“Dishy Rishi” e a “nova Dama de Ferro” vão duelar pela sucessão a Boris. Eis o que separa Sunak e Truss

ZAP // Simon Dawson, Andrew Parsons / No 10 Downing Street

Rishi Sunak e Liz Truss são os dois candidatos finalistas na corrida à liderança ao Partido Conservador. O ZAP faz uma viagem pelo percurso de ambos e explica as propostas de cada um para o Reino Unido.

O favoritismo confirmou-se e, depois de cinco rondas de votação pelos deputados, os dois finalistas na corrida à liderança do Partido Conservador são mesmo Rishi Sunak, ex-Ministro das Finanças, e Liz Truss, actual Ministra dos Negócios Estrangeiros.

Os candidatos têm agora até 5 de Setembro para convencer os militantes Conservadores de que são a melhor escolha para chefiar o partido e suceder a Boris Johnson em Downing Street.

O percurso de Sunak

Comecemos por Sunak, também conhecido pela alcunha “Dishy Rishi” (Dishy significa homem atraente na gíria britânica), que venceu todas as rondas de votação até agora. Tem 42 anos e é formado em filosofia e política na Universidade de Oxford, tendo também um MBA em Stanford. Antes de ingressar no Governo, foi um analista no banco de investimento Goldman Sachs.

Assumiu a pasta das Finanças em 2020, tendo-se rapidamente tornado um dos Ministros mais populares do Governo no início da pandemia, à boleia dos apoios públicos dados às empresas para fazer frente ao confinamento.

Mas o seu seu estado de graça com os britânicos já viu melhores dias, devido à sua resposta considerada insuficiente à inflação e aos escândalos em torno da fortuna da sua família e do estatuto não-domiciliário que a sua esposa — que é filha do bilionário indiano Narayana Murthy — tem no Reino Unido, que lhe permite não pagar impostos sobre os rendimentos obtidos com negócios no estrangeiro.

A esposa de Sunak tem também negócios na Rússia, o que levou a que o Ministro fosse acusado de ser hipócrita por pedir aos empresários britânicos que infligissem “a dor económica máxima” a Putin enquanto a sua família enriquecia graças às operações no território russo.

Estas polémicas têm manchado a imagem de Sunak, com muitos eleitores a verem-no como uma figura elitista. No blog Conservative Home, que faz sondagens aos militantes do partido sobre os principais rostos dos Tories, Sunak está agora 2.7 pontos no negativo.

O percurso de Truss

A adversária de Sunak é a actual Ministra dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, com 46 anos. Em comum com Sunak tem o percurso académico, já que estudou filosofia, política e economia também em Oxford.

Antes de se aventurar na política, foi vice-directora do thintank de direita Reform. Em 2010 foi eleita deputada por South West Norfolk e já teve vários cargos no Governo  desde Ministra do Comércio a Ministra da Igualdade e foi também a primeira mulher a ser Ministra da Justiça no Reino Unido, ainda no executivo de Theresa May.

O seu percurso, no entanto, também não é sem espinhas, já que Truss começou por ser uma Liberal-Democrata e defendia a abolição da monarquia antes de entrar nos Conservadores. A sua reputação também foi abalada por um escândalo de adultério quando ainda era deputada.

Apesar de ter pais esquerdistas, Truss é uma admiradora ardente de Margaret Thatcher, tendo a sua postura dura e inspiração na ex-primeira-ministra já lhe valendo a alcunha “nova Dama de Ferro” ou “Thatcher com Instagram“. É também muitas vezes referida como “granada de mão humana”.

A Ministra também é um dos membros mais populares do executivo de acordo com o  Conservative Home, com uma aprovação de 49,4 pontos, estando apenas atrás de Ben Wallace, Ministro da Defesa, e Nadhim Zahawi, que assumiu a pasta das Finanças após a saída de Rishi Sunak ter despoletado a debandada no Governo.

O que os une e separa

No plano económico, Sunak quer manter as subidas de impostos recentes que foram criadas para financiar os cuidados de saúde, numa tentativa de equilibrar as contas públicas depois do rombo na despesa que a pandemia causou.

O candidato acredita que esta postura é essencial para responder à sua prioridade, que é controlar a inflação, tendo acusado Truss de ter propostas fiscais saídas “de um conto de fadas” e de promover o “socialismo”.

Truss, por sua vez, acredita que Sunak vai deixar o país à beira de uma recessão e prometeu “começar a cortar os impostos no primeiro dia“, incluindo os impostos pagos pelas empresas. A candidata quer rever o mandado do Banco de Inglaterra que lhe permite determinar as taxas de juro, uma proposta que já lhe valeu críticas.

Relativamente ao Brexit, apesar de ter assumido um papel importante nas negociações com a União Europeia quando foi promovida ao cargo de Ministra dos Negócios Estrangeiros, Truss foi a favor da permanência na altura do referendo. A Ministra tem sido muito criticada por defender uma nova lei que unilateralmente anularia o acordo com a UE relativo à fronteira na Irlanda do Norte.

Já Sunak sempre foi a favor da saída da União Europeia. O candidato concorda com Truss no plano para se mexer no protocolo da Irlanda do Norte.

Quando o tema é imigração, tanto Truss como Sunak são a favor da polémica proposta do Governo britânico, que quer enviar os migrantes que chegam ao seu território através do Canal da Mancha para o Ruanda, sendo que Truss quer até expandir a política para outros países, como a Turquia.

Fontes anónimas já revelaram aos jornais que, apesar do seu apoio em público, Sunak se opôs à ideia em privado devido ao seu custo.

Na Defesa, Sunak considera que o requisito da NATO (que exige que os estados-membros invistam 2% do PIB na Defesa) é o “chão e não o tecto” e quer que o investimento militar chegue aos 2,5% do PIB ao longo do tempo. Truss é ainda mais ambiciosa e revela a data específica do seu objectivo, já que quer que o orçamento da Defesa chegue aos 3% do PIB em 2030.

No combate às alterações climáticas, Sunak promete cumprir as metas britânicas para zerar as emissões líquidas de gases com efeito de estufa até 2050, quer manter as taxas que foram criadas para o apoio às energias renováveis e compromete-se a deixar o país no caminho para a independência energética até 2045.

Truss, por sua vez, também se compromete com os objectivos até 2050, mas quer eliminar as taxas que apoiam o sector renovável.

Adriana Peixoto, ZAP //

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