O que é que o Papa Francisco quis dizer quando elogiou a “Grande Rússia”?

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Carlos M. Almeida / Lusa

O Papa Francisco justificou, esta segunda-feira, que não elogiou o imperialismo russo, mas exortou “a conservar a herança” e “a transmissão da cultura russa” quando elogiou recentemente a “Grande Rússia”, provocando forte desconforto em Kiev. Francisco admitiu que “talvez não tenha sido muito feliz”.

No decurso de uma conferência de imprensa no voo no qual regressava da sua visita à Mongólia, o Papa Francisco abordou a polémica suscitada pelas suas afirmações quando se dirigiu a um grupo de estudantes russos, e que segundo as autoridades de Kiev pretendiam difundir o “imperialismo russo”, indicou a agência noticiosa Efe.

“Num diálogo com jovens russos emiti no final uma mensagem que repito sempre: que cuidem da sua herança. É o mesmo que digo em todos os lugares, a necessidade de diálogo entre avós e netos. Esta era a mensagem”, esclareceu.

O Papa acrescentou que se referiu à “Grande Mãe Rússia” para sublinhar a sua mensagem, porque “a herança russa é muito boa e muito bela e basta pensar no campo da literatura, da música, até chegar ao escritor Fiodor Dostoievski, que nos fala de humanismo”.

Francisco reconheceu que a terceira parte da sua alocução, na qual reiterou o discurso da herança e se referiu à Grande Rússia “talvez não tenha sido muito feliz”.

No seu discurso, o Papa também recordou a recente Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa.

 

O sumo pontífice justificou as palavras, referindo que “não era uma referência ao plano geográfico mas antes cultural”, também quando nomeou Pedro o Grande e Catarina da Rússia, um assunto “que cabe aos historiadores descreverem”.

“Disse-o porque foi o que estudei no colégio”, acrescentou.

Francisco não elogiou o imperialismo russo

“Queria dizer que têm de herdar a sua cultura, que não se pode comprar num outro lugar, e que a cultura russa é belíssima e profunda e não ficará congelada apesar de a Rússia ter registado momentos obscuros”, sublinhou.

O Papa reiterou que não pensava em “imperialismo”, pelo facto de “existirem imperialismos que querem impor a sua própria ideologia e quando a cultura é destilada e se transforma em ideologia que se converte em veneno”.

“Nunca esqueceis a vossa herança. Sois herdeiros da grande Rússia: a grande Rússia dos santos, dos governantes, da grande Rússia de Pedro o Grande, de Catarina a Grande, desse grande império ilustrado, de grande cultura e de grande humanidade”, disse o Papa aos jovens.

Estas palavras do Papa foram criticadas pelo porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Oleg Nikolenko, ao considerar que defendiam o “imperialismo russo”.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

Relação entre Papa e China está bem, mas…

Ainda nas declarações desta terça-feira e numa referência à China, o Papa Francisco insistiu que as relações do Vaticano com a grande potência asiática são positivas, mas disse que devem ser feitos mais esforços para demonstrar a Pequim que a Igreja Católica não está dependente de uma potência estrangeira.

Francisco referia-se às relações da Santa Sé com a China, e quando a sua deslocação à Mongólia, de larga maioria budista, foi também assinalada pela questão da repressão às minorias religiosas atribuída a Pequim.

O Papa enviou um telegrama de saudações ao Presidente da China, Xi Jinping, quando sobrevoou o espaço aéreo chinês nas viagens de ida e de regresso da Mongólia.

Previamente, e numa missa em Ulan Bator, a capital mongol, também emitiu uma especial saudação ao povo chinês e fez-se acompanhar no altar pelo atual bispo e o bispo emérito de Hong Kong, para demonstrar o seu “forte” afeto à população da China.

A visita de Francisco à Mongólia foi inédita. Não é impressionante que esta seja a primeira visita de um líder da Igreja Católica ao país: em quase 3,5 milhões de habitantes, a Mongólia conta apenas com 1450 católicos.

O país é maioritariamente budista e não-religioso, havendo também mais muçulmanos e seguidores do chamanismo mongol do que católicos.

ZAP // Lusa

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