Arte rupestre misteriosa revela segredos da primeira dinastia egípcia

O painel pode representar uma das primeiras elites políticas do Egito, ainda antes da construção das pirâmides, e indica que os governantes usavam a arte glorificar o seu poder.

Um painel de arte rupestre recentemente analisado, encontrado nas margens desérticas do Egito, está a fornecer novas pistas sobre a emergência do Estado egípcio, segundo o especialista em iconografia egípcia Dorian Vanhulle.

Um novo estudo publicado na Antiquity revela que o painel apresenta um motivo de barco — um dos símbolos mais recorrentes na arte egípcia — e uma figura sentada que poderá representar um dos primeiros governantes.

“Os barcos estão entre os motivos mais frequentes na iconografia egípcia,” explica Vanhulle. “Durante os períodos Pré-Dinástico e Protodinástico (c. 4500–3085 a.C.), o barco é onipresente e carregado de significados ideológicos e simbólicos complexos.”

Através da comparação com outras representações pré-faraónicas de barcos, Vanhulle concluiu que o painel remonta à fase de transição entre os períodos Protodinástico e Dinástico Inicial, precisamente quando o Estado egípcio começava a formar-se, muito antes da construção das primeiras pirâmides.

A gravura exibe semelhanças marcantes com a iconografia oficial do final do período Protodinástico até ao reinado de Narmer, o primeiro unificador do Egito.

Um detalhe de destaque é o queixo alongado da figura sentada, possivelmente uma alusão às barbas artificiais usadas pelos reis da Primeira Dinastia. Este pormenor reforça a hipótese de a figura representar um membro da elite governante primitiva.

A qualidade elevada da gravura indica que poderá ter sido encomendada por uma autoridade política, sugerindo que a arte rupestre era utilizada como meio de  afirmação de poder neste período, refere o SciTech Daily.

“O painel é uma adição importante ao corpo existente de gravuras que nos ajuda a compreender o papel da arte rupestre nos eventos cruciais que levaram à formação do Estado egípcio,” afirma Vanhulle. “As composições rupestres tornaram-se uma ferramenta para as autoridades comunicarem, marcarem o território e afirmarem a sua autoridade.”

Dorian Vanhulle

Ilustração da arte rupestre

A descoberta também evidencia a necessidade urgente de conservação. “A paisagem do vale e das suas margens desérticas está atualmente a ser alterada de forma irreversível por atividades como mineração e pedreiras,” alerta Vanhulle.

“A urgência de missões de resgate, como a que levou à descoberta deste painel, não pode ser subestimada”, conclui.

ZAP //

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