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Orçamento “irritou” Marcelo – que admitiu estar menos optimista do que o Governo

Rui Minderico/LUSA

Marcelo Rebelo de Sousa em cerimónia na Base Aérea do Montijo

“Não há nada como esperar para ver se o Governo tem razão”, disse o presidente da República, sobre as previsões da inflação.

Marcelo Rebelo de Sousa não está de acordo com os números apresentados pelo Governo em relação à inflação.

O Executivo socialista prevê taxa de inflação de 7,4% neste ano e uma descida para 4% em 2023.

“Eu tenho de reconhecer que as previsões do Governo são mais optimistas do que aquelas que eu tinha, tenho de admitir isso. E aí não há nada como esperar para ver se o Governo tem razão. Se tiver razão, eu reconheço essa razão. Se não tiver razão, então eu naturalmente estou atento”, avisou o presidente da República.

Marcelo falava com os jornalistas no Museu da Eletricidade, em Lisboa, e lembrou que uma “imprevisibilidade” pode originar uma ligeira subida na inflação, no mínimo, no início do próximo ano.

“Ao que o Governo responde dizendo: pois é, mas o cálculo é para o ano que vem todo, e mesmo que a inflação ainda esteja a nível de 5%, 5% e tal no começo do ano que vem, no final já não está. Portanto, é um problema de contas. Eu respeito as contas do Governo, e ficarei muito satisfeito se for o Governo a ter razão”, analisou.

Já em relação ao Orçamento de Estado para 2023, o presidente da República considera que a proposta é “equilibrada” e acha que o Governo está a “fazer a navegação possível à vista da costa. Toda a gente está a navegar à vista da costa“, comentou.

Marcelo olha para um documento que “não corre muitos riscos” em relação à folga orçamental deste ano e que parte do princípio de que a subida dos preços vai “evoluir favoravelmente” nos próximos tempos.

E, voltando à questão da inflação, disse: “Há uma confiança do Governo, que acha que a inflação não vai subir, disparar, nem vai continuar muito alta. Aí há confiança”.

Na Antena 1, o comentador político Raúl Vaz indicou que não há sintonia entre presidente e Governo, em relação ao que foi apresentado no Orçamento de Estado.

O documento – e a “fé” do Governo – até “irritou particularmente” Marcelo desta vez, de acordo com o especialista. Mas este contraste de expectativas pode ajudar a criar uma “noção mais real” entre os portugueses.

Reacções dos partidos

Para o PSD, este Orçamento é sinónimo de perspectivas de crescimento “desanimadoras”, colocando Portugal no rumo oposto ao de outros países europeus.

Joaquim Miranda Sarmento, líder da bancada parlamentar do PSD, acrescentou que este documento leva ao “empobrecimento” – que afecta “a maioria dos portugueses”.

Filipe Melo, do Chega, avisou: “Não é um orçamento de crescimento, mas de estagnação. É um orçamento de propaganda e pura maquilhagem política”.

Carca Castro, da IL, repetiu o conceito de “maquilhagem“, sendo preciso retirar “muitas camadas” para perceber o que está em causa. “Este Orçamento mantém a voracidade fiscal do Governo. A estabilidade é na estagnação“, completou.

O Bloco, através de Mariana Mortágua, repetiu a ideia de “empobrecimento dos trabalhadores” e da perda de um salário mensal por ano. Além disso, há uma “borla fiscal inédita e um cheque em branco” para os patrões – sobre o fim do limite temporal à dedução de prejuízos fiscais e empresas.

Pelo PCP, Paula Santos lamentou o “agravamento das desigualdades” em Portugal e o facto de o documento estar sujeito aos “ditames” da União Europeia e às “cedências” aos grupos económicos.

Inês de Sousa Real, do PAN, acusa o Governo de querer fazer um “brilharete em Bruxelas” em relação ao défice. E considera que o Governo está a “estender a mão a quem mais polui e a quem mais lucra”.

Rui Tavares, deputado do Livre, disse que o Governo seria mais “responsável” se estivesse a prever um quadro “recessivo” ou “pré-recessivo”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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