Israel mostra momentos finais do líder do Hamas antes de o matar. O que se segue agora?

As Forças de Defesa de Israel divulgaram imagens daqueles que terão sido os últimos momentos de vida do líder do Hamas Yahia Sinwar antes de o assassinar. Nas redes sociais, foram também divulgadas fotografias do seu corpo morto e mutilado.

Estas imagens estão a transformar Yahia Sinwar numa “lenda” e num “mártir”, diz-se nas redes sociais, onde as imagens do líder do Hamas morto estão a ser partilhadas.

As Forças de Defesa de Israel (IDF na sigla em Inglês) mostraram os seus momentos finais, antes de ter sido assassinado numa operação militar. Um drone das IDF filmou Sinwar dentro de um edifício que tinha acabado de ser atingido por um tanque israelita.

Estava sozinho, sentado num sofá, com a cabeça protegida por um lenço coberto de poeira, e a segurar um pau que ainda atirou ao drone.

Foi “um último acto de desafio contra a ocupação sionista“, considera o jornalista norte-americano Dan Cohen numa publicação na rede social X.

“Na sua morte, tornou-se uma lenda“, considera ainda, frisando que “Israel cometeu o erro” de divulgar as imagens que mostram que partiu a dar luta.

Esse espírito pode, agora, alimentar ainda mais a revolta dos elementos do Hamas e do próprio povo palestiniano.

Outras imagens divulgadas nas redes sociais, no local onde o líder do Hamas morreu, mostram-no sem o dedo que dispara, provavelmente atingido por um tiro, com um braço ferido e com um tiro na cabeça, deitado entre os destroços do edifício.

Apesar de não serem oficiais, estas imagens terão sido captadas por soldados israelitas, e algumas parecem ter sido filmadas por um drone, o que leva a perguntar como acabaram na Internet. E porquê?

Aquilo que alguns interpretam como uma tentativa de “humilhação” do líder do Hamas e do próprio grupo terrorista, pode estar, contudo, a virar-se contra Israel, até devido à natureza chocante das imagens.

Como foi a morte do líder do Hamas?

Nos últimos meses, Israel matou vários líderes do Hamas e do Hezbollah. Sinwar estava no topo da lista dos homens mais procurados pelas IDF que já tinham realizado um ataque à sua casa em Khan Younis, sem o conseguir apanhar.

O líder do Hamas foi, agora, apanhado no sul de Gaza, em Rafah, durante uma operação militar rotineira, segundo revela o The New York Times.

O “encontro surpresa”, como refere o jornal, ocorreu depois de uma troca de tiros entre as forças israelitas e resistentes palestinianos junto a um edifício que acabou destruído por um tanque israelita.

Sinwar estaria a tentar fugir para a região norte de Gaza e teria consigo uma arma e mais de 10 mil dólares em shekels israelitas, revelou à CNN um porta-voz das IDF.

Com a morte de  Sinwar, Israel conseguiu destruir as principais figuras que mandavam no Hamas depois de ter assassinado Ismail Haniyeh e Mohammed Deif.

Quem era Sinwar?

Era visto como o líder político do Hamas. Em 2017, foi eleito líder do “Politburo”, o principal órgão decisor do grupo terrorista.

Nasceu num campo de refugiados em Gaza, depois de a família ter sido deslocada da aldeia palestiniana de Al-Majdal que, agora, faz parte da cidade israelita de Ashkelon.

Começou por ser activista contra a ocupação israelita quando era estudante, mas acabou por ser detido pelas forças israelitas e condenado a várias penas de prisão perpétua por orquestrar assassinatos.

Aos poucos, foi ganhando influência e importância na estrutura do Hamas e foi o responsável por formar o “Maid”, uma espécie de serviços secretos do Hamas que ficou conhecido pelos métodos de extrema violência, nomeadamente contra os suspeitos de colaboração com Israel.

Tinha o selo de “terrorista global” desde 2015 que lhe foi atribuído pelos EUA e pela União Europeia e foi alvo de sanções do Reino Unido e de França. Em Israel, é conhecido como a face do mal e “o carniceiro de Khan Younis”.

Não era visto desde o ataque a Israel de 7 de Outubro de 2023. Israel acusou-o de ser o “mentor” desse ataque, mas o mais provável é que tenha sido uma das várias mentes que o planearam.

Foi o ataque mais mortífero da história de Israel com a morte de 1200 pessoas e com 250 reféns que foram levados para Gaza.

O que vai acontecer agora?

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reagiu à morte de Sinwar como “o início do dia depois do Hamas“, realçando, contudo, que “a missão ainda não está completa”.

Estas palavras deixam antever que a guerra em Gaza está longe de acabar. Mas, nesta altura, há mais dúvidas do que certezas.

Até porque não se conhece o paradeiro do irmão de Sinwar, Mohammed Sinwar, que se tornou, recentemente, o comandante militar do Hamas depois da morte de Mohammed Deif às mãos de Israel.

Os dois irmãos eram “muito próximos”, como apurou a CNN, e se Mohammed estiver vivo, vai procurar vingança e continuará a luta do Hamas.

Mas não é possível prever qual será o próximo passo do grupo terrorista.

Entretanto, está em aberto o papel do Irão que continua à espera da retaliação de Israel ao ataque levado a cabo no início deste mês com mísseis hipersónicos.

A CNN avançou já que a resposta de Israel contra o Irão deverá ocorrer antes das eleições presidenciais nos EUA, em Novembro próximo.

Israel também continua os combates no Líbano, onde o Hezbollah mantém as ameaças.

Biden quer “dia seguinte sem Hamas no poder”

A vice-presidente norte-americana, Kamala Harris, acredita que a morte do líder do Hamas criou a “oportunidade de finalmente acabar com a guerra em Gaza”.

“Deve acabar de tal forma que Israel esteja seguro, os reféns sejam libertados, o sofrimento em Gaza acabe e o povo palestiniano possa alcançar o seu direito à dignidade, segurança, liberdade e autodeterminação”, reforçou a candidata democrata às presidenciais norte-americanas.

O presidente dos EUA, Joe Biden, congratula-se com a morte de Sinwar e com a possibilidade de “um ‘dia seguinte’ em Gaza sem o Hamas no poder, e para um acordo político que traga um futuro melhor para israelitas e palestinianos”.

Sinwar “era um obstáculo intransponível para atingir todos esses objetivos” e que “já não existe”, reforça Biden.

Susana Valente, ZAP // Lusa

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