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Portugal assume “risco controlado” ao receber turistas britânicos. Costa e Cabrita deixam aviso

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António Cotrim / Lusa

A elevada taxa de vacinação no Reino Unido e a obrigatoriedade de um teste negativo à covid-19 à chegada permite a Portugal assumir o “risco controlado” de receber cidadãos britânicos, afirmaram especialistas da área da saúde.

“Temos de correr um risco. Esse risco, pelo lado do Reino Unido, é minimizado pela elevada taxa de cobertura vacinal e pela realização de um teste PCR à chegada para Portugal. Também temos condições que são favoráveis, como o facto de termos a população com maior risco devidamente vacinada”, adiantou à Lusa o pneumologista Filipe Froes.

Segundo o coordenador do gabinete de crise covid-19 da Ordem dos Médicos, isso não impede, porém, a eventual disseminação da variante do vírus SARS-CoV-2 associada à Índia e que está a registar uma prevalência crescente no número de casos da doença no Reino Unido.

Nesse sentido, Filipe Froes defendeu um reforço da articulação das autoridades de saúde dos dois países, o que poderá passar por Portugal ter acesso à informação de possíveis casos positivos detetados nos testes de despiste da Covid-19 feitos no regresso ao Reino Unido.

“Um fator para garantir maior segurança seria os cidadãos do Reino Unido, ao voltarem ao país de origem, como têm de fazer um teste, se derem positivo, termos acesso a esta informação para fazermos rastreio de contactos dessas pessoas quando estiveram em Portugal”, explicou o especialista.

“Não há mundos perfeitos, nem risco zero, mas a conjugação desses fatores pode dar confiança e uma tranquilidade extra”, salientou o médico, ao sublinhar ainda a necessidade de os viajantes britânicos contactarem rapidamente as autoridades de saúde portuguesas se apresentarem sintomas de covid-19.

De acordo com Filipe Froes, nalgumas zonas de Londres, a variante originária da Índia já representa 20% das variantes em circulação, mas salientou que se está perante uma estirpe que foi classificada como de interesse pelas autoridades americanas, ou seja, que está ainda sujeita a uma análise continua.

Há “dados positivos que fazem ter alguma confiança”, como seja o facto da boa taxa de vacinação registada no Reino Unido, o que indica que, à partida, as pessoas não estarão infetadas, assim como os dados preliminares de que as vacinas são eficazes contra a variante associada à Índia.

Temos de estar muito atentos, reforçar a vigilância epidemiológica e das variantes em circulação e, se necessário, adotar outras medidas de maneira a limitar a disseminação da variante em Portugal”, referiu Filipe Froes.

“Risco controlado”

Também em declarações à Lusa, o virologista Pedro Simas alertou que o crescimento desta variante no Reino Unido necessita de ser contextualizado, uma vez que está a ter uma predominância significativa nos novos casos de covid-19, mas que é relativa face ao volume reduzido de infeções naquele país.

“Entre 5 e 12 de maio, numa semana, houve cerca de 900 casos de infeções causadas pela variante da Índia no Reino Unido. Está a ter um crescimento exponencial, mas que é muito relativo em termos de volume”, adiantou o especialista do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.

O facto de o Reino Unido ter uma “imunidade de grupo já muito avançada” significa que existe uma “barreira” à propagação exponencial de qualquer variante, explicou o virologista, referindo que está demonstrado que não há “nenhuma variante que quebre a imunidade de uma forma dramática”.

Em relação a Portugal, Pedro Simas considera que os cerca de 40% de imunidade da população, em resultado da imunidade natural de pessoas que já foram infetadas e da imunidade provocada pela vacina, constituem também uma “garantia de segurança” em relação a qualquer variante, incluindo a associada à Índia.

“Temos de estar atentos e ser prudentes, mas ela não vai encontrar um terreno fértil para se disseminar porque já há uma grande barreira à disseminação de qualquer variante”, disse o virologista, ao adiantar que os dados que chegam do Reino Unido indicam também que as vacinas são eficazes em relação a esta variante que surgiu na Índia.

Pedro Simas considerou que nenhuma das variantes do coronavírus que surgiram até agora reduziu a eficácia das vacinas na proteção que dão contra a doença severa e morte por covid-19, demonstrando também ser eficientes em prevenir contra a infeção pelo SARS-CoV-2.

“Se olharmos para os dados epidemiológicos, não há razão nenhuma para suspeitarmos que os processos de reinfeção de pessoas que já foram infetadas ou de pessoas vacinadas sejam muito frequentes”, avançou o especialista.

Nesse sentido, Pedro Simas manifestou-se a favor da entrada de turistas do Reino Unido, afirmando que o sistema de controlo, através da obrigatoriedade de um teste PCR negativo nas últimas 72 horas, funciona no despiste de casos de covid-19.

Esta semana, o ministro da Saúde, Matt Hancock, admitiu que a variante B1.617.2, descoberta primeiro na Índia, está a multiplicar-se rapidamente, com a maioria dos casos a serem registados no norte de Inglaterra.

Na segunda-feira, o Reino Unido iniciou uma nova etapa do plano de desconfinamento, incluindo autorização para viajar de férias para o estrangeiro, mas apenas alguns países, entre os quais Portugal, que permitem a entrada a britânicos.

Até 12 de maio, Portugal tinha registado nove casos da variante do SARS-CoV-2 associada à Índia, com as autoridades de saúde a considerarem parecer não existir transmissão comunitária dessa estirpe do vírus que provoca a covid-19.

”Regras têm de ser cumpridas”

O primeiro-ministro, António Costa, advertiu que a abertura de fronteiras em Portugal “tem regras que tem de ser cumpridas”, considerando fundamental que os turistas que chegam ao país sejam devidamente informados.

“As fronteiras abriram, mas com regras e essas regras têm de ser cumpridas”, avisou o primeiro-ministro português questionado em Paris pelos jornalistas sobre a chegada de milhares de turistas a Portugal a partir desta semana.

Para o primeiro-ministro, o equilíbrio entre a abertura de fronteiras e a contenção da pandemia assenta no “cumprimento estrito das regras”, com todas as entradas a serem sujeitas a testes PCR negativos, entre outras medidas.

O líder do Governo considera que é “fundamental” que os estrangeiros que chegam a Portugal também sejam informados destas regras.

“É fundamental que todos que desembarcam em Portugal saibam que têm de usar máscara na via pública, têm de manter o distanciamento físico adequado, que têm de manter as práticas de higiene das mãos”, sublinhou o primeiro-ministro.

Também nas praias as regras devem ser mantidas, com o governante a lembrar que “a limitação da lotação, com distância obrigatória entre toalhas” se mantém nesta época balnear e que o valor das multas subiu para dissuadir quem desrespeitar as indicações sanitárias em vigor.

“Hoje estamos numa situação melhor do que aquela em que estivemos, mas só nos manteremos nessa posição se não relaxarmos as regras. Sempre que se relaxou no passado, a situação piorou”, concluiu o primeiro-ministro.

Já o ministro da Administração Interna apelou, esta terça-feira, aos turistas que visitam Portugal, que “respeitem estritamente as regras” que estão em vigor no país para combater a covid-19, lembrando que a pandemia “ainda não acabou”.

Na Assembleia da República, Eduardo Cabrita manifestou que “o principal desejo” é não existir no parlamento mais debates sobre novos períodos de estado de emergência, nem apresentação de relatórios do Governo.

Isto ainda não acabou e é fundamental que todos os eventos, é fundamental que os turistas que temos respeitem estritamente as regras que tornam Portugal hoje um exemplo a nível europeu”, disse o ministro, durante o debate dos dois últimos relatórios do estado de emergência, entre os períodos de 1 a 15 de abril e de 16 a 30 de abril.

O governante destacou que as medidas “adequadas e exigentes” permitiram que Portugal conseguisse, há cerca de dois meses, ser o país “com menor” incidência de casos de covid-19 e de óbitos de “toda a União Europeia”.

“Este resultado prova a adequação da iniciativa do Presidente da República, das decisões da Assembleia da República e das medidas difíceis e exigentes tomadas pelo Governo”, precisou.

Eduardo Cabrita sublinhou que os resultados são “sobretudo um mérito de todos os portugueses pela forma como interiorizaram o cumprimento destas medidas” e do “mérito dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde que deram respostas” em tempos difíceis e que contribuíram para que, durante o mês de abril, Portugal registasse “uma significativa redução de casos e de óbitos”.

“Este resultado é mérito das forças de segurança, que com determinação, coragem e empenho de forma pedagógica ou ativa estiveram presentes garantindo o cumprimento das medidas. Quer garantindo as medidas de controlo de fronteira, quer garantindo e resistindo mesmo quando durante horas foram agredidos com garrafas, pedras e sabe-se lá mais o quê”, referiu.

ZAP // Lusa

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