Rússia luta para conter ofensiva ucraniana sem precedentes no seu território

Russian Defence Ministry / EPA

Comboio militar russo entrega equipamento às forças em combate na região de Kursk, 10 de agosto de 2024

As autoridades russas das regiões de Kursk e Belgorod ordenaram esta segunda-feira a evacuação das zonas próximas da fronteira com a Ucrânia, à medida que as forças de Kiev avançavam ainda mais em território russo — o maior ataque de um Exército estrangeiro desde a II Guerra Mundial.

Mais de 76.000 pessoas foram “temporariamente deslocadas” para locais seguros na região de Kursk, desde que as forças ucranianas atravessaram a fronteira, no início da semana passada, numa incursão sem precedentes em território russo.

O Ministério da Defesa da Rússia afirmou anteriormente ter repelido com êxito a tentativa da Ucrânia de entrar no distrito de Belovsky.

Entretanto, segundo o The Moscow Times, na região vizinha de Belgorod, o governador Vyacheslav Gladkov ordenou a evacuação do distrito de Krasnoyaruzhsky, situado diretamente a sul do distrito de Belovsky.

No interesse da saúde e segurança públicas, estamos a começar a transferir as pessoas que vivem em Krasnoyaruzhsky para locais mais seguros”, disse Gladkov num vídeo publicado no Telegram.

A Ucrânia lançou na semana passada uma surpreendente operação em larga escala na província russoa de Kursk, na fronteira, dois anos e meio após o início da invasão da Ucrânia e depois de meses de recuo perante as forças russas na frente leste.

A ofensiva ucraniana, que provocou a fuga de dezenas de milhares de pessoas, é o maior ataque de um Exército estrangeiro em território russo desde a Segunda Guerra Mundial, salienta a AFP.

A operação pretende “desestabilizar” Moscovo e dispersar as forças mobilizadas na invasão da Ucrânia, afirmou no domingo uma fonte dos serviços de segurança de Kiev à agência de notícias francesa.

A ofensiva pareceu ter apanhado desprevenido o Exército russo, que no domingo reconheceu que a Ucrânia entrou profundamente no seu território, ao afirmar, em comunicado, que tinha impedido “tentativas de avanço” em Tolpino, Zhuravli e Obshchi Kolodez, três cidades localizadas cerca de 30 km da fronteira com a ex-república soviética.

Os avanços foram contidos por bombardeios aéreos, drones e artilharia, assim como pelo envio de contingentes do agrupamento “norte”, destacados na província ucraniana de Kharkiv, segundo a mesma fonte.

“O objetivo é deslocar as posições do inimigo, infligir o máximo de perdas, desestabilizar a situação na Rússia – porque eles são incapazes de proteger as suas próprias fronteiras – e transferir a guerra para o território russo”, disse um funcionário do serviço de Segurança ucraniano.

O funcionário, que prestou declarações sob condição de anonimato, assegurou que “milhares” de soldados ucranianos participam na operação.

O Ministério da Defesa da Rússia afirmou nesta segunda-feira que seus sistemas de defesa aérea destruíram 18 drones ucranianos, 11 deles sobre a região de Kursk.

Que descubram o que é a guerra

O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, admitiu pela primeira vez no sábado o envolvimento de seu país na incursão na Rússia, afirmando que a operação visa “deslocar a guerra para o território do agressor”.

Dá medo ter helicópteros a sobrevoar a nossa cabeça o tempo todo. Quando foi possível ir embora, parti”, explicou à AFP uma russa, de nome Marina, que chegou este domingo de comboio a Moscovo.

Num centro para deslocados em Sumy, Mykola, um aposentado ucraniano de 70 anos, que deixou a aldeia natal, Khotyn, a cerca de 26 km da fronteira com a Rússia, contou também à agência de notícias francesa este domingo que a ofensiva em território russo lhe deu uma dose de ânimo.

Deixemos que descubram o que é a guerra. Não entendem o que é a guerra. Deixemos que provem dela”, afirma Mykola.

Segundo analistas militares citados pela AFP, Kiev iniciou provavelmente o ataque para aliviar a pressão sobre suas tropas, superadas em número e com escassez de armas, em outras partes da frente de batalha.

Mas, para já, a incursão não fragilizou de forma significativa a ofensiva russa no leste da Ucrânia, onde Moscovo ganha terreno há meses, informou o alto funcionário de segurança ucraniano — e, admitem responsáveis ucranianos, mais cedo o mais tarde as forças russas vão deter as tropas ucranianas.

A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022 e, desde então, mantém uma ofensiva implacável, ocupando áreas do lese e do sul do país, com ataques diários de artilharia, mísseis e drones contra cidades ucranianas.

O ataque a Kursk foi a maior e mais bem-sucedida ofensiva transfronteiriça de Kiev até agora.

ZAP //

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