Mais de metade das verbas para apoiar agricultores que perderam terrenos durante os incêndios na zona centro em setembro ainda não foram atribuídas. Há quem fale em desistir do negócio.
Todo o negócio de Vitor Sampaio, que mora me Albergaria-a-Velha, desapareceu em minutos. As chamas “parecia que andavam mais do que um carro”, e levaram o curral dos porcos, o palheiro, uma tonelada de víveres, algumas aves e todo o terreno cultivável, que já não o é, como conta à Renascença.
Tal como Vitor, muitos agricultores portugueses da região centro ficaram com o negócio devastado pelas chamas, nos mais de 130 mil hectares de área que ardeu em setembro. Atualmente, 3 meses depois do sucedido, o terreno de Vitor ainda não é cultivável, nem sequer serve de alimento aos animais.
Calcula os prejuízos em 9 mil euros. No seu caso, o apoio deveria ser próximo a 6 mil euros, o valor máximo da verba — se tivesse chegado. Até agora, ainda não viu dinheiro. Sente que tem “cada vez mais a corda ao pescoço”. “Eu vivo da agricultura, não tenho outro meio de sobrevivência”, lamenta.
Outro agricultor, João Cunha, diz ter perdido 15 mil euros entre árvores, lenha e um espigueiro — receberá 4500 euros. Quando? Não sabe. “Estamos aqui sozinhos, isolados, não recebemos a ajuda de ninguém”, diz.
A vontade de desistir “bate todos os dias à porta”, comenta. “Caiu o sonho que eu tinha de fazer algo pelos pequenos agricultores”.
De acordo com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDR Centro), mais de metade das verbas ainda estão por pagar. “Foram recebidas, até ao momento, 3.168”, dizem à Renascença.
Os apoios tinham sido prometidos para o mês de novembro, mas a CCDR Centro admite que dos “7.405.587€ já validados, só 3.526.300€ foram efetivamente pagos”. Ainda assim, garante a Comissão, os institutos regionais que são responsáveis pelas gestão dos apoios já receberam a verba do Estado.
Em Águeda, por exemplo, 45% dos agriultores ainda não receberam o dinheiro, e em Albergaria-a-Velha a situação é ainda mais grave: há 727.279€ por distribuir. É quase dois terços do total previsto (1.131.228€).
“Disseram-me [na Câmara], que pagavam no dia 15 de novembro. Entretanto, era só no dia 15 de dezembro. Ontem [18 de dezembro] liguei para lá e disseram-me que dia 29 deste mês iria chegar o dinheiro, mas que se não viesse para tornar a ligar, que o problema estava na CCDR Centro [Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Centro], que eles é que pagam, diz Vitor Sampaio.
“Eu não sei se a culpa é da câmara ou da CCDR, sei que estamos lesados e não recebemos o nosso dinheiro“, comenta.
O Natal, diz, será diferente este ano: “Não vai haver prendas. Vão ser só uns chocolatezitos e mais nada, porque não há dinheiro”.