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Nicol Quinayas não quer segurança despedido. Só quer justiça

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José Coelho / Lusa

Nicol Quinayas, cidadã agredida por um segurança da 2045, empresa contratada pela STCP

Dezenas de pessoas concentraram-se, esta quinta-feira, frente à sede da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) para dizer “basta” ao racismo e à discriminação.

“Liberdade é não ter medo”, “Mexeu com uma, mexeu com todas” ou “Qualquer discriminação terá oposição” eram algumas das frases que se liam nos cartazes empunhados pelos manifestantes, enquanto gritavam “não, não, não à discriminação”.

Nicol Quinayas, de 21 anos, nascida na Colômbia e a viver em Portugal desde os cinco anos, alega ter sido violentamente agredida e insultada na madrugada de 24 de junho, no Porto, por um segurança da empresa 2045 a exercer funções de fiscalização para a STCP.

Presente na concentração, juntamente com a sua mãe, Nicol contou aos jornalistas que ainda não conseguiu retomar a sua vida normal, dado o episódio lhe ter deixado “marcas”.

“Fisicamente já recuperei, já consigo sorrir de orelha a orelha, mas hoje, por exemplo, tive uma noite péssima, tive de arranjar forças cá dentro para vir até aqui e não sei como me vou sentir quando vir alguma farda de seguranças da empresa 2045 de novo e quando passar pelo local da agressão”, assumiu.

Nicol só quer que se “faça justiça” e que a verdade seja dita para que episódios como estes não se repitam. Questionada sobre o que é para si fazer-se justiça, a jovem explicou que seria o segurança não voltar a exercer estas funções. “Não quero que ele fique sem emprego, mas quero que não volte a exercer funções destas porque vivenciar o que vivenciei é horrível”, comentou.

Considerando que as empresas devem dar formação psicológica aos funcionários que exercem este tipo de atividade, Nicol contou que, agora, lhe chegam relatos de outras pessoas que passaram por situações idênticas. Sobre os factos, a jovem admitiu que passou à frente na fila de espera para o autocarro, mas que só insultou e pontapeou o segurança quando ouviu comentários racistas e ele a tentou tirar de forma brusca.

Revelando ainda não ter sido interrogada por nenhuma entidade, estando a aguardar o desfecho das investigações em curso, Nicol criticou ainda a postura do motorista, que “nada fez”, e a atuação da PSP.

Este não foi o primeiro episódio de racismo

Por seu lado, a mãe, Ângela Morales, relatou não ter sido a primeira vez que a filha passou por um episódio de racismo, depois de há dois anos um vizinho a ter insultado e chamado de “preta”, obrigando a família a mudar de casa por medo.

Fugimos por medo, mudamo-nos para a casa atual, mas desta vez não quero, não me calo, nem aceito ameaças racistas”, frisou a progenitora.

Apelando a quem de poder para ajudar “as muitas Nicol” em Portugal, a mãe da jovem pediu paz, tranquilidade e respeito para com quem vive no país há 18 anos. “Somos humanos, isto é horrível, só quem passa por isto consegue entender a indignidade, crueldade e revolta”, salientou.

Alegando também ter sido vítima de um segurança da 2045, há cerca de um ano, Leandro Mendes afirmou à Lusa ter sido insultado e empurrado na frente da sua mulher e filhos. “Foram rudes comigo, foram agressivos e, sinceramente, nem sei porquê”, referiu.

Considerando que os seguranças acham “gozar de impunidade”, Leandro Mendes pede mais respeito pelos imigrantes porque, apesar de não serem portugueses, trabalham e pagam impostos.

Portugal é um país racista

Sem dados oficiais sobre o número de queixas, Marta Pereira, da SOS Racismo, revelou que a maioria das vítimas se cala porque se sentem desprotegidas pelo facto de estarem numa situação precária ou de forma ilegal no país. Além disso, explicou, a maioria das vítimas não tem dinheiro para suportar os custos judiciais que um processo deste tipo pode envolver.

Dizendo que Portugal é um país racista, Marta Pereira ressalvou que os imigrantes são “muitas vezes” alvo de discriminação no acesso ao emprego ou à habitação.

Já Graciete Morais, que fez questão de se concentrar frente à STCP apenas por solidariedade, adiantou que este tipo de situações não pode acontecer em Portugal, nem em país nenhum. “Estamos a falar de pessoas, isto revolta-me porque podia ser um filho meu e, isso, é angustiante”, vincou.

O Ministério Público já abriu um inquérito para investigar o caso, revelou na semana passada a Procuradoria-Geral da República (PGR), numa resposta escrita à Lusa.

Depois de o caso se ter tornado público, inicialmente pelas redes sociais e depois pelos jornais, a SOS Racismo condenou a agressão à jovem, que reside em Gondomar, no distrito do Porto.

A Inspeção Geral da Administração Interna abriu já um processo para esclarecer junto da PSP o caso, também a empresa de segurança privada 2045 já anunciou, em comunicado, que iniciou um processo de averiguações interno relacionado com a agressão.

A STCP indicou que abriu um “processo interno” para averiguação, já a Câmara do Porto condenou de forma “veemente” o ocorrido.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Nicol pode não querer o segurança despedido, mas a Polícia deveria retirar a autorização de segurança, dado que o indivíduo provou no terreno não ter qualidades para dar segurança seja a quem for.
    Será que a Polícia sabia que este indivíduo tinha estas funções ??
    Há pelo menos dois inquéritos a correr, um deles pela empresa 2045.
    Não se viu até agora um processo judicial para a responsabilização criminal do segurança e da empresa que o seleccionou. Estamos a ver se o tempo faz esquecer o que aconteceu ?!

  2. isto nao e um caso de racismo. se o e , entao a vitima e que e racista ao querer passar a frente dos outros passageiros de quem se acha superior

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