupante olhando para o mercado global de veículos elétricos (VE) na Europa, que cresceu 37% no mesmo período, de acordo com a Reuters. A Tesla vendeu 7.517 unidades no primeiro mês de 2025, face aos 15.130 veículos vendidos em janeiro do ano passado.

Alguns analistas culpam a presença cada vez mais evidente de Musk na política pela queda — não só nos EUA, onde serve o presidente Donald Trump como conselheiro, mas também na política europeia.

Alguns compradores podem mesmo a estar a agir (ou a não comprar) por uma “questão de princípios”, diz Russ Mould, diretor de investimentos da AJ Bell, à BBC.

A ligação do bilionário à extrema-direita europeia pode estar na origem de um boicote que ajuda a justificar o estrondo na bolsa. No Reino Unido, Musk apoia o ativista de extrema-direita e crítico do primeiro-ministro, Stephen Yaxley-Lennon, condenado em outubro a 18 meses de prisão por ter proferido afirmações difamatórias sobre um refugiado sírio; na Alemanha, apoia abertamente o partido de extrema-direita AfD, que ficou em segundo lugar nas eleições legislativas da semana passada.

Na Alemanha, as vendas da Tesla caíram 59% em janeiro, atingindo o valor mais baixo desde julho de 2021, segundo a Bloomberg.

Apesar de tudo, Mould aponta o aumento da concorrência como o principal fator para a queda estrondosa da empresa no mercado europeu.

Na verdade, há um “número cumulativo de coisas que estão a acumular-se num efeito dominó”, acredita Peter Bardenfleth-Hansen, antigo diretor sénior da Tesla na divisão da Europa, Médio Oriente e Ásia.

“Não há dúvida de que o seu flirt com a direita na política e o facto de aparecer na televisão com uma motosserra não estão propriamente a ajudar a sua imagem”, disse na BBC Radio: “pode estar a conseguir uma base de fãs maior dentro de um tipo específico de clientela, mas não são eles que estão a comprar Teslas. Não são eles que estão a investir dinheiro na sua empresa”.

Após uma queda global nas entregas, no ano passado, os investidores estão cada vez mais preocupados e pressionam o magnata para que introduza modelos mais acessíveis e acelere o lançamento de veículos autónomos. Acreditam que Musk está dividido e a deixar a Tesla para segundo plano, atrás do seu papel no novo governo federal de Trump.

“Ele é um operador muito prático e, se passa tanto tempo num gabinete na Casa Branca, quanto tempo passa a gerir todas as suas outras empresas, incluindo a que é cotada na bolsa?”, disse Art Hogan, estratega-chefe de mercado da B. Riley Wealth, à Reuters, sobre o homem que também dirige a SpaceX, além de outras empresas privadas.

O investimento excessivo em Inteligência Artificial (IA) também parece estar a pressionar as ações da empresa de EVs. Os analistas estão a acompanhar de perto a evolução da IA, especialmente após empresas como a Microsoft e a Meta começarem a ser alvo de maior escrutínio antes do próximo relatório de resultados da Nvidia.

Apesar da queda, a avaliação da Tesla ainda ultrapassa a de grandes fabricantes de automóveis como a General Motors, Ford, Volkswagen, Toyota, Hyundai e BMW juntos. Nos últimos 12 meses, as ações da Tesla aumentaram 51%, embora tenham caído 24% no acumulado do ano.

Mas em 2025, “o maior desafio da Tesla não é a tecnologia — é a perceção”, diz à Bloomberg Jacob Falkencrone, diretor global de estratégia de investimento do banco Saxo: “a bagagem política de Elon Musk está agora a pesar nas vendas, na lealdade à marca e na confiança dos investidores.”

Tomás Guimarães, ZAP //

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