A morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos gera uma série de incertezas para a corrida eleitoral deste ano, mas a mais relevante provavelmente será, neste momento, se a ex-candidata Marina Silva, vice de Campos, continuará na disputa e se passará a cabeça-de-lista para disputar as Presidenciais.
Marina, que terminou as eleições de 2010 com 19% dos votos, é responsável por trazer uma parte importante do apoio dos eleitores à candidatura do PSB, partido de Campos. Nas últimas sondagens,o candidato pernambucano ocupava o terceiro lugar na disputa, atrás da presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), e do senador Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
As eleições presidenciais no Brasil acontecem a 5 de outubro, quando os brasileiros também escolherão os seus governadores de Estado, senadores, deputados federais e deputados estaduais.
Por outro lado, analistas ouvidos pela BBC apontam que Marina não circula com a mesma desenvoltura por círculos ideológicos diferentes, incluindo setores influentes do ponto de vista do financiamento de campanha.
A ex-senadora ainda não revelou o que pretende fazer, mas já é possível explorar diferentes cenários com impactos possíveis da morte de Campos para a disputa eleitoral.
Quem pode assumir o lugar de Campos na lista?
Segundo a legislação eleitoral, o partido de Campos poderá escolher outro candidato em até dez dias. A candidatura terá de ser aprovada pelas direções dos partidos que estão coligados com o PSB na disputa à Presidência: PHS, PRP, PPS, PPL e PSL.
O candidato poderá ser do PSB ou de qualquer um desses partidos, desde que todos estejam de acordo. Entre os nomes mais cotados está o da ex-senadora Marina Silva, atualmente o segundo nome da lista. Marina filiou-se ao PSB depois da Justiça Eleitoral rejeitar a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade, a tempo para as eleições.
No entanto, a relação entre Marina e os dirigentes do PSB é delicada. Cabia a Campos harmonizar as posições divergentes entre a vice e o partido.
Se por um lado a morte de Campos a torna a candidata natural do PSB para a disputa, por outro, unificar o partido – e as demais siglas da coligação – à volta do seu nome será um grande desafio.
Marina pode, no entanto, abrir mão da disputa. Mas a ex-senadora ainda não disse qual será sua posição.
Para onde vão os eleitores de Eduardo Campos?
Na última sondagem do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), divulgada na semana passada, Campos aparecia com 9% das intenções de voto. Segundo os analistas, os seus votos não têm um herdeiro óbvio – nem mesmo se Marina Silva assumir a cabeça da candidatura.
Apesar da aliança com Marina, muitos dos seguidores de Campos expressam reserva com a vice.
“Campos circula melhor que a Marina entre os eleitores, porque não tem um discurso associado a dois perfis de eleitor muitos distintos: o evangélico e o ambientalista“, diz Silvana Krause, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Por outro lado, caso se candidate, Marina poderia recuperar votos de eleitores que a apoiaram em 2010, mas planeavam votar em Dilma Rousseff ou Aécio Neves em 2014. Nas últimas eleições, a ex-senadora terminou em terceiro lugar, com 19% dos votos.
Para Krause, os eleitores de Campos que não aderirem a uma eventual candidatura de Marina deverão dividir-se entre Dilma e Aécio pelos seguintes critérios: a candidata do PT deve herdar os votos de eleitores de centro-esquerda, preocupados com políticas sociais, enquanto o “tucano” ficará com os votos dos eleitores anti-PT, com perfil mais conservador.
Qual será a posição dos doadores da campanha do PSB?
Bem relacionado com empresários, Eduardo Campos tinha recebido até agora 8,2 milhões de reais (2,7 milhões de euros) em doações para a disputa de 2014, segundo as primeiras contas parciais divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Dilma recebeu 10,1 milhões de reais (3,3 milhões de euros), e Aécio, 11 milhões de reais (3,6 milhões de euros).
A morte do candidato lança dúvidas sobre a capacidade do PSB de manter o fluxo de doações.
As três empresas que até agora mais doaram para Campos são do ramo do agronegócio: a Atasuco, fabricante de sumos e aromas, doou 1,5 milhão de reais (quase 490 mil euros), a JBS, maior produtora de carnes do mundo, doou 1 milhão de reais (327 mil euros), e o mesmo valor foi doado pela Cosan, gigante do setor de açúcar e biocombustíveis.
Caso Marina assuma a posição de cabeça-de-lista, é improvável que empresários do agronegócio mantenham o nível de doações, já que a candidata é vista pelo setor com algumas reservas.
Com menos doações, uma eventual campanha de Marina teria de ser mais modesta.
De que forma a morte afeta as coligações do PSB nos Estados?
Segundo a cientista política Silvana Krause, da UFRGS, as alianças costuradas por Eduardo Campos para as eleições estaduais – que se realizam em conjunto com as Presidenciais – não deverão ser alteradas, mesmo que Marina assuma a cabeça da lista.
Ao tentar nacionalizar a sua campanha, Campos aliou-se a candidatos de outros partidos em disputas para governos estaduais. As negociações geraram atritos com Marina, que rejeitava alianças com partidos não alinhados ideologicamente com a candidatura.
Numa nota divulgada em junho, a Rede Sustentabilidade, grupo político de Marina incorporado pelo PSB nestas eleições, anunciou que a ex-senadora só participaria em atividades de candidatos a governos estaduais apoiados pela Rede.
A Rede Sustentabilidade ainda não anunciou se a morte de Campos altera esse quadro.
Para Krause, a tendência é que, caso assuma a candidatura do PSB, Marina só procure o apoio de candidatos cujas alianças ajudou a negociar.
ZAP / BBC
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