Crianças russas são “disciplinadas” em campos de férias na Coreia do Norte

Destruir a Casa Branca e deixar os líderes a brilhar. Quer saber como são os campos de férias na Coreia do Norte? É só ouvir as crianças russas.

Piscina, campo de tiro com arco, praia, aquário e um parque aquático.

O Acampamento Internacional para Crianças de Songdowon está preparado para receber, já no final deste mês, o primeiro grupo de crianças russas do verão.

Estas crianças serão obrigadas a fazer exercício físico e a… polir estátuas, cedo pela manhã, dos líderes da Coreia do Norte, como a do fundador do país Kim II Sung, segundo relatos de jovens que já frequentaram o campo de férias de verão, citados pelo Business Insider.

Há pais russos a mostrarem preocupação nas redes sociais com a nova medida, que prevê que um número não confirmado de crianças sejam enviadas para Songdowon em finais deste mês de julho para uma semana inteira de “férias”.

“Disciplinar” as crianças

A notícia foi avançada à agência estatal russa RIA Novosti pelo líder da organização juvenil Movements of The First, fundada logo após a invasão da Ucrânia.

As condições são “excelentes” e o campo vai “ajudar a disciplinar” os mais jovens, disse Grigory Gurov, de acordo com uma publicação no Telegram do canal russo.

O campo será o equivalente ao Artek, um centro juvenil na Crimeia — que foi uma organização comunista para crianças durante a era soviética. O objetivo do campo é “ajudar a Coreia do Norte a desenvolver relações com países estrangeiros“, lê-se no website da Songdowon.

Destruir a Casa Branca e lavar os líderes

A semana abre logo com atividades de propaganda: além de limparem estátuas dos líderes, as crianças são forçadas a cantar canções norte-coreanas depois de recebem folhas com letras das canções traduzidas para russo. Tudo isso enquanto são constantemente supervisionadas.

Yuri, natural de São Petersburgo, foi lá passar férias aos 15 anos. Pagou 300 dólares (cerca de 277 euros) por 15 dias em Songdowon com tudo incluído, desde alimentação ao alojamento e viagens de ida e volta.

“Quando chegámos a Songdowon, o pessoal foi muito acolhedor”, contou ao Business Insider: “chegaram cerca de cinco autocarros com crianças” de Laos, Nigéria, Tanzânia e China. Toda a experiência foi “estranha”.

“Tínhamos de limpar as estátuas dos antigos líderes da Coreia do Norte. Uma manhã, acordámos às 6 da manhã para limpar os monumentos de Kim Il Sung e Kim Jong Il”, recorda.

Yuri mal viu as crianças norte-coreanas. “Estavam bastante segregadas de nós e só as encontrámos uma vez no nosso último dia”, confessa.

A “lavagem cerebral” não passou despercebida. “Jogámos um jogo de computador em que a personagem, um hamster num tanque, tinha de destruir a Casa Branca”, recorda o jovem russo, que também se queixa da qualidade da comida.

“Era muito fácil comprar vodka e cigarros”

Yuri contou ainda que os responsáveis norte-coreanos “estavam sempre a empurrar-nos para os supermercados” para que gastassem algum dinheiro: “era muito fácil comprar vodka e cigarros”.

“Alguns miúdos do nosso grupo, com apenas 12 anos, compraram vodka de arroz norte-coreana, trouxeram-na para o campo e ficaram extremamente bêbados nas primeiras noites”, recordou.

A decisão de enviar as crianças para a Coreia do Norte resulta do mais recente pacto estratégico assinado entre os dois países, que deixa claro, entre outras medidas, que os dois países prometem defender-se mutuamente caso um seja atacado.

Vietname e China, aliados próximos do Kremlin, serão destinos futuros das crianças russas e os turistas russos também são convidados a passar férias nas praias norte-coreanas durante este verão.

Esta é mais uma prova dos laços cada vez mais apertados entre os dois países. Enquanto Kim Jong-un dá armas a Putin, recebe de volta tecnologia preciosa — e carros.