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Esperava-se que a pandemia matasse o “coliving”, mas teve um efeito contrário

O distanciamento social imposto pela pandemia de covid-19 tinha tudo para matar os espaços de coliving. No entanto, ao contrário do esperado, o conceito tem florescido.

O termo coliving provavelmente ainda é desconhecido para muitas pessoas, mas aos poucos, vai ganhando popularidade um pouco por todo o mundo — e Portugal não é exceção, embora ainda esteja a passos largos. O conceito promete revolucionar a forma como se vive numa casa partilhada.

O coliving é um tipo de comunidade intencional de moradia compartilhada para pessoas com afinidades de intenções. Isto pode variar desde reunir-se para atividades como refeições e discussões nas áreas comuns, até à partilha de espaço de trabalho e empreendimentos coletivos, como viver de maneira mais sustentável. É um conceito-irmão do coworking, que em Portugal tem tido mais sucesso.

Resumindo: por um preço razoável é possível ter um quarto privado e compartilhar os espaços comuns, explicou Pedro Miguel Gomes, arquiteto na Savills Portugal, num artigo publicado no jornal Público, em 2019.

Duas residências seculares e um antigo bairro operário do Porto vão transformar-se este ano na primeira unidade mundial coliving Willa, uma startup israelita para habitação de luxo, com espaços partilhados, para combater a solidão dos seniores.

“A Willa quer dedicar-se à geração dos ‘empty nester’ (ninhos vazios), ou seja, quer agarrar a fatia da população com idades entre os 55 e os 75 anos, cujos filhos já deverão ter saído da residência, e propor-lhes uma alternativa no coração da cidade, com um novo modo de vida ou mesmo uma segunda vida”, explicou Afonso Oliveira, um dos porta-vozes da empresa em Portugal.

Acabar com a solidão das pessoas de meia-idade em tempos de coronavírus é o objetivo da Willa, defendeu Asaf Engel, cofundador da marca e diretor executivo da empresa, numa entrevista dada ao jornal israelita Israel 21 C, onde assume que antes da covid-19, a “maior epidemia do mundo era a solidão”.

Nesta pandemia, enquanto os millennials saíam a correr das cidades e voltavam para as casas dos seus pais, o mercado imobiliário enlouqueceu. Com o distanciamento social e o pânico crescente com a proximidade física de outras pessoas, alguns especialistas previram que a pandemia poderia prejudicar o coliving como um fenómeno residencial, escreve o OZY.

No entanto, verificou-se um efeito contrário. O medo do crescente isolamento e solidão levou a uma surpreendente resiliência no coliving, desencadeando um aumento na sua procura. Nos Estados Unidos, por exemplo, há cerca de 7.800 camas em espaços de coliving, mas outras 54.350 estão a caminho.

Além de combater a solidão, esta é uma prática que também traz benefícios para a carteira. O coliving pode ser até 30% mais barato do que viver num apartamento.

Embora manter o distanciamento social neste tipo de espaços pareça uma tarefa hercúlea, os habitantes destas comunidades fizeram das tripas coração para o conseguir. Caroline Lee, norte-americana de 27 anos a viver em São Francisco, explica que ela e os seus colegas de casa estabeleceram um horário para usar a cozinha e impuseram regras rígidas relativamente a quem pode visitar os espaços comuns.

Daniel Costa, ZAP //

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