O presidente do PSD, Rui Rio, disse esta quarta-feira que até ao próximo dia 1 janeiro o partido não terá compromisso com “rigorosamente ninguém” para encabeçar candidaturas nas autárquicas de 2021, escusando-se a confirmar se o eurodeputado Paulo Rangel é uma hipótese para o Porto.
“Não tenho compromisso com rigorosamente ninguém, até porque eu próprio defini que, até ao dia 1 de janeiro, é zero [não há candidatos]. Outra coisa é eu tomar café com alguém e perguntar o que é que esse alguém acha para o seu concelho. Isso pode acontecer, mas é uma coisa completamente informal, não tem a ver com uma estratégia completamente montada”, disse.
Rio comentava uma notícia do Observador, divulgada na terça-feira, de que teria falado com o social-democrata Paulo Rangel sobre a hipótese de o eurodeputado avançar com uma candidatura à Câmara do Porto.
Segundo aquela publicação, ainda não há decisões tomadas, mas Rangel “sabe que terá lugar na corrida à Câmara do Porto se assim o quiser”.
Esta quarta-feira, Rio deixou claro que, tal como foi decidido pela Comissão Política Nacional do PSD, até ao dia 1 de janeiro “não há candidato a lado nenhum”, nem mesmo “à freguesia mais pequena”.
“Zero, zero. Isto tem de ter organização, tem de ter disciplina e tem de ter método. Até 1 de janeiro, zero. É zero do Porto, é zero de Lisboa, é zero de Vila Flor, é zero Miranda do Douro, é zero Vinhais, é zero Cuba do Alentejo, é zero tudo”, afirmou o presidente do PSD.
Explicando que a escolha dos candidatos implica uma “parte burocrática” que envolve concelhias, distritais e a direção nacional, Rio admitiu que tem na sua cabeça “naturalmente” nomes para as câmaras do Porto, Lisboa ou Coimbra, o que apenas quer dizer que são possíveis candidatos.
“Terei na minha cabeça, mas não é quero A ou quero B ou quero C. Tenho na minha cabeça nomes possíveis para as câmaras mais relevantes politicamente”.
O líder do maior partido da oposição lembrou ainda que em janeiro há eleições presidenciais, pelo que este, entende, “não o melhor momento para andar a anunciar candidatos”.
“Em janeiro temos a campanha eleitoral para as eleições presidenciais, não me parece que seja o melhor momento para andar a anunciar candidatos, porque há concelhos onde praticamente só há um candidato. Janeiro ainda não me parece a melhor altura”, disse.
Falta de professores e alunos sem aulas
“Chegamos ao Natal, terminou o primeiro período, e há alunos que não tiveram uma única aula de determinada disciplina”, lamentou Rui Rio no final de um encontro com a Federação Nacional de Educação (FNE), acrescentando que tal põe em causa o futuro desses jovens e do país.
O presidente do PSD deixou ainda claro que a culpa não é da pandemia de covid-19, salientando que a falta de atratividade da profissão e o envelhecimento do corpo docente são problemas que afetam o ensino há vários anos.
“O ministro ora nega, ora diz que a culpa é da pandemia, mas a culpa não é da pandemia, ela pode ter um nível de responsabilidade qualquer, mas a verdade é que isto já se arrasta para trás. E arrasta-se em larga medida pela falta de professores que já se faz notar”, rematou, acrescentando que “é gravíssimo em termos do desenvolvimento do país”.
Para o social-democrata, esta situação “dramática” carece de uma resposta urgente, sob pena de se tornar insustentável a curto prazo.
“Há perante nós um problema que já devia estar resolvido e que tem de ser resolvido porque a breve prazo ele é insustentável”, disse.
Lamentando a postura adotada pelo ministro no debate parlamentar de urgência pedido pelo PSD sobre educação, o líder do maior partido da oposição assinalou a precariedade como uma das causas para a falta de atratividade da profissão de docente que enfrenta ainda um problema de envelhecimento. De acordo com o social-democrata até 2030, 80% dos docentes vão reformar-se.
“Se se oferece a alguém um horário relativamente reduzido para ele se deslocar a não sei quantos quilómetros de sua casa, não vou dizer que paga para trabalhar, mas anda lá perto disso”, acrescentou, salientando que assim é difícil atrair pessoas para a carreira de docente que é “absolutamente estratégica” para o país.
Assinalando a distorção entre classes profissionais no país, Rio recordou que o Governo decidiu aumentar juízes e procuradores da República, quando “um professor no topo da carreira, e são muito poucos que lá chegam, ganha praticamente o mesmo, senão menos “do que um juiz que inicia a carreira”.
“Nós não fazemos demagogia. Resolver o problema demora muitos anos. Um problema que se acumula durante anos e anos, não fica resolvido num espaço de doze meses nem em 24 meses, mas quanto mais depressa melhor e tudo começa, na minha opinião pela dignificação da função de professor, seja em que nível for mais, particularmente, no ensino básico e secundário”, rematou.
Rui Rio reuniu, no Porto, com o secretário-geral da FNE, José Dias da Silva, que alertou para a necessidade de valorização da carreira docente.
Sem essa valorização, a FNE considera que não haverá jovens a prosseguir a carreira de docente, pelo que tudo deve ser feito no sentido de garantir a atratividade da profissão
“É preciso tomar medidas, não podemos ficar à espera de 2030 para ficar sem professores”, afirmou.
Encerramento da refinaria é “ambientalmente positivo”
Rui Rio considerou ainda “ambientalmente positivo” para a região Norte o anunciado encerramento da refinaria da Galp de Matosinhos, defendendo que no futuro reconversões como estas serão permanentes nas economias nacional e mundial.
“À partida, é ambientalmente positivo para esta região do país”, observou.
Salientando não ter ainda informação suficiente para dar uma opinião balizada sobre o assunto, o líder social-democrata, que falava à margem do encontro com a FNE, indicou que situações como esta se vão repetir no futuro com a transformação tecnológica da sociedade.
“No presente e no futuro, nós vamos ter permanentemente na economia nacional e mundial situações destas de permanentes reconversões. Há muitas profissões que hoje em dia existem e que vão acabar, há muitas profissões que existiam quando era miúdo e hoje já não existem e no futuro vão ser criadas muitas profissões que ainda nem imaginamos o que são”, disse.
Reiterando que, ambientalmente, a decisão da Galp é positiva, Rui Rio considerou que, em termos sociais, é necessário acompanhar a evolução da situação, realçando, contudo, que é preciso haver dinamismo económico na região para absorver os empregos perdidos com esta transformação.
“À partida, a Galp ter como intenção fechar algo que ambientalmente não está bem, é positivo. Não podemos ver mal em tudo. Temos é depois de ver a forma como tudo isso vai ser feito para poder ter uma opinião avalizada, mas à partida a notícia não é má, se for tudo bem feito. A questão social com certeza, como tudo na vida, vamos ter de reparar e de acompanhar”, rematou.
A Galp anunciou, na segunda-feira, que vai concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir do próximo ano. Em causa estão 500 postos de trabalho diretos e mil indiretos.
Sofia Teixeira Santos, ZAP // Lusa