Quem manda no Hamas? A face do mal, o gato com nove vidas e o político

Abedin Taherkenareh / EPA

Hamas no Irão

Mural que honra a luta armada do Hamas na Praça Palestina em Teerão, no Irão.

A morte de um dos líderes do Hamas, Osama Mazini, foi celebrada por Israel numa altura de guerra contra o grupo terrorista. Mas o Hamas continua “vivo” e há três homens que lideram os seus destinos.

Osama Mazini era o chefe do Conselho da Shura, o mais alto órgão de decisão política do Hamas. Foi morto num bombardeamento da Força Aérea israelita a um edifício na Faixa da Gaza.

Contudo, os mais importantes líderes do movimento islâmico continuam vivos e integram a lista de terroristas internacionais procurados pelos EUA. O seu paradeiro é incerto.

Ismail Haniyeh, o político

O Hamas controla a Faixa de Gaza desde 2007, depois de derrotar, em eleições políticas, o movimento rival, a Fatah de Mahmud Abbas, que controla a maior parte da Cisjordânia. Desde então, não se realizarem mais eleições.

Ismail Haniyeh, de 60 anos, é uma figura conhecida destas lutas políticas e já foi primeiro-ministro palestiniano. Em 2017, foi eleito chefe do gabinete político do Hamas. Foi reeleito para o cargo em 2021 e terá sido ele a autorizar o brutal ataque a Israel que levou à morte de mais de 1200 pessoas.

Apesar disso, é visto como um conciliador e um diplomata que mantém boas relações com os vários movimentos que defendem a libertação da Palestina.

No seio do Hamas, também será a “voz da razão” que tenta apagar as divergências entre os que defendem a luta armada e os que gostariam de uma solução política.

Já foi preso por Israel por várias vezes, e chegou a ser expulso para o Líbano.

Haniyeh juntou-se ao Hamas em 1987, quando o grupo foi fundando durante a primeira “intifada” palestiniana contra a ocupação israelita.

Quando estudava na Universidade Islâmica de Gaza, fundada pelo Hamas, também pertenceu à Irmandade Muçulmana, organização radical islâmica que fundamentou a ideologia de grupos terroristas como a Al-Qaeda.

Vive exilado no estrangeiro por opção própria desde 2019. Acredita-se que estará, actualmente, em Doha, no Qatar. Mas também passará temporadas na Turquia e mantém igualmente boas ligações com o Irão.

Yahya Sinwar, a “face do mal”

Yahya Sinwar, de 61 anos, é, desde 2017, o chefe do Hamas em Gaza. Esse momento coincidiu com uma escalada na violência do Hamas, o que não terá sido por acaso.

Acérrimo defensor da luta armada contra Israel, Sinwar é visto como o “ministro da Defesa” do Hamas.

Em Israel, é conhecido como “a face do mal” e como um “executor brutal”.

Nasceu num campo de refugiados em Gaza, e é um dos fundadores do grupo terrorista e um antigo combatente das Brigadas militares.

Sinwar fala Hebreu e conhece bem Israel, uma vez que passou 23 anos em prisões israelitas, depois de ter sido condenado pelo rapto e morte de dois soldados israelitas, e de quatro palestinianos suspeitos de colaborarem com o “inimigo”.

Foi libertado em 2011, após cumprir aquela pena, no âmbito de uma troca com o soldado franco-israelita Gilad Shalit que foi feito refém pelo Hamas.

É um dos principais alvos de Israel na operação militar que visa “desmontar” o Hamas, mas não é certo que esteja em Gaza.

Mohammed Deif, “o gato com nove vidas”

Na liderança do Hamas surge ainda Mohammed Diab al-Masri, ou Deif, como é mais conhecido. Trata-se do líder do braço armado do grupo terrorista, as Brigadas Ezzdine al-Qassam.

Foi Deif quem anunciou, numa mensagem áudio, o arranque da “Tempestade Al-Aqsa” que levou ao recente ataque a Israel.

É considerado “o inimigo público número um de Israel” e está na lista de terroristas internacionais dos EUA desde 2015.

Está em paradeiro incerto e é visto como “um mestre do disfarce”, o que ajudará a explicar o facto de os serviços secretos israelitas ainda não terem conseguido eliminá-lo.

Israel já terá tentado matá-lo seis vezes, sem sucesso. Há rumores de que ficou paraplégico numa dessas tentativas, em 2006.

A sua mulher e um dos filhos terão morrido num outro ataque aéreo israelita que tinha Deif como alvo.

Na semana passada, um representante do Hamas no Líbano, Ahmed Abdulhadi, revelou ao The Washington Post que as forças israelitas atacaram a casa de Deif, bem como a casa da sua família, matando o seu irmão. Mas não encontraram sinais de Deif.

É uma lenda para os palestianianos e há quem lhe chame “o gato com nove vidas” pela sua capacidade de fugir aos israelitas.

Quase nunca se deixa fotografar e o Hamas costuma divulgar imagens dele na sombra, para não ser identificado. As últimas fotografias conhecidas dele terão cerca de 20 anos.

Deif nasceu num campo de refugiados em Gaza, há 58 anos e está envolvido com o Hamas desde o início do grupo terrorista. Já participou em várias operações, incluindo raptos de soldados israelitas e ataques com bombistas suicidas.

Susana Valente, ZAP //

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