A líder do BE, Mariana Mortágua, avisou hoje “os adversários” do partido que “ainda não viram nada” e apontou que o Bloco “é e sempre será o lugar das causas e das convicções”.
Mariana Mortágua foi hoje consagrada a nova coordenadora do BE. A lista de continuidade que apresenta à Mesa Nacional conseguiu 67 dos 80 lugares na Mesa Nacional do BE, vencendo a moção de Pedro Soares e reforçando a direção neste órgão.
“Aos nossos adversários, para quem a esquerda é sempre um projeto condenado, já nos conhecem mas ainda não viram nada da força que vamos saber criar, reinventar, construir, unir”, afirmou a nova líder.
No seu discurso de consagração, logo após o anúncio dos resultados, Mariana Mortágua garantiu também que as mais de duas décadas de história do partido, as 13 convenções até agora, “esta sala cheia, são só o começo do BE“.
A nova líder do Bloco assumiu o combate à maioria absoluta do PS que classificou como “um tormento” e “causa de embaraço nacional” e avisou que quem “abafar este pântano” não defende a democracia.
“E já todos sabemos, os eleitores do PS melhor do que ninguém,- como em pouco mais de um ano se tornou evidente que a maioria absoluta é um tormento de degradação e instabilidade e uma causa de embaraço nacional”, declarou.
Entre constantes aplausos, Mariana Mortágua estabeleceu as balizas da intervenção do partido nos próximos dois anos para “impedir que continue este caminho de degradação”.
“Quem abafar, menorizar ou desvalorizar o pântano criado pela maioria absoluta não está a defender a democracia, mas sim a desresponsabilizar os causadores da fragilização da democracia”, disse.
Mariana Mortágua criticou o Governo de António Costa que, considerou, incorre “no vício” de “festejar trunfos que são um tormento”.
“Não há pior vício neste governo do que festejar triunfos que são um tormento para as pessoas. Os salários e as pensões ficam mais pequenos mas o Governo pede-vos que agradeçam o excedente orçamental”, criticou.
A líder eleita, que sucede a Catarina Martins, considerou que atualmente se assiste “à degradação da vida pública” e que “é precisamente quando a vida pública se degrada que é mais preciso mostrar que no BE a política é e sempre será o lugar das causas e das convicções”.
“Não deixamos a política entregue ao calculismo nem a esse pântano em que verdade e mentira se confundem. A nossa política é uma paixão maior do que qualquer circunstância, é uma forma de impaciência, é uma vontade que ninguém pode domar”, salientou.
Segundo os resultados anunciados, a lista de Mariana Mortágua conseguiu 67 mandatos enquanto a de Pedro Filipe Soares ficou com 13. Votaram na moção A 490 delegados, enquanto na moção E foram 95, tendo sido registados 13 brancos e dois nulos.
De acordo com a moção de Mariana Mortágua, igualmente aprovada de forma esmagadora, “a coordenação da Comissão Política ficará a cargo de quem encabece a lista mais votada para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda”.
Na última convenção, quando Catarina Martins foi reconduzida pela última vez coordenadora do partido, a lista da moção da direção conseguiu 54 dos 80 lugares da Mesa Nacional do BE, uma perda de 16 mandatos em relação a 2018, enquanto a moção E elegeu 17 lugares.
Incompetência de Galamba
Pedro Filipe Soares, eleito pela lista da moção ‘A’ à Mesa Nacional ’, acusou o ministro João Galamba de incompetência, criticou o Governo e avisou que “vem aí o bom tempo nas ruas”.
Nas alegações finais de cada moção, o número dois da lista à Mesa Nacional da moção ‘A’, encabeçada por Mariana Mortágua, defendeu que a maioria absoluta parlamentar “só cai por responsabilidade própria” e deixou duras críticas ao ministro das Infraestruturas, João Galamba.
“Vai bem um país que tem um ministro como João Galamba? Imaginem o que é que deve acontecer de manhã: ele levanta-se, vai até ao espelho e pergunta: espelho meu, espelho meu, há ministro mais incompetente do que eu? E o espelho cala-se com vergonha”, afirmou.
O líder parlamentar do BE questionou que “se o país vê isto, porque é que António Costa não vê isto?”.
“E a resposta é simples e óbvia: não vê porque lhe interessa o carnaval em que está agora criada a política portuguesa, desvia as atenções do que é essencial e permite que ele até se faça diferente da direita quando governa como a direita”, acusou.
Num discurso em que defendeu a posição do partido face ao conflito na Ucrânia – questão que divide as duas moções e gerou algumas divergências internas – Pedro Filipe Soares elogiou Catarina Martins e manifestou o seu apoio a Mariana Mortágua.
Pedro Filipe Soares avisou ainda que “vem aí bom tempo nas ruas” e mostrou que o partido esteve e estará presente em várias manifestações, seja dos professores ou pela habitação.
“Quando nos perguntaram também: mas o bloco agora vai voltar à rua? A resposta a esta pergunta também é obvia: mas qual é o sangue que nos corre nas veias?”, afirmou.
Sobre o lema da “vida boa“, usado pela moção encabeçada por Mariana Mortágua, Pedro Filipe Soares respondeu a quem diz que “é uma abstração, não diz nada“.
“Podiam dizer ‘isso é poesia’ ou ‘isso é uma utopia’. Mas o que é o socialismo senão uma utopia que nos faz sair à luta todos os dias? É este o partido dessa utopia”, afirmou.
ZAP // Lusa