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“Sentimo-nos em Itália”. Médicos do Tâmega e Sousa contradizem hospital e reiteram situação de rutura

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Giuseppe Lami / EPA

Médicos do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) ouvidos pelo semanário Expresso reiteram que os hospitais que integram o centro, o de Penafiel e o de Amarante, se encontram perto da rutura, contradizendo a administração.

A Ordem dos Enfermeiros Norte denunciou esta quarta-feira a “situação insustentável” do Hospital Padre Américo, em Penafiel, apontando que às 22:00 de segunda-feira a área respiratória do serviço de urgência tinha 115 doentes, 29 dos quais com covid-19.

“Isto para quatro enfermeiros. O conselho de administração tenta gerir, conseguiu um reforço de enfermeiros a meio da noite, mas não é humanamente possível (…). A tutela tem de tomar uma decisão importantíssima e olhar para este hospital, o mais preocupante a norte, de forma incisiva”, disse à agência Lusa João Paulo Carvalho, presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Enfermeiros.

Ao Expresso, Carlos Alberto Silva, presidente do Conselho de Administração do CHTS, reconheceu “uma afluência muito superior aos dias de pico da gripe”, mas disse que “o anúncio do caos é absolutamente exagerado”.

Não podemos dizer que estamos no limite porque vamos reinventando soluções, como sempre fizemos. Se há um mês me perguntasse onde é que eu ia colocar 100 doentes, não saberia, 140 muito menos, e a verdade é que eles estão cá”.

No entanto, médicos ouvidos pelo mesmo jornal falam de uma situação de rutura, comparando-na àquela que viveram os hospitais italianos na primeira vaga da pandemia.

“Um serviço que não tem onde internar doentes, que todos os dias envia quase 20 doentes para outros hospitais próximos, cujos cuidados intensivos não servem sequer 5% do número de internados… Se isto não é rotura, o que é rotura? As paredes caírem sobre nós?”, questiona-se ainda a especialista em medicina interna Ana Luísa Reis. “Quando não se diz que é preciso ajuda, temos de ligar aos outros hospitais a suplicar por vagas deles que eles também precisam, porque para eles o nosso hospital não está em rotura”.

“Sentimo-nos em Itália”

“Temos a urgência lotada, os enfermeiros da urgência, que deveriam estar dedicados a receber novos doentes, estão ocupados a fazer funções de internamento. Até os corredores centrais da urgência estão cheios com doentes covid. Não cabe na cabeça de ninguém o que está a acontecer, só faz lembrar Itália”, lamenta Pedro Lopes, médico e ex-coordenador de equipa. Ana Luísa Reis concorda: “Sentimo-nos em Itália mas sem que seja reconhecido isso. É como se as paredes não permitissem que se visse para dentro”.

Com unidades em Penafiel e em Amarante, em causa está um hospital do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) que presta apoio a cerca de 520 mil pessoas de uma região que inclui Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras, concelhos onde o Conselho de Ministros decretou dever de permanência no domicílio.

Nesta quarta-feira, o jornal Público avançou que o Serviço Nacional de Saúde já está a recorrer aos privados por não conseguir dar resposta a todos os doentes, detalhando que o o Hospital Escola Fernando Pessoa, em Gondomar, recebeu pelo menos dez doentes com covid-19 transferidos do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa.

Portugal contabiliza esta quarta-feira mais 24 mortos relacionados com a covid-19 e 3.960 novos casos confirmados de infeção, atingindo um novo máximo diário, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS).

De acordo com o boletim divulgado, Portugal já contabilizou 128.392 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus e 2.395 óbitos. Das 24 mortes registadas, 11 ocorreram na região Norte, oito em Lisboa e Vale do Tejo, quatro no Centro e uma no Alentejo.

Em relação aos internamentos, o número de pessoas hospitalizadas continua a subir desde há mais de uma semana, sendo agora 1.794 pessoas, mais 47 do que na terça-feira, e destas 262 (mais nove) estão em Unidades de Cuidados Intensivos.

ZAP //

4 Comments

  1. alguem esta a mentir!
    os medicos dizem que esta em ruptura a DGS/Gpverno diz que está controlado.
    os hospitais privados recusam-se a receber doentes covid!
    que trapalhada é esta?

  2. A geringonça só podia dar em trapalhada. Estavam á espera de quê? Os politicos alguma vez foram sinceros, corretos, cumpridores p/ c/ os contribuintes? Nunca… eles cozinham as situações conforme lhes convém.
    Amigos p/ o ano temos eleições poe isso convém passar a imagem que está tudo controlado, quando Não está.
    Só acredita quem quer ser enganado.

  3. Pior serviço de urgência que alguma vez fui e antes do COVID. Depois de ir de ambulância e estar 3 horas à espera com suspeita de ataque cardiaco, as enfermeiras ainda me disseram que se eu tivesse dores não reclamava, pedi para me levarem para o privado e felizmente foi só um ataque forte de pânico.
    e já ouvi cada história. Ex. de até irem de helicóptero e estarem 2 a 3 horas no corredor à espera até familiares exigirem a mudança para o são joão e essa pessoa só ficou 3 meses em coma em parte por causa disso, dito pela pessoa em questão.

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