O académico islâmico mais influente da região emitiu uma fatwa (condenação) ao ataque do Hamas de 7 de outubro. Em setembro, apenas 36% dos habitantes de Gaza queriam o grupo no poder.
O salafismo é um tipo de Islão que procura aplicar as práticas do Profeta Maomé e dos seus seguidores, explica o The Conversation.
É esse tipo de islamismo que pratica Salman al-Dayah, o profeta mais influente de Gaza, que condena a violência de Israel e de grupos dissidentes do Hamas. a novidade é que, agora, o académico religioso proferiu também uma fatwa (uma espécie de “emenda” recriminatória) ao próprio Hamas.
“A vida humana é mais preciosa para Deus do que Meca”, começa por explicar o profeta, citado pela BBC. “Se os pilares, as causas ou as condições da jihad [a “luta” islâmica] não forem cumpridos, esta deve ser evitada para não destruir a vida das pessoas. Isto é algo que é fácil de adivinhar para os políticos do nosso país, por isso o ataque deve ter sido evitado”, disse, referindo-se ao ataque de 7 de outubro.
O profeta chegou mesmo a referir-se a este episódio como uma “violação dos princípios islâmicos que regem a jihad”.
Mas, segundo o The Conversation, isto é apenas um indício de uma cisão interna muito mais profunda que se está a passar em Gaza. E os dados publicados pelo instituto palestiniano Center for Policy and Survey Research (CPSR) fornecem pistas sobre essas divisões.
Há uma estatística que salta à vista, pela sua incongruência: quando se perguntava, em setembro de 2024, se o Hamas tinha cometido as atrocidades de 7 de outubro contra os israelitas, mostradas pelos meios de comunicação internacionais, incluindo o assassínio de mulheres e crianças, 89% dos habitantes da Faixa de Gaza e da Cisjordânia respondiam que não. Apenas 8% responderam que sim.
Mas há uma inconsistência nesta crença. A mesma sondagem mostrou que, enquanto em março de 2024, 71% dos habitantes de Gaza consideravam que a decisão do Hamas de lançar a ofensiva de 7 de outubro tinha sido “correta”, em setembro deste ano essa percentagem tinha caído para 39%.
Nesse mês, 80% dos inquiridos declararam que pelo menos um membro da família tinha sido morto ou ferido durante a guerra, enquanto 85% declararam ter-se deslocado “de um abrigo para outro” entre duas e seis vezes.
Também há uma descrença generalizada na vitória do Hamas: 28% dos habitantes de Gaza responderam que o Hamas ganharia a guerra, 25% disseram que seria Israel e 45% que “nenhum deles” venceria.
Para além disso, o número de pessoas que querem que o Hamas continue a governar Gaza caiu de 46% em junho de 2024 para 36% em setembro, enquanto 37% dos habitantes de Gaza acreditam que o grupo irá efetivamente controlar Gaza após a guerra.
A BBC lembra que, para o Hamas, a fatwa representa uma crítica embaraçosa e potencialmente prejudicial, entre outras coisas porque o grupo justifica frequentemente os seus ataques a Israel com argumentos religiosos para conseguir apoio das comunidades árabes e muçulmanas.
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