O opositor russo surgiu pela primeira vez em público, esta quinta-feira, depois de ter estado 24 dias em greve de fome para denunciar as condições da sua detenção.
De acordo com a cadeia televisiva CNN, Alexei Navalny apareceu em tribunal esta quinta-feira, através de videoconferência, tendo ficado a saber que perdeu o recurso contra a decisão que o acusou por difamação de um veterano da II Guerra Mundial. O opositor foi condenado a pagar uma multa de 850 mil rublos, cerca de 9.500 euros.
Foi a primeira vez que o opositor russo reapareceu em público, depois de ter posto termo a uma greve de fome que durou 24 dias. Visivelmente mais magro, Navalny falou com a sua mulher, Yulia Navalnya, que estava presente no tribunal, dando-lhe detalhes do seu peso.
“Sou um esqueleto horrível. A última vez que pesei 72 quilos estava provavelmente no sétimo ano”, declarou. O seu advogado contou que, em janeiro, quando voltou da Alemanha, Navalny pesava 94 quilos.
Na sua declaração final, antes de a juíza sair para tomar uma decisão sobre o recurso, Navalny fez duras críticas ao Presidente russo, Vladimir Putin, comparando-o ao rei do conto infantil “A Roupa Nova do Rei”, de Hans Christian Andersen.
“Gostava de dizer que o vosso rei está nu e mais do que um pequeno rapaz está a fazer eco disso. Agora, são milhões de pessoas que já o estão a fazer. É bastante óbvio. 20 anos de uma governação incompetente chegaram a isto: há uma coroa a escorregar das suas orelhas”, declarou, citado pela cadeia norte-americana.
“O vosso rei despido quer governar até ao fim, não se importa com o país, está agarrado ao poder e quer governar indefinidamente”, acrescentou.
O principal opositor do Kremlin também apontou o dedo aos procuradores presentes no tribunal, chamando-os “traidores”.
“Vocês são todos traidores. Vocês e o rei nu estão a implementar um plano para tomar a Rússia e transformar os russos em escravos. A sua riqueza será-lhes tirada, os russos serão privados de qualquer perspetiva, vocês implementaram esse plano.”
Segundo a CNN, a sua advogada Olga Mikhailova anunciou que vão recorrer desta decisão para o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, “dado o número de violações” na forma como o caso foi conduzido.
Esta audição no tribunal também acontece depois de os procuradores terem suspendido as atividades da sua organização política nacional, antecipando uma decisão judicial que deverá declarar o movimento como “extremista” e que poderá implicar pesadas penas de prisão para os seus membros.
Esta quinta-feira, um dos principais responsáveis do movimento, Leonid Volkov, disse que a organização foi “oficialmente dissolvida”, mas que várias delegações continuariam a sua atividade de forma independente.
“Manter a rede de sedes do trabalho de Navalny na sua forma atual é impossível: levaria imediatamente a penas de prisão para os que trabalham nas sedes, os que colaboram com eles e os que os ajudam”, afirmou Volkov num vídeo publicado no YouTube, citado pelo jornal Público.
Navalny, de 44 anos, foi preso em janeiro ao regressar da Alemanha, onde esteve cinco meses em recuperação depois de um alegado envenenamento por um agente neurotóxico. A sua prisão desencadeou uma vaga de protestos em toda a Rússia, na maior demonstração de desafio ao regime russo dos últimos anos.