Fala-se de tréguas na Ucrânia e em Gaza. Mas há luz ao fundo do túnel?

Roman Pilipey / EPA

Esta quarta-feira, a Rússia afirmou ter proposto tréguas de “24 a 48 horas” e aceitado uma troca de presos com a Ucrânia. No Médio Oriente, Israel diz estar a estudar a resposta do Hamas à proposta de cessar-fogo de 60 dias em Gaza. No entanto, o fim destes conflitos não parece estar para breve.

O chefe da delegação russa às conversações de paz com representantes ucranianos em Istambul disse ter proposto a Kiev tréguas de 24 a 48 horas nas linhas da frente e aceitado uma nova troca de prisioneiros.

“Mais uma vez, propusemos ao lado ucraniano que considere (…) estabelecer breves tréguas de 24 a 48 horas nas linhas da frente para que as equipas médicas possam retirar os feridos e os comandantes possam recuperar os corpos dos seus soldados”, disse Vladimir Medinsky em conferência de imprensa.

O negociador russo referiu ainda que Rússia e a Ucrânia acordaram, no final das negociações, uma nova troca de prisioneiros envolvendo 1.200 pessoas de cada lado, e Moscovo ofereceu a Kiev os corpos de mais 3.000 soldados.

“Dando continuidade à troca de prisioneiros de guerra, concordamos que pelo menos 1.200 prisioneiros de guerra adicionais serão trocados por cada lado num futuro próximo”, assegurou Medinsky.

Esta foi a terceira ronda de negociações entre a Ucrânia e a Rússia nos últimos meses, numa nova tentativa de pôr fim a mais de três anos de guerra, apesar das posições distantes dos dois países.

As últimas duas rondas, a 16 de maio e a 2 de junho, acabaram sem resultados sobre um acordo para um potencial cessar-fogo. Kiev e Moscovo conseguiram acordar trocas de prisioneiros de guerra e de corpos de combatentes.

No final, o negociador-chefe russo rejeitou uma possível cimeira entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sem antes ser alcançado um acordo de paz.

“Na realidade, a reunião [entre presidentes] não se destina a discutir o acordo, mas sim de o finalizar e assinar”, disse o conselheiro do chefe do Kremlin em conferência de imprensa.

O chefe da delegação negocial ucraniana, Rustem Umerov, afirmou ter proposto à Rússia, durante a ronda de negociações que Zelensky e Putin se reunissem antes do final de agosto, na presença dos seus homólogos turco e norte-americano, Recep Tayyip Erdogan e Donald Trump, para promover uma solução negociada para a guerra.

Este novo encontro em Istambul acontece depois de Donald Trump ter ameaçado Moscovo com sanções e aumento de tarifas caso a Rússia não chegue a um acordo de paz com Kiev no prazo de 50 dias, ou seja, antes de setembro.

Kiev e os aliados ocidentais acusam Moscovo de bloquear as negociações ao manter exigências maximalistas, enquanto o exército russo, mais numeroso e melhor equipado, prossegue os bombardeamentos e os ataques na linha da frente, onde continua a ganhar terreno.

Em Gaza

No Médio Oriente, Israel está a estudar a resposta do grupo islamita palestiniano Hamas à proposta de cessar-fogo de 60 dias para a Faixa de Gaza.

Os negociadores estão a tentar chegar a acordo sobre uma trégua que permita a libertação de 10 reféns israelitas em troca de um número não especificado de prisioneiros palestinianos.

No entanto, as negociações arrastam-se há mais de duas semanas sem qualquer avanço, com cada lado a acusar o outro de se recusar a ceder em exigências importantes.

A resposta do Hamas incluiu propostas de alterações às cláusulas sobre a entrada de ajuda humanitária, mapas das zonas de onde o exército israelita se deverá retirar e garantias de um fim permanente para a guerra, disse à agência de notícias France-Presse uma fonte palestiniana próxima das negociações em curso em Doha, no Qatar.

“O Hamas acaba de apresentar a sua resposta e a das fações palestinianas à proposta de cessar-fogo aos mediadores”, afirmou hoje o movimento islamista palestiniano, na plataforma de mensagens Telegram.

Mas, para Israel, desmantelar as capacidades militares e governamentais do Hamas é inegociável, enquanto o movimento palestiniano exige garantias firmes para uma trégua duradoura, a retirada total das tropas israelitas e o livre fluxo de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.

O porta-voz do Governo israelita acusou na quarta-feira o Hamas de obstruir as negociações.

“Israel aceitou a proposta do Qatar, bem como a proposta atualizada de [o enviado especial dos EUA, Steve] Witkoff; é o Hamas que está a recusar“, disse aos jornalistas, David Mencer, acrescentando que os negociadores israelitas ainda estavam em Doha e as discussões prosseguiam.

Os Estados Unidos indicaram na terça-feira que Witkoff ia viajar para a Europa esta semana, para negociações sobre Gaza e que, depois, poderia viajar para o Médio Oriente.

Witkoff inicia a viagem com “a firme esperança” de alcançar um novo cessar-fogo, “bem como um corredor humanitário para a entrega de ajuda, com o qual ambos os lados, de facto, concordaram”, disse a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, na terça-feira.

ZAP // Lusa

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