“Perigo muito grave”. Rússia quer “esclarecimentos” sobre relatório de Zaporijia

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Atef Safadi / EPA

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo considera que o relatório da AIEA “contém um certo número de pontos de interrogação”.

A Rússia solicitou “esclarecimentos” sobre o relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) relativo à situação na central nuclear de Zaporijia, na Ucrânia, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov.

“É necessário obter esclarecimentos adicionais, porque o relatório contém um certo número de pontos de interrogação […] Pedimos ao diretor-geral da AIEA estes esclarecimentos”, disse Lavrov à agência de notícias russa Interfax.

Na terça-feira, o chefe da AIEA, Rafael Grossi, denunciou, por videoconferência, que a integridade física da central nuclear “continua a ser violada”, descrevendo como “inaceitável” o facto de o local ter sido um alvo.

Estamos a brincar com o fogo“, alertou Grossi, indicando que entrará em contacto “muito em breve” com todas as partes para discutir “passos concretos” no sentido da criação da zona segura recomendada no relatório.

“A situação continua muito preocupante”, alerta Grossi. “O bombardeamento continua, então ainda estamos a enfrentar um perigo muito grave. O simples facto de haver continuidade de ataques e bombardeamentos, deliberados ou não, conscientes ou não, as pessoas estão a atingir uma central nuclear, a maior da Europa. Então devo dizer que o perigo continua”, acrescenta.

Num relatório de 52 páginas, o órgão das Nações Unidas exigiu o estabelecimento de uma “zona de segurança” em redor da central nuclear ucraniana de Zaporijia, ocupada pelos russos, para evitar um acidente grave.

O órgão de fiscalização nuclear da ONU observou também as condições de trabalho “extremamente ‘stressantes‘” em que os funcionários ucranianos se encontram na central, desligada da rede elétrica ucraniana desde a tarde de segunda-feira.

A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, acusou hoje “o Ocidente” de pressionar a AIEA, segundo a agência de notícias estatal Ria-Novosti.

Também na terça-feira, o embaixador russo na ONU Vasily Nebenzia lamentou que o relatório da AIEA não responsabilize a Ucrânia pela autoria dos bombardeamentos junto à central nuclear de Zaporijia. A Ucrânia e a Rússia acusam-se mutuamente de ataques contra a central, que têm feito recear um desastre nuclear.

Após esforços diplomáticos, uma delegação da AIEA teve acesso na semana passada às instalações e teve a oportunidade de constatar a situação no terreno.

Desde segunda-feira, dois inspetores estão permanentemente na central nuclear ucraniana de Zaporijia, após outros seis especialistas que fizeram inspeções nos últimos dias terem abandonado o local.

O diretor do conglomerado nuclear russo Rosatom, Alexei Likhatchev, disse hoje que Moscovo fará “o seu melhor para garantir o funcionamento seguro da central, em contacto exclusivo com a AIEA”.

Apoio global à retirada da Rússia

As responsabilidades pela guerra na Ucrânia são atribuídas a diferentes partes, dependendo do sítio em que se faz a pergunta, mas parece existir uma maioria no consenso de que o conflito só terminará quando a Rússia retirar as tropas da Ucrânia.

Um inquérito da Open Society Foundation questionou mais de 21 mil pessoas em 22 Estados do mundo, concluindo que mais de 50% concordam que a paz apenas acontecerá com a retirada russa. Apenas 13% dos inquiridos acreditam que cabe à Ucrânia fazer cedências territoriais para pôr fim à guerra.

Como seria de esperar, a retirada russa recebe mais apoio por parte dos ucranianos, sendo que mais de 90% concorda com a retirada dos militares da Rússia.

Segue-se o Quénia, com mais de 80%, o Reino o Reino Unido e a Polónia, com mais de 70% de apoio à saída das tropas russas “de todas as partes do território ucraniano que controla atualmente”.

Na Nigéria, no Brasil e na Colômbia, há mais pessoas que acreditam que a retirada russa trará paz do que nos Estados Unidos, no Japão, em França ou na Alemanha.

As exceções são o Senegal, a Índia, a Indonésia e a Sérvia, onde há mais pessoas a discordar do que a concordar que será isso a terminar as hostilidades. Na Sérvia, a percentagem dos que concordam é de 12%, segundo avança o Público.

“Até em países em que os inquiridos são geralmente mais favoráveis à narrativa russa houve uma maioria favorável à retirada russa“, revela o inquérito, apontando como exemplos a África do Sul (59% de respostas positivas) e a Turquia (55%).

Relativamente à justificação para a invasão russa, as opiniões já diferem mais. Na África do Sul, 49% das pessoas diz concordar com a frase “a Rússia tem razão em querer ter maior influência sobre a vizinha Ucrânia do que o Ocidente”.

Na Índia, a percentagem é de 56% e na Nigéria são 54%. Nos 13 países onde o inquérito foi realizado e que não pertencem à OCDE, há mais pessoas que apoiam desta ideia (44%) do que nos nove Estados que pertencem àquela organização.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de sete milhões para os países vizinhos —, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa, justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que entrou hoje no seu 195.º dia, 5.718 civis mortos e 8.199 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.

Alice Carqueja, ZAP //

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