O oposicionista russo Alexei Navalny disse nesta segunda-feira que o presidente Vladimir Putin “está obcecado com a ideia dos envenenamentos secretos”, como aquele de que foi alvo em agosto.
Numa entrevista registada em vídeo por um blogger russo, e difundida através da plataforma digital YouTube, Alexei Navalny relata ao longo de duas horas o estado de saúde em que se encontra, depois de ter recebido alta do hospital de Berlim onde esteve internado depois do envenenamento com gás nervoso do tipo Novichok.
“As minhas mãos tremem. Se bebo água de uma garrafa dou espetáculo. Mas a cada dia que passa estou melhor. Trabalho com um fisioterapeuta. Hoje começou a ensinar-me malabarismo de uma forma, que dentro de algum tempo vão ficar a ver como faço malabarismos”, disse Navalny visivelmente bem-disposto.
“Preciso de fazer muitos exercícios do lado esquerdo e do lado direito para que o cérebro saiba o que tem de fazer. Tudo vai ficar bem, vou melhorar“, disse o dirigente da oposição extraparlamentar russo em entrevista presencial com Yury Dud, um popular bloguista russo.
Navalny começou a sentir-se mal a bordo do avião que fazia a rota entre Tomsk, na Sibéria, e Moscovo, no passado dia 22 de agosto, acabando por entrar em coma, tendo sido mais tarde transferido para um hospital de Berlim, a pedido da família.
Tal como na primeira entrevista, que foi concedida à revista alemã Der Spiegel, na semana passada, Navalny voltou a acusar o Vladimir Putin de estar “por trás” do envenenamento, uma acusação que o Kremlin já qualificou “insultuosa e inaceitável”.
“Acreditas realmente que foi Putin quem deu a ordem?”, questionou o blogger durante a conversa com Navalny. “Eu não vejo outra situação. Se me perguntas porquê eu tenho uma resposta: porque nos dois últimos anos todo o nosso sistema está sob uma pressão sem precedentes”, afirmou o opositor.
“Sabes que houve buscas e que as contas bancárias dos nossos apoiantes foram congeladas? Na minha opinião tudo isto foi obra dos Serviços de Segurança da Rússia [FSB] ou dos serviços de espionagem por instrução direta de Putin, sem dúvida”, afirmou.
O político disse ainda que o envenenamento de que foi vítima só pode estar relacionado com as eleições para a câmara baixa do Parlamento (Duma) no próximo ano.
“Tudo indica que Putin está possuído pela ideia de envenenamentos secretos“, acusou Navalny, acrescentando que o Novichok é uma arma química que não se compra “num supermercado”.
Navalny recordou a atuação do Ministério da Saúde da Rússia, que enviou médicos para impedirem a transferência para Berlim e destacou as “mentiras fantásticas” de Putin, que sugeriu, supostamente numa conversa com o chefe de Estado francês, que o opositor russo se tinha envenenado a si próprio.
Esta quarta-feira, Navalny pediu aos europeus que vão mais longe nas sanções à Rússia, proibindo a permanência no seu território de “oligarcas e altos funcionários” que formam “o estreito círculo” de Vladimir Putin.
“As sanções contra todo o país não estão a funcionar. O mais importante é banir os beneficiários do regime e congelar os seus ativos. Os oligarcas e altos funcionários, o círculo mais fechado de Putin”, disse Navalny em entrevista ao diário alemão Bild. Navalny referiu-se a essa elite como aqueles que “assassinam pessoas porque querem permanecer no poder”.
“Eles desviam dinheiro, roubam bilhões e, nos fins de semana, vão a Berlim ou Londres, compram apartamentos caros e sentam-se em cafés”, lamentou.
Após o envenenamento, o chefe da diplomacia europeia Josep Borrell levantou a possibilidade de uma “lei Navalny” como veículo para novas sanções contra Moscovo. A Alemanha também disse que estava a considerar medidas punitivas.
A questão das sanções foi reavivada após o anúncio, na terça-feira, da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) de que uma substância do tipo Novichok tinha sido encontrada no corpo do ativista russo.
Berlim reagiu ao anúncio da OPAQ afirmando que “o uso de armas químicas é um ato sério que não pode ficar sem consequências“.
“Este uso de armas químicas deve ser motivo de preocupação para o Ocidente“, sublinhou Navalny na entrevista. “Se conhecemos os ataques químicos que falharam, não temos ideia do número de assassinatos bem-sucedidos”.
Três laboratórios europeus já haviam concluído que Navalny foi envenenado com esse agente nervoso do tipo Novichok, projetado para fins militares na época soviética.
“oposicionista”?!
Não será “opositor”?
Caro leitor,
No ZAP usamos “opositor” no sentido de “adversário”, e “oposicionista” no sentido de “alguém que faz oposição” — nomeadamente, no contexto político de governo/oposição.
Essa nossa escolha parece ser validada pelo dicionário Priberam:
o·po·si·ci·o·nis·ta
adjectivo de dois géneros e nome de dois géneros
1. Que faz oposição.
2. Opositor, oponente.
o·po·si·tor
adjectivo e nome masculino
1. Que ou quem se opõe. ≠ ADJUVANTE
2. Que ou quem é candidato que pode ir a concurso.
Ok, compreendo, mas não deve haver em Portugal muitos a usar (ou sequer a conhecer) a palavra “oposicionista”…
Caro leitor,
Obrigado pela sua chamada de atenção.
Temos no ZAP ao todo 43 notícias que usam a palavra “oposicionista”, 5 das quais da Lusa.
A palavra, pesquisada no domínio .pt na secção “notícias” do Google, apresenta 2000 resultados.
Não é extraordinário, mas não parece ser nem incorreto nem desconhecido.