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Quem poderá substituir Eduardo Campos nas eleições no Brasil?

Antonio Cruz / ABr

Marina Silva e Eduardo Campos

Marina Silva e Eduardo Campos

A morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos gera uma série de incertezas para a corrida eleitoral deste ano, mas a mais relevante provavelmente será, neste momento, se a ex-candidata Marina Silva, vice de Campos, continuará na disputa e se passará a cabeça-de-lista para disputar as Presidenciais.

Marina, que terminou as eleições de 2010 com 19% dos votos, é responsável por trazer uma parte importante do apoio dos eleitores à candidatura do PSB, partido de Campos. Nas últimas sondagens,o candidato pernambucano ocupava o terceiro lugar na disputa, atrás da presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), e do senador Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

As eleições presidenciais no Brasil acontecem a 5 de outubro, quando os brasileiros também escolherão os seus governadores de Estado, senadores, deputados federais e deputados estaduais.

Por outro lado, analistas ouvidos pela BBC apontam que Marina não circula com a mesma desenvoltura por círculos ideológicos diferentes, incluindo setores influentes do ponto de vista do financiamento de campanha.

A ex-senadora ainda não revelou o que pretende fazer, mas já é possível explorar diferentes cenários com impactos possíveis da morte de Campos para a disputa eleitoral.

Quem pode assumir o lugar de Campos na lista?

José Cruz / ABr

Marina Silva, segundo nome da lista encabeçada por Eduardo Campos para as eleições presidenciais no Brasil

Marina Silva, segundo nome da lista encabeçada por Eduardo Campos para as eleições presidenciais no Brasil

Segundo a legislação eleitoral, o partido de Campos poderá escolher outro candidato em até dez dias. A candidatura terá de ser aprovada pelas direções dos partidos que estão coligados com o PSB na disputa à Presidência: PHS, PRP, PPS, PPL e PSL.

O candidato poderá ser do PSB ou de qualquer um desses partidos, desde que todos estejam de acordo. Entre os nomes mais cotados está o da ex-senadora Marina Silva, atualmente o segundo nome da lista. Marina filiou-se ao PSB depois da Justiça Eleitoral rejeitar a criação de seu partido, a Rede Sustentabilidade, a tempo para as eleições.

No entanto, a relação entre Marina e os dirigentes do PSB é delicada. Cabia a Campos harmonizar as posições divergentes entre a vice e o partido.

Se por um lado a morte de Campos a torna a candidata natural do PSB para a disputa, por outro, unificar o partido – e as demais siglas da coligação – à volta do seu nome será um grande desafio.

Marina pode, no entanto, abrir mão da disputa. Mas a ex-senadora ainda não disse qual será sua posição.

Para onde vão os eleitores de Eduardo Campos?

Na última sondagem do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), divulgada na semana passada, Campos aparecia com 9% das intenções de voto. Segundo os analistas, os seus votos não têm um herdeiro óbvio – nem mesmo se Marina Silva assumir a cabeça da candidatura.

Apesar da aliança com Marina, muitos dos seguidores de Campos expressam reserva com a vice.

“Campos circula melhor que a Marina entre os eleitores, porque não tem um discurso associado a dois perfis de eleitor muitos distintos: o evangélico e o ambientalista“, diz Silvana Krause, professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Por outro lado, caso se candidate, Marina poderia recuperar votos de eleitores que a apoiaram em 2010, mas planeavam votar em Dilma Rousseff ou Aécio Neves em 2014. Nas últimas eleições, a ex-senadora terminou em terceiro lugar, com 19% dos votos.

Para Krause, os eleitores de Campos que não aderirem a uma eventual candidatura de Marina deverão dividir-se entre Dilma e Aécio pelos seguintes critérios: a candidata do PT deve herdar os votos de eleitores de centro-esquerda, preocupados com políticas sociais, enquanto o “tucano” ficará com os votos dos eleitores anti-PT, com perfil mais conservador.

Qual será a posição dos doadores da campanha do PSB?

Bem relacionado com empresários, Eduardo Campos tinha recebido até agora 8,2 milhões de reais (2,7 milhões de euros) em doações para a disputa de 2014, segundo as primeiras contas parciais divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Dilma recebeu 10,1 milhões de reais (3,3 milhões de euros), e Aécio, 11 milhões de reais (3,6 milhões de euros).

A morte do candidato lança dúvidas sobre a capacidade do PSB de manter o fluxo de doações.

As três empresas que até agora mais doaram para Campos são do ramo do agronegócio: a Atasuco, fabricante de sumos e aromas, doou 1,5 milhão de reais (quase 490 mil euros), a JBS, maior produtora de carnes do mundo, doou 1 milhão de reais (327 mil euros), e o mesmo valor foi doado pela Cosan, gigante do setor de açúcar e biocombustíveis.

Caso Marina assuma a posição de cabeça-de-lista, é improvável que empresários do agronegócio mantenham o nível de doações, já que a candidata é vista pelo setor com algumas reservas.

Com menos doações, uma eventual campanha de Marina teria de ser mais modesta.

De que forma a morte afeta as coligações do PSB nos Estados?

Segundo a cientista política Silvana Krause, da UFRGS, as alianças costuradas por Eduardo Campos para as eleições estaduais – que se realizam em conjunto com as Presidenciais – não deverão ser alteradas, mesmo que Marina assuma a cabeça da lista.

Ao tentar nacionalizar a sua campanha, Campos aliou-se a candidatos de outros partidos em disputas para governos estaduais. As negociações geraram atritos com Marina, que rejeitava alianças com partidos não alinhados ideologicamente com a candidatura.

Numa nota divulgada em junho, a Rede Sustentabilidade, grupo político de Marina incorporado pelo PSB nestas eleições, anunciou que a ex-senadora só participaria em atividades de candidatos a governos estaduais apoiados pela Rede.

A Rede Sustentabilidade ainda não anunciou se a morte de Campos altera esse quadro.

Para Krause, a tendência é que, caso assuma a candidatura do PSB, Marina só procure o apoio de candidatos cujas alianças ajudou a negociar.

ZAP / BBC

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