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Os quatro pilares do crescimento do Chega (e um dado que é “uma surpresa”)

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Estela Silva / LUSA

André Ventura, durante a VI Convenção Nacional do Chega

O Chega continua a crescer nas intenções de voto. E entre um dado que surpreende os analistas políticos, este crescimento parece assentar em quatro pilares fundamentais.

A extrema-direita e a direita radical estão a crescer na Europa, com vários partidos desta área política a chegarem ao poder.

Em Portugal, o Chega também continua a subir nas intenções de voto na antecâmara das legislativas de Março próximo, destacando-se o aumento da popularidade entre os homens jovens, com idades entre os 18 e os 34 anos.

Este dado é “uma surpresa para os analistas políticos”, como conta ao ZAP o historiador e investigador Riccardo Marchi do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa.

Um sucesso súbito entre os mais jovens

Até recentemente, os dados indicavam que o Chega tinha uma “forte capacidade de captar o voto na faixa etária 35-55 anos“, refere o investigador italiano, mas radicado em Portugal há 20 anos.

Por ser “um partido de protesto, populista”, que se apresenta como “a voz de um povo contra uma elite política e económica corrupta”, tinha mais hipóteses de conquistar essa faixa etária que integra pessoas que, habitualmente, trabalham, analisa Riccardo Marchi.

São pessoas que tinham “expectativas de crescimento económico” e de subir “no elevador social”. Mas, pelo contrário, viram-se “completamente bloqueadas com a estagnação económica dos últimos 20 anos”, e têm “uma revolta muito grande em relação à elite económica e política”, salienta ainda Marchi.

Contrastando com este dado, o Chega não conseguia conquistar os votos dos que têm menos de 30 anos, e dos que têm mais de 60.

Por um lado, porque os jovens não se interessam pela política, “são dos que votam menos”, e porque as pessoas mais velhas têm “um voto muito fiel”, sendo avessas à mudança e estando habituadas a dividir-se entre PS e PSD, explica o investigador.

Assim, estas últimas sondagens sobre as intenções de voto no que se refere aos jovens homens dos 18 aos 30 anos, são surpreendentes, mesmo que estes possam “nem se levantar da cama no dia das eleições” para ir votar, aponta ainda Marchi.

Mas o que explica este súbito sucesso entre os mais jovens? “Não sabemos ainda qual a razão”, realça o historiador.

“Possivelmente, os jovens demoraram um bocadinho mais a entrar em contacto com a atenção mediática desproporcional que foi dada ao Chega desde 2019″, considera Marchi que também é professor convidado na Universidade Lusófona.

A forte aposta do Chega na rede social TikTok, com uma campanha assente em vídeos virais e na desinformação, também pode ter ajudado.

As “características” de Ventura facilitam esse sucesso por ser um político “relativamente novo” e “bastante empático”, com um “aspecto relaxado”, com quem os jovens se identificam, como realça Marchi.

O “populismo de protesto” de Ventura

Os jovens “começaram a gostar deste estilo mais confrontacional, mais de ruptura”, aponta ainda o investigador  em declarações ao ZAP. André Ventura “é um líder mais chamativo, mais bombástico, que gera mais polémica“, sustenta também.

A afirmação política dos mais jovens faz-se, muitas vezes, mais contra alguém, ou algo, do que em favor de alguma coisa. Por isso mesmo, o discurso que é do contra é sempre mais apelativo.

Hoje em dia, ser rebelde já não é ser de esquerda, como nos anos de 1960 e 1970. A rebeldia é, agora, ser da direita radical que é anti-sistema. E nisso não há ninguém como Ventura, nem como o Chega, na política nacional.

“Não havia uma oferta de populismo de protesto” em Portugal, considera Marchi, sublinhando que o Chega encontrou aí o seu espaço e “levantou essa bandeira no momento certo”, aproveitando “a janela de oportunidade” com o objectivo de “desarticular a relação de forças dentro do centro-direita”.

Ventura “fala ao português comum – o tal português de bem”, recorrendo a um discurso clássico, “emocional” e “muito táctico”, que é típico dos partidos da direita radical, realça o historiador italiano.

Em 2019, apostou no discurso contra os ciganos porque “era o que furava os media“, frisa Marchi, e “confrontou a Joacine Katar Moreira [ex-deputada do Livre]”, sabendo que isso lhe daria espaço nas televisões.

No fundo, é aquela velha máxima: não importa se falam bem ou mal, o que importa é que falem.

Surfar a onda da crise económica

Com a crise económica que assola a Europa, devido aos estilhaços da pandemia de covid-19 e da guerra na Ucrânia, os cidadãos preocupam-se com o presente e com o futuro.

Partidos radicais como o Chega aparecem com os seus discursos populistas e com respostas e bodes expiatórios fáceis de encontrar – os imigrantes e a corrupção. E um dos slogans do partido para estas legislativas – “Portugal precisa de uma limpeza” – dá para todas as interpretações.

“O líder populista apresenta-se como aquele que conhece os verdadeiros problemas do povo e que vai propor soluções simplistas para questões muito complicadas“, analisa o professor de Ciência Política Stéphane François da Universidade de Mons (Bélgica) em declarações à Rádio Canadá, falando em termos gerais e não de Ventura especificamente.

Mas é precisamente essa a postura de Ventura que sabe “surfar” as ondas do momento, apostando num discurso que assenta mais na emoção do que na razão, apelando aos sentimentos das pessoas e à identidade nacional.

O Chega pode até apresentar “propostas irrealizáveis”, nomeadamente quando diz que vai pagar as pensões e outras medidas com o dinheiro que espera recuperar do combate à corrupção – algo que é muito “difícil” de conseguir, como admite Marchi.

No fim de contas, o que interessa é que “passa a mensagem contra a corrupção” para os eleitores – fica a ideia de que “quer ir ao bolso” dos corruptos, aponta o investigador em declarações ao ZAP.

A crise na direita tradicional

A par de toda a conjuntura social e económica, existe ainda um afastamento entre os cidadãos e a política. Os números da abstenção têm sido vergonhosos e os partidos tradicionais nunca se questionaram – nem fizeram uma auto-análise – sobre o que está a falhar para motivar este distanciamento.

As pessoas têm a ideia de que votar não muda realmente nada. Isso é especialmente evidente nos mais jovens que estão habituados à democracia eleitoral e que, por isso, não valorizam o poder do voto.

Por outro lado, a direita tradicional anda um pouco à deriva, com o PSD em busca de um caminho que o distancie claramente do PS e do Chega ao mesmo tempo, pois tem políticas muito comparáveis a uns e a outros.

Tudo isto baralha os eleitores e dá espaço ao Chega para crescer no meio dos revoltados.

A saída de membros do PSD para o Chega é, em si, reveladora desta crise na direita tradicional. Mas “muito mais importante e interessante” é a saída de elementos da ala conservadora da Iniciativa Liberal (IL) para o Chega, conforme nota Riccardo Marchi ao ZAP.

“O IL é um partido de quadros, de pessoas formadas e intelectualmente elaboradas, que sempre marcou uma linha vermelha em relação ao Chega – e, apesar disso, o Chega tornou-se atractivo”, analisa o investigador.

Conseguirá o Chega alcançar os 20%?

Agora, será preciso esperar pela contagem dos votos depois das eleições de 10 de Março deste ano para confirmar se as intenções de voto crescentes no Chega se concretizarão nas urnas.

“Duvido que o Chega consiga alcançar os 20%”, diz Marchi ao ZAP, considerando que esse “seria um crescimento muito, muito grande”. Mas o investigador acredita que pode “duplicar” a votação das últimas legislativas, situando-se entre os 15% e os 16%.

Nas últimas legislativas, as sondagens acabaram por ter um efeito um pouco contrário ao que vinham indicando, com o PS a ganhar as eleições com maioria absoluta. Os analistas dizem que houve uma vaga de pessoas que fez uso do “voto útil” com medo do Chega.

Mas, nesta altura, é difícil que aconteça algo semelhante, não só pela “crise do PS”, mas também pelo “trajecto do Chega”, como refere o historiador italiano.

André Ventura é hoje um político perfeitamente integrado na cena política portuguesa”, analisa Marchi, sublinhando que “as pessoas já não o consideram um marciano” e que o Chega “é um partido normalizado e profissionalizado”.

Susana Valente, ZAP //

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19 Comments

  1. Surpresa????!!!!
    Por favor!!!!
    Como pode tanta ingenuidade acontecer?
    O historial desse desgraçado partido assenta em voltas e reviravoltas, mais de mil programas por legislatura, tudo e nada, de todas as cores e feitios em cada posição que sustentam, uma multiplicidade de posições distintas, de cada vez que o líder bota faladura sobre um assunto…
    Desses, nada me surpreenderá, mesmo que passem a andar na rua de mãos no chão e pernas ao alto.
    O pino e a estupidez são a sua especialidade.

  2. A esquerda amedrontada, já começa a criticar a democracia!

    Se o Chega tem mais votos que o PC e o BE é porque os portugueses estão fartos da extrema esquerda, entendam isso.

  3. O Chega é um fenómeno parecido com as cantiguinhas de Quim Barreiros, pirosas mas eficientes…Culpas? Da incapacidade politica de 50 anos de partidarite aguda contra os verdadeiros interesses de uma nação que se arrasta pelas ruas do descrédito e de politicas miserabilistas e corruptas a favor de clientelas partidárias , um compadrio mafioso de armas burocratas. Anote-se o pormenor da destruição das classes médias a favor de uma média burguesia de políticos incapazes que se auto remuneram, são auto imunes, minimizam a justiça, os professores e o ensino, a saúde e se colocaram, 50 anos depois, repito, na cauda da Europa.

  4. Cara Lucinda, que lição de democracia, liberdade, respeito e moderação.
    Os que votam no BE serão gente informada e pelos vistos “esperta” (isso talvez, chico-esperta).
    Se votam no chega, fazem o pino e são estúpidos…

  5. Tenho 62 anos e estou totalmente de acordo com o que o CHEGA
    propõe . A impunidade tem que acabar. o respeito pelas forças da ordem tem que ser incentivado. Isto é o resultado da bandalheira que reina no NOSSO PAÍS. Cada um faz o que quer e lhe apetece e o respeito pelos outros que se LIXE. Não se pode dizer não a uma pessoa de outra etnia que é logo xenofobia poe Ex.
    e muitas outra s situações teem que acabar.
    PORTUGAL SEMPRE
    CHEGA PARA A FRENTE

  6. Não acredito que possa haver tanto jovem sem neurónios. O Chega é Ventura mais a sua chafurdice na pocilga para onde quer levar estes jovens,
    Acordem, não acreditem em nada que ele diz. É tudo mentira. Ventura é nada.
    Votem na democracia e não na demagogia.
    Sejam sensatos

  7. É tempo de mudar, já estou farto destes Partidos PS, PSD, PCP, etc, que levaram o pais à falência é só oportunistas e corruptos , já não sou Jovem, decidi fechar a minha firma que dava trabalho a mais de 500 pessoas diariamente, este Partido CHEGA, que eu saiba, ainda nada roubou, Vou votar neste partido, e mais nada.

  8. Os quatros pilares do Chega serão de certeza….
    Demagofia ….. Muita pobreza …… Muito Fascismo ……. Guerra Civil

    Cuidado não contribuam para o sucesso deste partido é muito perigoso.

  9. O CHEGA cresce não por mérito mas por incompetência política alheia de partidos que endividam o País em prole dos seu benefício pessoal. Não endereçar mediáticamente a verdade, que o chega também tem o nepotismo e a corrupção passiva só lhe dá força.

    O problema em si não é o chega e sim a conjectura política global assente num modelo arcaico. Já vai ser tarde quando perceberem que o chega é igual ou pior.

  10. Estou farto da alternância hipócrita dos dois grandes partidos PS e PSD que em 50 anos levaram este país ou melhor, as suas GENTES à situação atual (cauda da Europa). A corrupção é generalizada, a Justiça, o MP, o BP, o SNS não funciona, a educação idem, as Autarquias são antro de interesses. Há novas promessas quando ainda não cumpriram as promessas da última campanha eleitoral.
    Criaram espaço para o Chega ou outro qualquer e agora queixam-se!
    Os Comentaristas do sistema estão desesperados com os + 20% do Chega, os tachos acabam? E nunca foram tantos! O Zé contribui.
    O que é que o Chega pode fazer de pior?
    A paciência de um Povo tem limites.

  11. E que tal votar em branco, está na constituição se o voto em branco vencer estes partidos todos teriam de refazer as listas, mas nunca com as mesmas pessoas…. Logo quebrariam os laços e a hierarquia…logo teriam de andar a portar-se bem, pois desconfiavam uns dos outros, pensem nisso…..voto em branco não nulo!

    • Uma falsa informação meu caro. O voto em branco é uma nulidade. Informe por favor qual o artigo da Constituição Portuguesa que diz o que descreve sobre o voto em branco. Pode consultar a Comissão Nacional de Eleições sobre o voto em branco se tiver dúvidas.

  12. O Chega de anti sistema não tem mesmo nada, basta ver quem o financia.
    E como pode ser contra a corrupção: quando tem tantos quadros corruptos e corruptores como cabeças de lista de diversas distritais. Rebeldia ? Só se for por ter terroristas tem nas suas listas, uma verdadeira vergonha nacional.
    Continuam ser os partidos de “extrema” esquerda, os únicos verdadeiramente anti sistema e anti corrupção, os responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento económico e Portugal.
    Como se tem visto em toda a Europa e no Mundo nos poucos países governados pela “extrema” direita, que só trouxeram estagnamento e perdas económicas, mais pobreza e desigualdades para os seus habitantes.
    Inclusive em alguns países como por exemplo o Brasil, vimos o desastre das políticas de extrema direita de Bolsonaro e o regresso à esquerda como a única solução para a resolução dos problemas dos cidadões.

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