O vinho do Porto já não vende como antes. Uma imagem mais jovem é a solução?

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As vendas estão a cair e, com excesso de stock, as empresas compram menos uva e prejudicam os pequenos e médios agricultores. Para alguns, uma nova imagem e maior publicidade resolve; para outros, seria “tratar com deferimento um ex-libris do país”.

Há stock para dar e vender, mas as vendas têm vindo a cair. Quem o confirma é o próprio presidente da Associação de Empresas de Vinho do Porto (AEVP), António Filipe, ao Jornal de Notícias.

“Entre 2013 e 2022 as vendas de vinho do Porto caíram cerca de nove milhões de litros (-11,3%)“, disse, sublinhando que a queda é compensada por um aumento do preço médio por litro, “que passou de 4,64 euros por litro em 2013 para 5,46 euros por litro em 2022 (+18%)” — uma melhoria no volume de negócios de “cerca de 15,7 milhões de euros (+4,3%)”.

A inflação também tem peso, ao motivar uma subida de apenas 3% do preço médio por litro em 2022, comparativamente a 2013.

Neste cenário, as empresas compram menos uvas devido ao excesso de stock, e quem sai prejudicado são mesmo os pequenos e médios agricultores.

No entanto, as vendas de vinho do Porto têm tido um “comportamento muito positivo” em Portugal.

O ciclo negativo de vendas até 2021 deve-se às alterações do padrão de consumo de bebidas alcoólicas e pela falta de investimento promocional, de acordo com Filipe.

A partir de 2021 conseguiu-se inverter o padrão, mas a guerra da Ucrânia veio prejudicar o crescimento do setor, devido ao contexto económico difícil que se instaurou na Europa e no resto do Mundo.

Nova imagem? “Não aceito que seja um produto banal”

Agora, diz o presidente, a solução pode passar pelo rejuvenescimento da imagem deste vinho e, sobretudo, por promovê-lo melhor interna e externamente.

“É preciso revitalizar o setor do vinho do Porto”, porque “está envelhecido, preso a empresas tradicionais e é preciso uma lufada de ar fresco”, diz ao matutino, confessando que são necessários “gente nova e novos operadores com novas dinâmica, novas ideias, produtos diferentes e que arrisquem”.

Quem se mostra contra a posição do representante da AEVP é o presidente da Federação Renovação Douro, atual Casa do Douro, Rui Paredes, que considera que tal “produto de excelência” tem de ser “tratado com deferimento”.

Eu não aceito que o vinho do Porto seja um produto banal. É um produto de excelência que é trabalhado na maior região vitivinícola de montanha do Mundo. Tem de ser algo tratado com deferimento. Um ex-líbris do país”, disse.

“Não se pode aceitar que qualquer supermercado de esquina tenha um vinho do Porto com a marca dele”. Tal como “não se pode cair no enredo das grandes superfícies comerciais que empurram os produtores para baixo e de depois não deixam subir o preço”, defendeu.

“Uma garrafa de vinho do Porto a 3,99 euros faz algum sentido? Depois quem paga é o viticultor. Em 2000 o preço da pipa era o mesmo que hoje (1000 euros). Não houve nenhuma evolução no preço, mas o viticultor teve um grande aumento de custos de produção”, sublinha.

ZAP //

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