A deputada do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, deixou de colaborar com o Jornal de Notícias (JN) que alega que a sua saída resulta de uma “profunda remodelação” da opinião. Contudo, a bloquista fala de “ingerência” do empresário Marco Galinha que é accionista do jornal.
Mariana Mortágua acusa Marco Galinha, presidente da Global Media, o grupo que detém o JN, do fim da sua crónica no diário.
No seu último texto no jornal, intitulado “Como Marco Galinha acabou com esta crónica”, a deputada refere lhe foi comunicado pelo JN, “na semana passada”, de que este “deixará de ter titulares de cargos públicos como colunistas regulares”.
Mortágua garante, contudo, que a administração da Global Media “tentou colocar entraves” à sua participação no jornal, salientando que o processo “tem agora o seu desfecho com a anunciada exclusão de todos os políticos no activo que mantinham participação regular” no mesmo.
“O JN, com século e meio de história, é uma presa demasiado grande para dinheiro tão fraco. O que Marco Galinha não poderá tirar-me é o gosto, que devo ao 25 de Abril, de ser insuportável para figuras como ele”, atira ainda a deputada.
No seu texto, Mortágua acusa ainda Marco Galinha de ter tentado “impor” ao JN a medida de “deixar de remunerar” a sua colaboração, bem como a de “outros titulares de cargos públicos”.
A deputada faz questão de frisar que essa medida que o JN não chegou a aplicar foi divulgada por um assessor do Chega num vídeo no YouTube, “festejando”.
Essa medida não avançou porque a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) “deu razão às queixas apresentadas pelo Conselho de Redação do JN contra Marco Galinha por tentativas de ingerência ilegal em decisões que competem apenas à direcção editorial”, aponta ainda Mortágua na sua crónica.
“Na sequência da invasão russa da Ucrânia, dei a conhecer os negócios em Portugal do oligarca russo Marco Leivikov, sócio de Marco Galinha noutras empresas”, escreve também a bloquista, frisando que “o dono do JN” a “acusou” de “estar a retaliar por ter deixado de ser remunerada” pelos seus artigos, algo que nunca aconteceu.
“Surpreendida, a administração da Global Media tentou colocar novos entraves à minha participação neste jornal: alegou que não seria compatível com o exercício do meu mandato em regime de exclusividade (o que o próprio Parlamento desmentiu, na sequência de uma queixa do Chega)”, acrescenta Mortágua.
Além disso, a deputada acusa o grupo de ter lançado “desinformação”, através de “jornais obscuros”, sobre a sua “situação fiscal”. Mas, “Marco Galinha falhou, sucessivamente”, aponta, considerando que o “processo tem agora o seu desfecho, com a anunciada exclusão de todos os políticos no activo que mantinham participação regular no JN e, portanto, com o fim desta crónica”.
Direcção do JN nega interferência de Marco Galinha
A direcção do JN já reagiu às acusações de Mariana Mortágua quanto à sua saída do painel de colaboradores, sublinhando que a deputada “lavra sobre um equívoco”.
“A profunda remodelação da opinião, por ocasião do 134.º aniversário do JN, que inclui um conjunto de iniciativas em Maio e Junho, irá abranger uma dezena de cronistas regulares”, sublinha a direcção do jornal.
Galinha acusa Mortágua de destilar “inverdades”
Também Marco Galinha escreveu sobre o tema nas redes sociais, notando no seu perfil do LinkedIn que “a direcção do JN tomou uma decisão de reformular os quadros de colaborações do jornal e que afectou, entre outros casos, a deputada Mariana Mortágua”.
“Soube-o pela sua coluna em que, lavrando em erro, desata num rol de imputações e insinuações sobre a minha pessoa, destilando inverdades“, destaca ainda o empresário, notando que “haverá local próprio para as discutir”.
Em 25 de Maio do ano passado, na comissão parlamentar de Cultura e Comunicação, no âmbito de um requerimento apresentado pelo Bloco de Esquerda, Marco Galinha tinha referido o fim do pagamento a Pessoas Expostas Politicamente [PEP], ou seja, deputados.
A 1 de Junho, a administração da Global Media, que além do JN detém o Diário de Notícias (DN) e a TSF, entre outros, determinou o fim do pagamento a políticos por textos que escrevam em qualquer das marcas do grupo.
“Qualquer político pode livremente e em nome do pluralismo escrever no jornal que entender para o qual foi convidado, desde que não receba por isso”, sublinhava,m na altura, a directora de comunicação do grupo, referindo tratar-se de uma “prática internacional”.
Redacção queixou-se de “interferência” da Global Media
Em 24 de Agosto de 2021, deu entrada na ERC uma exposição do Conselho de Redação (CR) do JN sobre a actuação da Global Media, referindo, nomeadamente, uma “alegada interferência na área editorial” com a “exclusão de colaboradores de opinião“.
Na deliberação da ERC datada de 2 de Fevereiro passado, nota-se que “não cabe” à administração da Global Media, “por se tratar de matérias de natureza editorial, estabelecer condições visando um ou outro sector específico da sociedade para preenchimento dos espaços de opinião o que, fora do quadro orçamental aprovado para o sector informativo, constitui uma actuação susceptível de configurar mais do que um acto de gestão, o que pode comprometer o espaço de liberdade e autonomia das direcções dos órgãos de comunicação social na escolha dos seus colaboradores”.
O CR tinha solicitado que a ERC se pronunciasse sobre a “interferência da administração” na “orientação do JN através da proibição do pagamento de colaborações a colunistas ‘politicamente expostos'”.
O Conselho de Administração da Global Media respondeu à ERC, notando que a decisão de “não remunerar” políticos no activo e “pessoas com intervenção partidária activa resulta de uma política de ‘compliance’” e do “exercício de uma ética de responsabilidade de que não se pode alhear”.
A nova administração encontrou o grupo “numa situação altamente deficitária do ponto de vista financeiro“, tendo sido “confrontada com a necessidade de adoptar medidas de gestão que protegessem os seus órgãos de comunicação social de consequências que poderiam advir da incapacidade de cumprimento das obrigações assumidas”, referiu ainda o Conselho de Administração da Global Media.
Nesse sentido, decidiu-se pelo “racional económico” e pelos “princípios de transparência e integridade que são apanágio do grupo”, decidindo-se o fim dos pagamentos a políticos no activo, alegou ainda a Administração.
“A liberdade de escolha das colaborações, em todas as suas dimensões com substrato editorial, mantém-se intocada dentro do círculo delimitado por critérios de possibilidade impostos pela realidade. Que não haja a menor dúvida sobre isso”, adiantou também o Conselho de Administração.
Marco Galinha assumiu o cargo de presidente do Conselho de Administração da Global Media em 17 de Fevereiro de 2021 e de presidente da Comissão Executiva em Abril do mesmo ano.
ZAP // Lusa
Até considero a hipótese de passar a comprar o JN… Aleluia…
POis pois, política em exclusividade, mas o que interessa é ser duplamente paga, pelos contribuintes e pelo privado, pelo mesmo trabalho de divulgação política. Estes como o PCP deverão estar a caminho da extinção !!!
Subscrevo!
Tem sempre a opção de escrever para o jornal não-oficial do Bloco de Esquerda: o Público…
Hahahaaaaa… o Belmiro muito se riu!…
A falta de cultura democrática em Portugal é algo que vem de longe. Meus caros, opiniões diferentes só robustecem o caminho a trilhar, seja ele qual for. Falem, ouçam, tirem conclusões. E respeitem, acima de tudo.
De facto isso era o paraíso ganha um ordenado para estar no parlamento a defender as suas ideologias, e depois ganha outro ordenado para propagar as suas ideologias pelos média. Infelizmente o impacto é muito reduzido tendo em conta que os média a muito que se encontram amordaçados pelos partidos e governo.
E que tal ir pedir emprego no Banco de Portugal, talvez aí não hajam despedimentos!
Também nem lia esse Jornal não traz nada de interessante , prefiro ler o AVANTE e o CM são os únicos com Noticias credíveis, pelo menos para mim , cada um com a sua livre Opinião
É tempo de a esquerda dar lugar a quem escreve com verdade e que defende VERDADEIRAMENTE a Democracia. Chega de esquerda que censura as outras sensibilidades políticas. Nas universidades é de começar a LIMPEZA ficando quem é competente, conhecedor, sério e que tenha positiva em avaliações de conhecimento e resultados… Chega de ideologia…