Unidos na herança de Thatcher, divididos na de Boris. Truss coleciona apoios de peso e é favorita contra Sunak

Jeff Overs / EPA

Truss já conta com o apoio de Penny Mordaunt, Nadhim Zahawi, Ben Wallace e Sajid Javid juntou-se agora à sua campanha. Tanto Truss como Sunak dizem ser herdeiros de Thatcher, mas Sunak afasta-se mais do legado de Boris Johnson.

É uma corrida para se decidir o futuro do Partido Conservador, mas o passado é que tem marcado a campanha.

Tanto Liz Truss como Rishi Sunak se têm apresentado aos eleitores como “herdeiros” do legado da Margaret Thatcher, especialmente Truss, cujas comparações à antiga primeira-ministra já lhe valeram a alcunha “Thatcher com Instagram“.

Já a associação a Boris Johnson parece ser menos desejada pelos candidatos, que serviram no seu Governo como Ministro das Finanças e como Ministra dos Negócios Estrangeiros. Recorde-se que a demissão de Sunak foi o catalisador da debandada no Governo britânico que levou à queda de Boris Johnson.

Por causa disto, num recente comício em Leeds na semana passada, um militante acusou o candidato de ter “apunhalado nas costas” Boris Johnson.

Sunak “é um bom vendedor e tem muitos atributos fortes, mas muitas pessoas continuam a apoiar Boris Johnson, que implementou medidas consistentemente em tempos difíceis”, e “infelizmente pensam que você o apunhalou pelas costas”, disse o militante, num dos momentos mais marcantes dos frente-a-frente entre os dois candidatos à sucessão​​​​​​​.

O ex-Ministro respondeu que “tem orgulho neste governo”, mas que “pessoalmente chegou a um ponto” em que se demitiu por divergências sobre conduta e como enfrentar com a crise económica.

Apesar da sua popularidade ter tido enormes tombos devido aos seus sucessivos escândalos, Boris Johnson continua a ter uma base leal nos Conservadores e até foi criada uma petição com mais de 10 mil assinaturas a pedir que o ainda primeiro-ministro pudesse concorrer contra Sunak e Truss para continuar na liderança.

Truss tem aproveitado a sua maior proximidade a Boris durante a campanha, lembrando que não se demitiu nem o traiu. “Eu sempre fui admiradora de Boris Johnson, acho que ele fez um trabalho fantástico como primeiro-ministro. Tive orgulho em servir como membro leal do seu Governo”, afirmou.

Se Rishi Sunak não pode invocar a proximidade a Boris Johnson, pelo menos tem tentado insistir nas credenciais de “verdadeiro conservador” e herdeiro de Margaret Thatcher, primeira-ministra entre 1979 e 1990.

“Os meus valores são thatcherianos. Acredito no trabalho árduo, na família e na integridade. Sou um thatcheriano, concorro como um thatcheriano e irei governar como um thatcheriano”, alegou, num artigo para o jornal Daily Telegraph.

O antigo ministro das Finanças considera que é isso que está a fazer ao resistir a cortes fiscais para aliviar o impacto da inflação recorde de 9,4% nas pessoas e empresas no Reino Unido, para se concentrar em reduzir o elevado endividamento devido às medidas tomadas durante a pandemia covid-19.

O aumento da contribuição para a segurança social imposto em abril e a subida planeada do imposto sobre as empresas visa “pagar a conta”, plano que considera o mais “responsável” e mais “conservador”.

Sunak também visitou a antiga circunscrição de Margaret Thatcher — Grantham, no centro de Inglaterra — ​​​​​​​para promover o “thatcherismo de bom senso”.

Liz Truss também tem invocado o espírito da “dama de ferro”, e não apenas por ser mulher. O que admira em Thatcher, disse numa entrevista ao Daily Mail, é que ela “desafiou a ortodoxia”, algo que pretende imitar com as promessas de cortar impostos à custa de maior endividamento público para aliviar o impacto da crise do aumento de custo de vida e estimular a economia.

As propostas, que poderão custar mais de 30 mil milhões de libras (36 mil milhões de euros) foram recebidas com desconfiança por especialistas, que receiam que contribuam para um aumento da inflação.

Em Fevereiro, Truss também foi fotografada em Moscovo com um casaco e chapéu de pele semelhantes aos que a antiga primeira-ministra usou na mesma cidade em 1987, tal como a imagem em cima de um tanque militar em novembro do ano passado remete para uma de Thatcher em 1986.

Também não escapou aos espectadores mais atentos que o estilo da blusa com laço no colarinho de Truss no primeiro debate televisivo desta eleição era idêntico ao que Thatcher usou em 1979.

Sajid Javid apoia Truss

Sajid Javid, antigo ministro da Saúde e Segurança Social britânico e figura importante do Governo de Boris Johnson e cuja demissão também originou a onda de saídas do executivo, declarou esta quarta-feira que apoia Liz Truss na corrrida.

Sajid Javid argumentou que “a redução de impostos é essencial neste momento” para evitar um “modelo social-democrata” com o qual o Reino Unido “correria o risco de se tornar um país de rendimento médio até 2030”.

A ministro dos Negócios Estrangeiros tem “a vontade de mudar o ‘status quo‘” e impedir que o país se mova “sonâmbulo” para esse modelo, declarou Javid ao jornal The Times.

Truss já contava com outros apoios de peso, como a ex-candidata Penny Mordaunt, que ficou em terceiro na corrida a Downing Street, o actual Ministro das Finanças, Nadhim Zahawi, e o Ministro da Defesa, Ben Wallace.

O novo impulso para a campanha da ministra junta-se hoje a uma sondagem que sugere que 58% dos militantes a preferem como nova líder e sucessora de Johson em Downing Street, contra 26% que preferem Sunak e 12% que estão indecisos, de acordo com a Sky News.

Os votos postais dos cerca de 180 000 militantes conservadores deverão começar a ser recebidos na próxima semana, esperando-se que os resultados sejam conhecidos a 5 de Setembro. Os candidatos vão debater novamente esta noite na Sky News.

Adriana Peixoto, ZAP // Lusa

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