/

Ordem acusa ministério de “ausência absoluta” na proteção a médicos (e pede intervenção urgente)

2

A Ordem dos Médicos (OM) considera as agressões contra médicos ocorridas nas últimas semanas como crimes públicos repugnáveis e pede uma intervenção urgente do Ministério da Saúde e das autoridades judiciais nestes casos.

Num comunicado divulgado no dia em que os ministros da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e da Saúde, Marta Temido, se reúnem para analisar os recentes episódios de violência contra profissionais de saúde e estudar novas medidas de segurança, a OM considera “crítico e urgente” que exista uma intervenção mais assertiva das autoridades judiciais nestes casos.

“É crítico e urgente que exista uma intervenção mais assertiva das autoridades judiciais nestes casos e que o Ministério da Saúde tenha uma intervenção imediata, com medidas e políticas concretas que permitam prevenir este tipo de situações e devolver aos profissionais e aos utentes um SNS em que o respeito, a confiança, a segurança e a qualidade imperem em todas as suas vertentes”, sublinha.

No comunicado, citado pelo jornal Público, a Ordem dos Médicos acusa o ministério de Marta Temido de “ausência absoluta” no apoio aos clínicos vítimas de agressão. A Ordem deixa também uma advertência aos médicos, afirmando que “não devem trabalhar sem as condições adequadas, designadamente aquelas que não garantem segurança clínica e segurança física”.

A OM diz que tem alertado que os casos de violência contra profissionais de saúde estão a aumentar e lamenta que “este crescimento exponencial da violência seja um sinal de que o SNS não está bem, elevando-se o clima de conflitualidade institucional que não dignifica nem beneficia ninguém”.

Considera que este aumento dos atos de violência contra os médicos resulta “em taxas cada vez mais elevadas de abandono, de absentismo, de sofrimento ético, de burnout e de violência física e psicológica”.

Os médicos têm vindo a ser constantemente menosprezados e agredidos de forma reiterada, o que conduz a uma revolta sem precedentes e de consequências imprevisíveis”, afirma a OM, que se diz disponível para ajudar o Ministério da Saúde a “reconstruir o Serviço Nacional de Saúde e a valorizar os profissionais de saúde”.

No comunicado, a OM manifesta-se totalmente solidária com todos os colegas vítimas de agressão e recorda a criação, em 2019, do Gabinete Nacional de Apoio ao Médico, que diz ser “mais uma resposta aos médicos vítimas de violência física, psicológica ou burnout e que complementa o seguro que a Ordem já disponibilizava neste tipo de situações”.

Diz ainda que “nunca aceitará que os médicos sejam submetidos ao utilitarismo humilhante que o Ministério da Saúde quer implementar em Portugal” e que vai dar todo o apoio aos médicos vítimas de agressão e exigir medidas preventivas e protetivas às autoridades competentes.

“Complementarmente, vai advertir todos os médicos que não devem trabalhar sem as condições adequadas, designadamente aquelas que não garantem segurança clínica e segurança física”, acrescenta.

A reunião entre os dois ministros vai decorrer no Ministério da Administração Interna (MAI) e servirá, segundo uma nota conjunta, “para analisar os episódios recentes e estudar novas medidas para garantir a melhoria da segurança de todos os profissionais que trabalham nas unidades de saúde”.

Recentemente, foram divulgados três casos de agressão a profissionais de saúde. Num primeiro caso, uma médica foi atacada por uma utente no serviço de urgência do Hospital de São Bernardo, em Setúbal. A agressora entrou no gabinete, puxou os cabelos da médica e enfiou-lhe um dedo no olho. A profissional de saúde teve de ser transferida para Lisboa, onde foi sujeita a uma pequena cirurgia no Hospital de São José.

Dias depois, um casal de médicos foi atacado no mesmo hospital por um sexagenário que terá sequestrado ambos no interior do gabinete, onde os agrediu com cadeiras e uma mesa. O médico terá entrado num confronto físico com o paciente e foi necessário que um agente da PSP arrombasse a porta para forçar a entrada e travar a agressão. No mesmo dia, um médico foi agredido no Centro de Saúde de Moscavide, em Loures, depois de ter recusado passar baixa a um paciente de 20 anos.

De acordo com dados do Governo divulgados na segunda-feira, quase mil casos de violência contra profissionais de saúde no local de trabalho foram reportados até ao final de setembro de 2019. Em 2018, foram comunicados 953 casos, refere o comunicado, adiantando que “as injúrias são o principal tipo de notificação, representando cerca de 80% do total”.

A Ordem dos Médicos já tinha avançado na semana passada que ia exigir ao Ministério da Saúde que instale botões de pânico nos gabinetes dos hospitais e dos centros de saúde para evitar situações de violência contra estes profissionais de saúde

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

2 Comments

  1. Senhor Bastonário da Ordem dos médicos, queria um policia ao pé de cada medico, cada enfermeiro, as agressões é falta de civismo é falta de respeito de todos nós uns pelos outros, não é culpa dos governos seja esteva ou o do seu PPD, culpe a sociedade que todos nós estamos a construir incluindo o senhor, não seja mais papista que o papa, é a sociedade que deixou de respeitar sejam Médicos, Enfermeiros Policias, GNR,Professores ou mesmo o comum dos cidadãos.

  2. A realidade do SNS, é evidenciada diariamente nos Centros de Saúde e nos Bancos de Urgências dos hospitais Públicos. O caos é permanente, e tem um ciclo horário agravado a partir da meia manhã, dou como exemplo as Urgências de Aveiro, que a partir das 9h, vê o cortejo de Ambulâncias, transportando Idosos oriundos na maior parte de Instituições, Lares, Cuidados continuados e domicílios, muitas das vezes por estados crónicos. Em paralelo, a afluência de casos que poderiam ser resolvidos se em termos de Médicos de Família nos C. de Saúde, fosse possível obter tal resposta. Em conclusão, o acesso a uma consulta Medicina Geral no privado convencionada com a S.Social, poderia resolver muitas destas situações menos Urgentes. Por outro lado, un Utente no privado é examinado e avaliado, medição dos parâmetros vitais e diagnostico. O tempo de uma consulta pode variar de 15 a 30 minutos. Num C. de Saúde por muitas das vezes nem os parâmetros vitais são avaliados por falta de tempo a consagrar a cada Utente. Ouve o Utente, prescreve e volta se se sentir igual ou pior. Portanto no meio desta tempestade perfeita, criada por tempos de espera aberrantes, más condições tanto para profissionais de Saúde como para os Utentes, não é de admirar que o ambiente na sala de espera se torne numa bomba relógio que acaba de explodir na face de quem a dá e tenta fazer o melhor que pode para o Utente. Qualquer violência é altamente condenável, há que diagnosticar a sua origem e tratá-la. A Saúde não tem preço, seja ela física ou mental. Portugal precisa de uma Politica de Saúde que não seja só de “Parecer mas sim de Ser uma verdadeira solução”, nesta área Portugal é só fachada, e a prova é o que se vê ao quotidiano !

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.