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O que é um gap year e porque decidi fazer um

O objetivo principal deste ano de pausa é crescer, evoluir pessoalmente, conhecermo-nos melhor, arriscar em novas experiências, abrir horizontes.

Durante a primeira que fiz no meu gap year, muitas pessoas me perguntaram em que é que este consiste. Um gap year é, nada mais nada menos, do que um ano de pausa ou um ano sabático.

É um ano em que é suposto parar de estudar/trabalhar e dedicar o nosso tempo a atividades diferentes que nos enriqueçam e nos permitam sair da nossa zona de conforto.

Nos Estados Unidos é bastante promovido e faz-se normalmente entre o ensino secundário e a entrada para a universidade. Neste caso, o gap year ajuda os jovens a decidir que percurso académico irão escolher.

Porém, este pode também ser feito entre a universidade e a entrada no mercado de trabalho, como foi o meu caso. Pode ainda ser realizado já no mercado trabalho, e, neste caso, designa-se comummente como ano sabático.

Na cidade das cem cúpulas

Em Portugal existe uma associação, a Gap Year Portugal, criada por jovens dinâmicos e inovadores que pretendem reforçar esta prática em Portugal. No site e nas redes sociais da associação podemos encontrar várias informações bem como tirar as nossas dúvidas.

Além disso, a Gap Year Portugal realiza todos os anos um concurso onde atribui duas bolsas para quem quiser fazer um gap year, uma de 5000 € para uma candidatura individual e outra de 6500 € para uma candidatura dupla. É uma excelente oportunidade para poderem colocar este sonho em prática.

O objetivo principal deste ano de pausa é crescer, evoluir pessoalmente, conhecermo-nos melhor, arriscar em novas experiências, abrir horizontes.

Serve essencialmente para fazer todas aquelas coisas que gostaríamos de ter feito mas que, devido à rotina e ao stress dos estudos/trabalho, ficaram hipotecados.

Um gap year não é mais do que um investimento pessoal (talvez mesmo o maior que poderemos fazer). É expectável que terminemos melhores pessoas, melhores cidadãos, mais responsáveis, resilientes, tolerantes, e, fundamentalmente, mais bem preparados para a vida.

Ao contrário do que muita gente pensa, um gap year não são “férias”. Um gap year exige esforço e comprometimento. É da nossa responsabilidade empenharmo-nos nas atividades que o vão preencher e esforçarmo-nos para nos tornarmos melhores. Se não o fizermos fica vazio e, efetivamente, será um ano de férias.

A maior parte dos gap years incluem viagens de longa duração em alguma parte do mundo. Não é obrigatório viajar durante este ano de pausa mas a verdade é que a maior parte das pessoas aproveita para o fazer. E é uma excelente oportunidade!

Viajar a longo prazo traz-nos imensos benefícios. Faz-nos perceber que o mundo é muito mais do que esta bolha social em que estamos encaixados. Faz-nos conhecer outras realidades, outras pessoas, outras formas de ser e estar na vida muito diferentes das nossas.

E isto, inevitavelmente, leva-nos a relativizar a vida, a dar importância àquilo que realmente tem importância. Faz-nos crescer e perceber que o mundo não é a nossa casa mas também não é o perigo e as coisas más que vemos na televisão. É muito mais do que isso.

Perceber como 8 biliões de pessoas se organizam e conseguem viver de forma tão distinta num mesmo mundo, apesar de todas as divergências, é incrível. É muito diferente de ir uma ou duas semanas para o Brasil com os nossos amigos.

É um desafio pessoal, um desafio que de certeza não vai correr como nós tínhamos planeado mas que vai, com a mesma certeza, ser incrível e memorável.

Costumo dizer que queremos dar a volta ao mundo, mas o mundo é que nos dá a volta a nós. E é mesmo isso, vamos conhecer outros países, outras realidades e com isso vamos conhecermo-nos melhor. É engraçado, ir tão longe para chegar tão perto.

Viajar faz-nos abrir horizontes

É também importante reforçar que um gap year não significa obrigatoriamente viajar. Existem muitos outros projetos/atividades que podemos e devemos desenvolver, por entre as quais fazer voluntariado, fazer um estágio, fazer um retiro espiritual, fazer um intercâmbio.

Podemos aprender uma nova língua, fazer aquele curso de fotografia/culinária/maquilhagem que sempre quisemos mas para o qual nunca tivemos tempo. Até mesmo arranjar um part-time numa área diferente da nossa.

Enfim, tudo aquilo que seja enriquecedor e que, de alguma forma, nos desafie e nos faça sair da zona de conforto.

No meu caso, o gap year surgiu entre o fim do mestrado e a entrada no mercado de trabalho. O principal motivo que me levou a fazer um gap year foi, na verdade, a paixão por viajar. Sempre quis fazer uma viagem longa, de 6 ou 7 meses e, para isso, precisaria obrigatoriamente de parar.

Esta fase da minha vida foi a ideal por dois motivos; primeiro porque estava a terminar um ciclo e, por conseguinte, não precisaria de interromper os estudos.

Em segundo lugar, porque não tive uma boa experiência durante o estágio de mestrado e, portanto, achei que distanciar-me um pouco da minha área me ajudaria a relativizar a situação e a preparar-me para entrar no mercado de trabalho com a atitude certa.

O meu gap year começou com uma viagem na Europa Central, uma viagem que não estava nos planos, mas que, surgida a oportunidade, decidi abraçar. Foi uma viagem de quase 3 semanas, sem prazo de regresso. O objetivo era gastar apenas 500 € e ver até onde conseguiria chegar.

Além disso fiz também voluntariado na Reefod, uma associação que luta contra o desperdício alimentar e o canaliza para quem mais precisa.

A criação do meu blog e das respetivas redes sociais foram também projetos que decidi iniciar neste ano de pausa. Já há algum tempo que gostava de os ter criado, mas a azáfama do dia-a-dia não o tinha permitido.

Enfim, foi um ano cheio de novas experiências, com projetos muito diferentes, que me puseram à prova em todos os sentidos. Um ano sem rotinas, sem horários, sem obrigações. Um ano onde todos os dias foram diferentes, onde todos os dias tive ideias novas. Um ano onde, essencialmente, tive tempo.

Patrícia Carvalho, ZAP //

Patrícia Carvalho

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