Os bonobos também sabem falar

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Bonobo ou chimpanzé-pigmeu

Um novo estudo revelou que os bonobos são capazes de criar frases de forma semelhante aos humanos.

Nós (humanos) conseguimos falar sem esforço sobre um número infinito de tópicos. Devemos dar graças à composicionalidade.

A composicionalidade é a capacidade de combinar palavras estruturas maiores cujo significado deriva do significado das suas unidades e da forma como são combinadas.

Durante anos, os cientistas acreditaram que apenas os humanos tinha esta capacidade. Por outro lado, pensava-se que a comunicação animal era, na sua maioria, um mero conjunto aleatório de chamadas, com apenas raros exemplos de composição.

No entanto, um novo estudo, publicado na semana passada na Science, revelou que os bonobos criam frases de forma semelhante aos humanos.

Ao investigar exaustivamente a comunicação vocal dos bonobos no seu habitat natural, a Reserva Comunitária de Kokolopori, na República Democrática do Congo, descobriu-se que a comunicação vocal entre os bonobos (os nossos parentes vivos mais próximos, juntamente com os chimpanzés) se baseia extensivamente na composição, tal como a linguagem humana.

“Um dicionário bonobo”

A investigação da composicionalidade nos animais requer, antes de tudo, uma forte compreensão do significado dos chamamentos individuais e respetivas combinações.

Como escrevem os autores do novo estudo no The Conversation, há muito que isto representa um desafio, uma vez que é difícil aceder às mentes dos animais e descodificar de forma fiável o significado dos chamamentos.

Para responder a este problema, foi desenvolvida uma nova forma de determinar de forma fiável o significado das vocalizações dos bonobos.

Os investigadores partiram do princípio de que um chamamento de bonobo pode ter diferentes tipos de significado. Por exemplo: pode ser para dar uma ordem (“Corre”), anunciar ações futuras (“Vou viajar”), expressar estados emocionais (“Tenho medo”) ou referir-se a acontecimentos externos (“Há um predador”).

Para compreender de forma fiável o significado de cada vocalização, evitando preconceitos humanos, foi descrito, em grande pormenor, o contexto de emissão de cada vocalização, utilizando mais de 300 parâmetros contextuais.

Criou-se, depois, uma lista completa dos chamamentos dos bonobos e do seu significado associado: uma espécie de dicionário bonobo.

Esta foi a primeira vez que os investigadores determinaram sistematicamente o significado de todos os chamamentos de um animal.

Composicionalidade do Bonobo

Na segunda etapa do estudo, foi desenvolvido um método para investigar se as combinações de animais são composicionais.

Foram encontradas numerosas combinações de chamamentos cujo significado estava relacionado com o significado das suas partes – uma caraterística chave da composicionalidade.

Constatou-se que algumas destas combinações de chamadas tinham uma semelhança impressionante com as estruturas de composição mais complexas da linguagem humana.

Para determinar se os chamamentos dos bonobos eram composicionais, utilizou-se uma abordagem da linguística que prevê que, para ser considerada composicional, uma combinação tem de cumprir três critérios:

  1. Cada um dos seus elementos tem significados diferentes.
  2. O significado da combinação é diferente do significado dos seus elementos.
  3. O significado da combinação é derivado do significado dos seus elementos.

Foram identificadas quatro combinações de chamadas cujo significado estava relacionado com o significado das suas partes individuais – uma caraterística fundamental da composicionalidade.

Cada tipo de chamada apareceu em pelo menos uma combinação composicional, da mesma forma que cada palavra pode ocorrer numa frase na linguagem humana. Isso sugere que, tal como na linguagem humana, a composicionalidade é uma caraterística fundamental da comunicação dos bonobos.

Evolução da linguagem

Como escrevem os autores do estudo no The Conversation, uma implicação importante desta investigação é o conhecimento que fornece sobre as raízes evolutivas da natureza composicional da linguagem.

Se os nossos primos bonobos se baseiam extensivamente na composição, tal como nós, então é provável que o nosso último antepassado comum também o tenha feito.

O novo estudo reforça a ideia de que a capacidade de construir significados complexos a partir de unidades vocais mais pequenas já estava presente nos nossos antepassados há pelo menos 7 milhões de anos (se não antes).

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