Pedro Nuno voltou como “superstar” (e isso é uma boa e uma má notícia para o PS)

António Cotrim / LUSA

Pedro Nuno Santos, deputado do PS e ex-ministro das Infraestruturas.

Pedro Nuno Santos garantiu que não é candidato a nada e que vai ser apenas “mais um” deputado entre 230 no seu regresso ao Parlamento. Mas o circo mediático que gerou comprova que não será bem assim…

Foi um “regresso superstar”, conforme ecoou nos corredores do Parlamento. O ex-ministro das Infraestruturas foi cumprimentado por diversos deputados, tirou selfies e foi especialmente visado pelos holofotes da comunicação social no regresso à vida política activa.

Pedro Nuno tirou um tempo para descansar depois da demissão do ministério das Infraestruturas no seguimento da polémica indemnização a Alexandra Reis na TAP. Assistimos, agora, à “ressurreição do homem cuja carreira poderia ter ficado destruída” com esse caso, como repara a jornalista Ana Sá Lopes no Público.

A jornalista nota ainda que Pedro Nuno tem “star quality”, um factor que costuma dar “sorte na vida”. Mas falta saber qual vai ser exactamente o seu papel na bancada socialista, e na vida interna do PS.

Pedro Nuno vai “discordar gentilmente de Costa”

Para Ana Sá Lopes, o regresso de Pedro Nuno coloca “muito mais dificuldades para a direcção do PS e, em especial, para o primeiro-ministro”.

O antigo governante tem sido apontado, desde há muito, como potencial sucessor de António Costa na liderança do PS. Agora, “vai trabalhar no Parlamento com o objectivo de cimentar o seu futuro político – tomando posição quando achar que deve, mesmo que isso traga incómodos ao Governo”, como nota Ana Sá Lopes.

Mas o ex-ministro deverá também aproveitar o palco como comentador na SIC, a partir de Setembro, para solificar a sua posição no PS.

A jornalista do Expresso Liliana Valente que acompanhou a ascensão de Pedro Nuno desde os tempos em que se destacou na liderança da Juventude Socialista, acredita que vai usar o tempo de antena na SIC para “discordar gentilmente de António Costa” sempre que achar que o deve fazer, conforme refere em declarações ao podcast “Expresso da Manhã“.

Contudo, a postura de Pedro Nuno também dependerá dos próximos passos de António Costa quanto à liderança do PS e do país. O primeiro-ministro tem sido apontado ao cargo de presidente do Conselho Europeu, mas já disse que pode ser candidato a mais um mandato no Governo nas legislativas de 2026.

Uma boa e uma má notícia para o PS

O regresso de Pedro Nuno ao Parlamento foi especialmente saudado por muitos deputados do PS. Mas, no partido, “muitos temem o renascer de Pedro Nuno, qual fénix!”, como vinca Rosália Amorim no editorial do Diário de Notícias (DN).

Porém, também há no PS quem deseje profundamente esse “renascimento” do antigo ministro, como atesta a jornalista do DN, frisando que este é “amado por uns e odiado por outros”.

“A sua presença no Parlamento pode até dar um certo jeito ao PS sempre que atacar a direita e agregar a esquerda, o que é expectável”, frisa ainda Rosália Amorim.

Mas “Pedro Nuno será também um alvo fácil por parte de toda a oposição” que “tenderá a usá-lo como arma de arremesso contra o PS“, acrescenta.

Contudo, tratando-se de “um político com muita e fluente retórica e jogo de cintura” tem argumentos suficientes para “enfrentar mesmo os mais críticos”, acredita Rosália Amorim.

O que é certo é que Pedro Nuno tem “ambição”, como repara Liliana Valente que nota ainda que, embora esteja “mais pragmático”, mantém o seu forte cunho “ideológico” de esquerda.