Recuo de Costa sobre saída para Bruxelas em 2024 é “táctico e temporário”. Programa do Governo é “desilusão”

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António Cotrim / Lusa

O conselheiro de Estado e antigo líder do PSD, Luís Marques Mendes

Marques Mendes considera que o tema de uma eventual saída de Costa para Bruxelas vai voltar em 2024 e que se o primeiro-ministro quisesse matar a questão teria negado publicamente a possibilidade.

No seu espaço de comentário aos domingos na SIC, Luís Marques Mendes começou por falar de um dos assuntos da semana — o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa na tomada de posse do Governo e os avisos que deixou a António Costa sobre uma possível saída a meio do mandato para Bruxelas.

“O Presidente da República acabou com um elefante que há muito tempo andava dentro da sala: a eventual ida do primeiro-ministro para a União Europeia. E disse: se isso suceder, haverá eleições“, afirmou Marques Mendes.

O antigo líder do PSD afirma que não há razão para surpresa perante o aviso de Marcelo, já que “até dirigentes socialistas assumem” que é Costa já pensa há muito numa saída de Portugal em 2024.

“É no início de jogo que se definem as regras do jogo. Por isso, se tinha algo a informar sobre a matéria, o PR devia tê-lo dito agora e não mais tarde”, defende, acrescentando que “não se percebe a estranheza” da resposta do PS visto que, em 2004, Ferro Rodrigues “pediu expressamente eleições antecipadas quando Barroso saiu para Bruxelas”.

O comentador voltou a reforçar que acredita que Costa “não quis nem crise política nem eleições antecipadas”, pois se esta não tivesse existido, “o primeiro-ministro terminava o seu mandato em 2023 e calmamente em 2024 podia rumar a Bruxelas”.

Marques Mendes sublinha que “esta especulação não é boa para António Costa” porque “a ideia de que o primeiro-ministro está a iniciar um novo mandato e já só pensa em ir para Bruxelas não lhe é nada favorável“. “Veja-se o que se passou com Durão Barroso. Sofreu desgaste e impopularidade”, opina.

Apesar disto, o recuo das intenções de Costa deve ser “táctico e temporário” e a questão deve voltar a ser falada em 2024. “A prova disso mesmo é esta: António Costa não disse uma palavra sobre o assunto. Não abriu a boca. Quem falou ao Expresso foi uma fonte próxima. Não é a mesma coisa”, remata.

Sobre se este tema vai azedar as relações entre Belém e São Bento, Marques Mendes acredita que não. “São pessoas diferentes, com funções diferentes e com responsabilidades diferentes. Umas vezes convergem. Outras não. É assim que deve ser”, conclui.

Programa do Governo é uma “certa desilusão”

Na semana passada, o Governo entregou também formalmente o seu programa, que seguiu a tradição socialista de ser um decalque no programa eleitoral. Marques Mendes considera que o documento é “uma certa desilusão” e “mais do mesmo”.

O comentador acredita que “falta rasgo e ambição” nas propostas, especialmente a nível económico, e cita estatísticas que mostram que vários países de leste ultrapassaram Portugal no PIB per capita nos últimos anos.

“No ano 2010, estávamos, em termos de PIB por habitante, a 83% da média europeia; no ano 2020, piorámos, ficando a 76% da média da UE; em 2021, ainda baixámos mais, ficando a 74% da média da Europa”, aponta, acusando os políticos portugueses de não debaterem “o essencial”.

Relativamente ao discurso de Augusto Santos Silva como novo Presidente da Assembleia da República, foi “lúcido e assertivo”. “Começa a fazer tirocínio para Belém: eventualmente para ser candidato do PS à Presidência da República em 2026. A não ser que o candidato seja o próprio António Costa”, refere.

Já sobre a eleição dos vice-presidentes, “não é bom para a imagem de pluralidade do Parlamento” que dos oito partidos com representação, só estejam os dois maiores representados, algo que “nunca aconteceu”.

Sobre as mudanças nos partidos à direita, a eleição de Nuno Melo como líder do CDS é a “escolha esperada”, com Marques Mendes a saudar a coragem do eurodeputado, que assume as rédeas do partido “sem presença na AR”.

No PSD, há três nomes em cima da mesa: Luís Montenegro, que já é candidato oficialmente e é “à partida, o que tem melhores condições para ser eleito”, Jorge Moreira da Silva e Ribau Esteves. Se estes dois últimos avançarem, “valorizam a eleição” ao reforçarem a “legitimidade política de quem for eleito”.

“A guerra está num impasse”

Marques Mendes falou ainda do conflito na Ucrânia, que está num “impasse” militar e diplomático. “No plano militar, nem a Rússia consegue ter qualquer vitória significativa nem a resistência ucraniana abranda o seu ritmo de intervenção. O problema sério é que este impasse é um risco acrescido de, em desespero de causa, os russos generalizarem o recurso a armas mais destrutivas e a crimes de guerra”, antecipa.

O comentador destaca ainda as posições da Turquia, China e Lituânia. “A Turquia está a ganhar um relevante estatuto internacional. Cede armas à Ucrânia, mas não aplica sanções à Rússia. Consegue ser aceite por ambas as partes e está a marcar pontos na cena internacional”, defende.

Relativamente à China, vai mantendo a posição ambígua “pressionada pela UE”, mas “nos bastidores, apoia a Rússia”. “Admite-se nos meios financeiros que a China fez uma compra maciça de rublos no mercado internacional para combater a desvalorização da moeda russa”. Já a Lituânia destaca-se por ter sido o primeiro país ocidental a cortar totalmente a importação de gás russo.

Adriana Peixoto, ZAP //

5 Comments

  1. Eu não sei como dão voz a um “profeta” como este…. que não acerta em uma…. e faz as profecias mais demagógicas que conheço… e depois queixam-se de novos partidos estarem a comer o PSD…, continuem, o PS agradece….

    • Este ainda não percebeu que ele não está lá como “profeta” mas sim para condicionar… ao fazer o trabalho de outro que, devido às funções que atualmente assume, não o pode fazer.

  2. Desde o Guterres e do Sócrates que os portugueses, incluindo o pequenito Mendes, deveriam ter aprendido que não são as maiorias absolutas que por si só garantem a estabilidade dos governos.

  3. O país irá ficar adiado como de costume, já estamos habituados! O mais grave é estarmos cada vez mais na cauda da Europa, é um local sujeito a provocar queda fatal!

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