Jornalistas do grupo Global Media que detém o Jornal de Notícias (JN), o Diário de Notícias (DN), a TSF e O Jogo, estão em greve. O grupo está à beira da falência e o CEO José Paulo Fafe lança várias acusações enquanto o antigo accionista maioritário, Marco Galinha, não sabe a quem vendeu.
Marco Galinha, actual presidente do Conselho de Administração do grupo Global Media e anterior accionista maioritário, e José Paulo Fafe, o CEO da empresa, foram ouvidos no Parlamento, na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, no âmbito da difícil situação financeira que a empresa atravessa.
“Quando chegámos, deparámo-nos com uma empresa que tem um passivo acumulado de quase 50 milhões de euros“, disse José Paulo Fafe aos deputados, falando na descoberta de dívidas “escondidas” a fornecedores de cinco milhões de euros.
“O grupo vai fechar o ano [de 2023] com um passivo de sete milhões”, apontou ainda o CEO, deixando a certeza de que o negócio não é rentável e atribuindo culpas pela situação financeira difícil a uma “gestão danosa” da anterior direcção. “Torraram dinheiro”, acusou.
Fafe acusa Marcelo de espalhar boatos
Mas José Paulo Fafe também apontou o dedo a Marcelo Rebelo de Sousa, acusando o Presidente da República de ter sido “uma das pessoas que mais contribuiu para fomentar a intriga em redor do negócio, criando boatos sobre o fundo” que comprou a participação de Marco Galinha.
O CEO da Global Media também deixou acusações ao Governo e ao Bloco de Esquerda, criticando “o aproveitamento político” que diz terem feito, ao longo das últimas semanas, em torno da “difícil situação que vive o Global Media Group”.
Fafe ainda acusou o ex-director da TSF, Domingos Andrade, redator principal no JN, de ser “um dos grandes responsáveis pela queda” do jornal que, entre 2019 e 2023, passou de uma média de vendas de 31 mil para 14,926 mil, segundo disse no Parlamento.
“Houve uma estratégia para o JN errada quando se quis transformar” um jornal “com ADN fortíssimo de informação regional, com certa presença nacional” numa “referencia nacional”, salientou o CEO da Global Media.
Despedimento colectivo em cima da mesa
Perante os deputados, o CEO da Global Media também notou que se o grupo não conseguir atingir o número que pretende de rescisões, pode ser obrigado a um despedimento colectivo.
O World Opportunity Fund (WOF) adquiriu uma participação de 51% na empresa Páginas Civilizadas, proprietária directa da Global Media, ficando com 25,628% de participação social e dos direitos de voto no grupo.
Na quinta-feira passada, o grupo pagou o subsídio de refeição referente a Dezembro passado e os salários aos trabalhadores nos Açores.
O programa de rescisões na Global Media termina nesta quarta-feira, dia em que está a decorrer uma greve dos trabalhadores do grupo.
A Global Media pretende negociar, com carácter de urgência, rescisões com 150 a 200 trabalhadores para avançar com uma reestruturação no sentido de evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.
Galinha diz que “quem falhou aqui foi o fundo”
No Parlamento, Marco Galinha atribuiu as culpas pela “situação gravíssima” do Global Media à actual gestão, notando que quando entrou no grupo conseguiu reduzir a dívida dos 68 milhões de euros para menos de um milhão de euros.
O empresário também vincou que “entre 2021 e 2023”, investiu “cerca de 16 milhões de euros em compra de dívida à banca”.
“A situação da Global Media não pode ser tão má assim, havia bastantes propostas de compra, eu recebi quatro propostas”, disse ainda Galinha, conforme cita o Expresso.
Após questionado pelos deputados, Galinha sublinhou que não conhece quem está por trás do fundo que adquiriu o grupo, frisando que a negociação foi conduzida por advogados.
O World Opportunity Fund é gerido pela sociedade gestora de activos Union Capital Group que tem sede na Suíça e que é representada pelo gestor Clément Ducasse – um nome referenciado nos Bahama Leaks e nos Paradise Papers, investigações relacionadas com offshores. Contudo, não se sabe quem controla o fundo.
Ducasse reside, actualmente, nas Bahamas, onde também está ligado ao banco privado Capital Union Bank que co-fundou, em 2013, com o investidor americano Lawrence D. Howell.
A Union Capital Group foi, entretanto, liquidada e eliminada do registo comercial suíço a 25 de Julho de 2022, de acordo com o Público.
Este jornal apurou ainda que a sociedade foi alvo da preocupação de autoridades europeias nos últimos anos, nomeadamente em Espanha e no Luxemburgo.
Galinha anunciou também no Parlamento, que vai agir judicialmente contra o fundo porque este “não transferiu o dinheiro” a que se tinha comprometido.
“Quem falhou aqui foi o fundo, havia compromissos, planos assinados”, realçou o empresário que disse estar “disponível para fazer parte de uma solução” para o grupo.
Num comunicado conjunto com os outros accionistas minoritários do Global Media, Kevin Ho, José Pedro Soeiro e Mendes Ferreira, Galinha já tinha anunciado que os salários de Dezembro não seriam pagos devido ao “manifesto incumprimento” de obrigações pelo World Opportunity Fund (WOF).
Fafe assegura que “fundo cumpriu todas as obrigações”
Contrariando Galinha e os outros accionistas minoritários, o CEO da Global Media garante que o World Opportunity Fund “cumpriu todas as obrigações até agora” e que “pagou sete milhões” de euros pela participação no grupo.
“A minha estratégia é fazer tudo para salvar o grupo”, prometeu ainda José Paulo Fafe.
ZAP // Lusa
Um fundo tão fundo, que a vista não alcança…
Muito estranho….
Que aqui andou mãozinha de reaça, andou.
Há artes e artistas, que pelas reiteradas práticas já não passam despercebidas.
É há negócios chorudos, que nascem das influências de quem vive em nome do pai.
Pois…
O negócio do jornais está em declínio acelerado. Vão falir todos. O futuro serão as notícias instantâneas via internet/telemóvel.