Milhares de manifestantes, incluindo familiares das vítimas e habitantes da cidade, acusam as autoridades de negligência, após um incêndio que matou dezenas de crianças em Kemerovo, na Sibéria. Putin garante que “todos serão investigados”.
A tragédia que aconteceu este domingo na cidade russa de Kemerovo, onde um incêndio deflagrou num centro comercial causando a morte a pelo menos 64 pessoas, incluindo 41 crianças, levou milhares de pessoas a unirem-se em protesto contra a resposta ineficaz das autoridades.
A revolta de Kemerovo dirige-se, sobretudo, para os responsáveis locais, apesar de se terem ouvido pedidos de demissão para o Presidente russo Vladimir Putin. Segundo o Público, “Corrupção mata!” e “Digam a verdade” eram algumas das mensagens que os manifestantes afixaram em cartazes enquanto se concentravam em frente do edifício da administração regional.
“Porque é que eles não nos dizem a verdade?“, questionou um dos manifestantes, citado pela agência Reuters. Igor Vostrikov contou à Reuters ter perdido toda a sua família. Quando percebeu que estava cercada pelo fogo, a sua mulher ter-lhe-á telefonado para se despedir. “Não havia pânico. Ela disse-me adeus”
Embora o incêndio tenha começado durante a tarde de domingo, só passadas muitas horas é que os canais televisivos nacionais o noticiaram. Na segunda-feira, o Kremlin emitiu apenas uma declaração escrita em que Putin manifestava pesar, decretando luto com incidência apenas local. Já esta terça-feira foram decretados três dias de luto nacional.
Os habitantes de Kemerovo estão descontentes e sentem que a tragédia foi desvalorizada pelas autoridades nacionais. O número de vítimas é também alvo de desconfiança por parte da população. Um grupo de familiares compilou uma lista de 85 pessoas, na sua maioria crianças, que continuam desaparecidas.
Sergei Tsivilev, vice-governador, ajoelhou-se e pediu desculpas perante as pessoas que protestavam. Já Putin, dois dias depois do incêndio, deslocou-se à cidade para deixar flores num memorial, mas não se encontrou com a população.
Num encontro com responsáveis locais, mostrou-se indignado e falou em “negligência criminosa”, prometendo que tudo será alvo de investigação. “Todos serão investigados, sobretudo a empresa de segurança, cujo guarda esteve parado sem fazer nada e falhou quando devia ter carregado no botão de alarme”, disse Putin.
Segundo Alexander Bastrykin, o presidente do Comité de Instrução da Rússia que denunciou a avaria no alarme do centro comercial, cinco pessoas foram já detidas.
Apesar do clima de instabilidade e isolamento diplomático que a Rússia atravessa atualmente, com a maior expulsão de diplomatas russos de países europeus, foram vários os governos que enviaram condolências por causa desta tragédia, incluindo o Reino Unido.