“Não somos biombos de sala”. 100 dias de Mortágua em 25 frases

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Paulete Matos, Bloco de Esquerda / Flickr

Mariana Mortágua na X Convenção do Bloco de Esquerda

Três meses à frente do Bloco de Esquerda. As frases que marcaram os primeiros 100 dias do mandato de Mariana Mortágua como coordenadora nacional do partido.

Após uma década à frente do Bloco de Esquerda, Catarina Martins deixou a 28 de maio a liderança do partido, “muito feliz”, por saber que o Bloco “está muito bem e vai ficar muito bem” — entregue a Mariana Mortágua.

Durante a XIII Convenção Nacional que a consagrou como nova coordenadora do Bloco, Mortágua avisou “os adversários” do partido que “ainda não viram nada”.

Uma continuidade na orientação política, ideológica e na agenda, mas com algum refrescamento na mensagem e no estilo são a marca, segundo politólogos, dos primeiros 100 dias de Mariana Mortágua como líder do BE.

Logo no dia seguinte à convenção de 28 de maio da qual saiu como sucessora de Catarina Martins após ser eleita coordenadora do BE, Mariana Mortágua deixou claro que a sua liderança não iria representar “uma guinada política” no partido, o que foi confirmado pelos primeiros 100 dias no cargo.

O partido manteve o foco em temas como a habitação, saúde, educação, banca ou direitos, e a agenda de Mariana Mortágua foi em muito semelhante à que era feita por Catarina Martins, também com a presença junto de trabalhadores em greve nos diferentes setores.

A nova líder assumiu “as despesas” dos principais debates na Assembleia da República com a presença do primeiro-ministro, António Costa, sendo as críticas à maioria absoluta socialista uma constante nas intervenções dos últimos três meses.

Desde a convenção nacional, de acordo com os dados disponibilizados pelo partido, aderiram ao BE três centenas de novos militantes, mantendo as diferentes sondagens sinais de recuperação em relação ao desaire eleitoral das últimas legislativas, na qual o partido ficou reduzido a cinco deputados.

À agência Lusa, André Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, identifica nestes 100 dias uma “continuidade, mas também algum refrescamento”.

Na opinião do politólogo, Mortágua “tem uma grande vantagem em política e ainda mais em partidos pequenos que é de assumir a liderança com níveis de notoriedade que já não seriam muito inferiores” aos de Catarina Martins, sendo este um “benefício substancial face a Paulo Raimundo, do PCP, ou a Rui Rocha, da IL”.

António Costa Pinto, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, refere que em termos de programa e estratégia “nada mudou”, o que é natural tendo sido uma sucessão “programada pela elite dominante do BE”.

“O BE é um partido que não é estritamente dominado pela sua liderança nem por alterações significativas de estilo político dos seus líderes, tem um eleitorado de classe média, que já votou PS, que olha mais para a mensagem política do que para o estilo político da sua liderança. O BE não é o Chega”, salientou.

Três meses mais tarde, o que viram então os adversários do Bloco? Os primeiros 100 dias da nova líder, em 25 frases.

28 de maio, XIII Convenção Nacional

“Não deixamos a política entregue ao calculismo, nem a esse pântano em que a verdade e a mentira se confundem. A nossa política é uma paixão maior do que qualquer circunstância. É uma forma de impaciência, é uma vontade que ninguém pode domar.”

“E já todos sabemos — os eleitores do PS melhor do que ninguém — como em pouco mais de um ano se tornou evidente que a maioria absoluta é um tormento de degradação e instabilidade e uma causa de embaraço nacional.”

“Quero dizê-lo com muita clareza: a esquerda que desistir de ser exigente para aceitar a chantagem do medo não serve ao país. Não somos biombos de sala, não somos cravos de lapela.”

As sementes do ódio estão aí. Há na direita uma ânsia de vingança contra os trabalhadores, de desprezo pelos pobres, de regressão dos direitos que conquistámos a pulso.”

“Não aceitamos que viver pior seja o nosso destino. Temos o direito – mais do que isso, o dever – de lutar por uma vida boa.”

29 de maio, TVI / CNN Portugal

“Não acho que seria de esperar, nem acho que fosse bom, apresentar às pessoas uma guinada política porque muda a cara do partido.”

1 de junho, sobre a TAP

“A TAP é uma empresa absolutamente fundamental para Portugal e não só por razões sentimentais nem patrióticas: é por razões económicas, de soberania, nós já perdemos todas as nossas empresas estratégicas. Resta-nos a TAP.”

3 de junho, sobre o fim da série E dos Certificados de Aforro

“O Governo fez uma escolha, mostrou com esta decisão que é a banca que manda no país. Temos uma banca que lucra dez milhões de euros por dia porque está a cobrar juros às pessoas que pagam crédito à habitação e a solução do Governo foi proteger os lucros da banca e deixar as pessoas a amargurar e com dificuldades.”

17 de junho, na 24.ª Marcha do Orgulho LGBTI+, em Lisboa

“O Bloco de Esquerda junta-se hoje a um país que se alegra para defender uma ideia muito sensata, que é a de que toda a gente tem direito à felicidade, a viver a sua vida, a amar quem quiser, a não ser perseguido e a não ter medo do ódio e do ressentimento.”

17 e 18 de junho, sobre a visita de António Costa à Hungria

“Acho lamentável que o primeiro-ministro tenha decidido parar uma viagem oficial para ir ver futebol [final da Liga Europa], que tenha usado recursos de uma viagem oficial do Estado para fazer essa paragem. Acho ainda mais lamentável que tenha visto este jogo de futebol ao lado de um, enfim, líder autoritário [Viktor Órban] de extrema-direita de um país como é o da Hungria.”

“Não me parece uma boa ideia utilizar recursos públicos, nomeadamente o Falcon, que é um meio de transporte e deslocação que o senhor primeiro-ministro tem para visitas oficiais, para fazer uma pequena paragem para assistir a um jogo de futebol, ainda por cima fazê-lo ao lado de líder autoritário de extrema-direita, como é o caso de Viktor Orbán.”

19 de junho, sobre os problemas da habitação

“Em que país é que nós queremos viver quando a classe média depende de apoios do Governo para arrendar uma casa porque os salários não pagam uma renda.”

21 de junho, sobre o Serviço Nacional de Saúde

“Não é mais possível fingir que a saúde pública está bem, ou sequer a sobreviver. Perante a clareza das evidências, acusamos o Governo de desistir do SNS, porque insiste em remendos, porque vira a cara aos alertas de António Arnaut e João Semedo.”

24 de junho, sobre a subida das taxas de juro

“Se o Governo não representa o povo português junto do BCE, pois que a sua presidente venha a Portugal falar com os representantes do povo na Assembleia da República para saber o que está a fazer a este povo, que não aguenta mais um aumento de juros.”

28 de junho, sobre a presidente do BCE

“A senhora Lagarde nunca conheceu outra coisa na vida a não ser privilégio. Era presidente do FMI quando disse aos portugueses que tinham que empobrecer. Portugal empobreceu quando Lagarde era presidente do FMI.”

30 de junho, sobre os salários

“Os salários em Portugal não aumentaram ao nível da inflação porque o senhor primeiro-ministro disse precisamente a mesma coisa que a senhora Lagarde está a dizer: não se pode aumentar salários porque isso cria uma pressão inflacionista.”

2 de julho, sobre os problemas da habitação

“Não se resolve o problema da habitação só aumentando a taxas de esforço no crédito à habitação porque isso quer dizer simplesmente que o Banco de Portugal deixa que as pessoas fiquem ainda mais com a corda ao pescoço.”

17 de julho, sobre a renúncia de Alexandre Fonseca na Altice

“Devemos aprender com o que vai acontecendo, olhar para as empresas que foram privatizadas, perguntar o que aconteceu a cada uma delas e aprender com isso. Talvez isso possa dar um bom indício de por que é que é uma má ideia privatizar a TAP.”

17 de julho, sobre os Vistos Gold

“Esta semana ficámos a saber que um empresário chileno de uma petrolífera comprou 14 imóveis na zona de Lisboa através de vistos Gold com um investimento total de oito milhões de euros. É um corrupto condenado.
Os vistos ‘Gold’ serviram para um corrupto condenado conseguir nacionalidade para o seu filho e para o seu irmão e residência em Portugal.”

20 de julho, durante o debate do Estado da Nação

“Há uma coisa que é certa e o Governo sabe: O Mais Habitação já fracassou. A crise da habitação vai continuar e o país não vai perdoar ao Governo a maior instabilidade de todas que é trabalhar, ter um salário e não ter uma casa que possa pagar.”

“E hoje a pergunta que os portugueses se faz é como podem confiar no Governo? Como é possível confiar num Governo que tem este cadastro de incumprimento de promessas atrás de si.”

24 de julho, sobre as eleições em Espanha

“A melhor notícia é a estrondosa derrota da extrema-direita do Vox e, um outro facto menos mencionado, que é o desaparecimento dos liberais da política espanhola, nomeadamente o Ciudadanos que era a força liberal no Estado espanhol.”

26 de julho, sobre o caso Rubiales

“O futebol pertence-lhes e elas não pertencem a ninguém. Aceite ou não, Rubiales sairá da presidência da Federação Espanhola de Futebol e da vice-presidência da UEFA. Não há lugar para machismo e assédio, no futebol ou onde quer que seja.”

ZAP // Lusa

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2 Comments

  1. A esquerda fofinha… com a geringonça nada fizeram para reverter as principais falhas do país: corrupção, SNS e Educação… só boas intenções que logo recuam com um não.

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