Depois de um dia negro para o CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos decidiu não apresentar a demissão – pelo menos, para já. O líder centrista aceitou o desafio de Adolfo Mesquita Nunes e vai convocar um Conselho Nacional.
Na noite desta quinta-feira, durante uma reunião da Comissão Política Nacional do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos transmitiu que vai convocar um Conselho Nacional, refletir quanto à realização do Congresso Extraordinário e que só sairá quando entender.
De acordo com o Observador, o líder centrista defendeu a sua liderança, criticou os que o criticam e não pareceu querer abandonar a presidência do partido.
O desafio de Adolfo Mesquita Nunes, lançado esta terça-feira, foi aceite: Rodrigues dos Santos vai convocar um Conselho Nacional para discutir o tema, mas, segundo o centrista, “não se prevê que haja uma antecipação do calendário”. “No final de janeiro de 2022 faremos um balanço do nosso balanço e tiraremos as nossas conclusões.”
O diário adianta que, na intervenção inicial, Francisco Rodrigues dos Santos sublinhou que “não aconteceu nenhuma fatalidade ao nosso partido para se interromper o mandato”.
Algumas fontes avançaram ao Observador que a reunião, que decorreu em videoconferência, foi “muito dura”, com muitas críticas àqueles que tinham como objetivo organizar “golpadas” contra a direção no momento certo.
Também Francisco Camelo de Almeida, irmão de Raúl Almeida (que pediu a demissão esta quarta-feira à noite), falou num “boicote completo ao presidente do partido, referindo-se aos artigos de Adolfo Mesquita Nunes e João Gonçalves Pereira, deputado e líder distrital do CDS/Lisboa, e às intervenções de João Almeida e de Nuno Melo.
“Temos de afastar esta gente ou colocá-los no devido lugar”, vaticinou.
Houve vários membros da Comissão Política Nacional do CDS que criticaram a realização de um congresso numa altura sensível quer em termos sanitários, quer em termos políticos, já que se aproximam as eleições autárquicas que poderão ser decisivas para a sobrevivência do partido.
Nuno Melo: “Deixou de ter condições”
Em entrevista à TVI24 na quinta-feira à noite, Nuno melo defendeu que Francisco Rodrigues dos Santos “deixou de ter as condições” para continuar a liderar o partido e salientou que esta “é uma avaliação que o Francisco tem de fazer”.
“Quando o partido genericamente tem esta avaliação que é muito má, quando o partido está em si mesmo divido, fracionado, desavindo, quando o partido perde expressão nos estudos de opinião e quando se demite um vice-presidente, se demitem membros muito relevantes que, de resto, foram fundamentais para a ascensão do Francisco Rodrigues dos Santos à presidência do partido”, ou se mantém este rumo e o CDS “vai definhando” ou o ritmo é alterado para “fazer renascer o CDS e trazer o CDS para aquilo que é o seu destino”, argumentou.
O eurodeputado e líder da distrital de Braga mantém que “antes de 2022 de forma alguma” será candidato à presidência do CDS-PP, justificando que agora “há pessoas que têm muito melhores condições”, mas ressalva que até lá tenciona “participar” e dizer o que pensa.
Momentos antes, em entrevista à RTP2, explicou que não avança agora porque o projeto que teria para o CDS “não é compatível com o curto prazo” e implicaria “uma possibilidade de unir muitas diversidades, uma avaliação do estado financeiro e da possibilidade de levar para a frente projetos eleitorais relevantes”.
Sobre a iniciativa do antigo vice-presidente Adolfo Mesquita Nunes, de pedir eleições antecipadas para a liderança, Nuno Melo considerou que “há uma antecipação da sua vontade de ser candidato” e admitiu que, “num congresso destes, outros candidatos possam surgir”.
Apontando que “o momento é muito difícil” e o “CDS pode estar a lutar pela sua sobrevivência”, Nuno Melo apelou “a todos” que possam “unir destinos” para o CDS “tenha futuro”.
O eurodeputado e também vice-presidente na direção de Assunção Cristas teceu elogios a Mesquita Nunes: “este repto do Adolfo é muito importante, o Adolfo não é uma pessoa qualquer, é um quadro particularmente inteligente e reconhecido no partido e fora dele” e haver “pessoas como o Adolfo com disponibilidade para avançar é uma notícia muito boa para o CDS”.
Ana Rita Bessa ao lado de Adolfo Mesquita Nunes
A deputada do CDS, Ana Rita Bessa, defendeu esta quinta-feira que deve haver discussão nos órgãos próprios sobre a situação do partido, declarando apoiar Adolfo Mesquita Nunes se o ex-vice-presidente avançar com uma candidatura à liderança.
A deputada considerou que o partido está a atravessar “um momento de crise”, evidenciando uma “incapacidade de criar atração no discurso”, uma situação que se agravou, disse, com as demissões anunciadas esta quinta-feira de três membros da direção — o vice-presidente Filipe Lobo d’Ávila, e os vogais da comissão executiva Raul Almeida e Isabel Menéres Campos, os três do grupo Juntos pelo Futuro.
Para a parlamentar, o facto de “uma parte relevante da direção ter saído” contribuiu para agravar a situação. Em declarações à Lusa, defendeu também que “é bom haver protagonistas que querem discutir” o futuro do CDS, e que se “levantam a pedir que se abra essa discussão nos órgãos próprios do partido, para o partido dizer se quer que se crie um novo ciclo”.
“Se esse novo ciclo passar pelo Adolfo Mesquita Nunes, não terei dúvidas em acompanhá-lo”, declarou.
Liliana Malainho, ZAP // Lusa