“Mulher, Vida, Liberdade”. Iranianos detidos em protestos têm em média 15 anos

Julien Warnand / EPA

Com o começo do ano letivo, as estudantes adolescentes assumiram um papel central na onde de protestos após a morte da jovem curda Mahsa Amin.

Os dirigentes da República Islâmica ordenaram que os protestos após a morte de Mahsa Amini, sob custódia da “polícia da moralidade”, fossem reprimidos. Quem está na linha da frente a controlar a vaga de contestações é a milícia Bassij.

Esta quarta feira foi partilhado um vídeo nas redes sociais que mostra raparigas estudantes a protestar contra um membro do grupo paramilitar, enquanto agitam os seus hijabs nas mãos e gritam “desaparece, Bassiji”. As imagens terão sido filmadas em Shiraz, no sul do Irão, segundo avança o Público.

De acordo com jornalistas iranianos, como é o caso de Omid Memarian ou Kian Sharifi, da BBC, a direção da escola tinha convidado o bassiji — como são chamados os membros individuais do grupo — para falar com as alunas sobre os protestos.

Desde que as manifestações começaram, têm sido vistas várias jovens raparigas na rua. No entanto, só com o arranque do ano letivo esta semana, é que as estudantes adolescentes ocuparam um lugar tão central nos protestos.

Têm surgido cada vez mais imagens de alunas sem hijab ou estudantes com o cabelo à mostra nas salas de aula, nestes últimos dias. Algumas têm ainda cartazes em folhas A4, com slogan de protestos escritos, como por exemplo “Morte ao ditador”, “Liberdade, liberdade”, ou ainda “Mulher, vida, liberdade”.

Existe uma imagem a circular na redes sociais na qual se vêm alunas de costas a mostrar o dedo do meio a uma fotografia do Guia Supremo, o ayatollah Ali Khamenei.

Um dos vídeos que também se tornou viral mostra uma professora a ameaçar estudantes de expulsão no pátio da escola, onde elas estão sentadas no chão sem hijab. “Honrada professora, apoie-nos“, gritam.

As manifestações das estudantes iranianas começaram após o ataque da polícia antimotim, contra os estudantes da Universidade Sharif de Tecnologia, em Teerão.

Os estudantes decidiram protestar dentro do campus, no primeiro dia de aulas, sendo que a universidade foi cercada pela milícia e os jovens retidos durante longas horas.

A repressão das manifestações nos últimos anos já fez perto de 200 mortos, de acordo com grupos de direitos humanos. O regime, no entanto, fala em dezenas.

Ali Fadavi, comandante adjunto dos Guardas da Revolução, afirmou que “a média de idades de muitos dos detidos mais recentes é de 15 anos“. São “vítimas” de uma narrativa promovida nas redes sociais e em media internacionais, defende.

Mahsa Amini foi detida por ter alegadamente usado o hijab de forma a deixar ver uma parte do cabelo, violando o código de vestuário. Entrou em coma horas depois de ser detida e morreu três dias mais tarde.

Entre a várias mortes que decorreram dos protestos, um dos casos que está a ser investigado é o de Nika Shakarami, uma menina de 16 anos que desapareceu depois de ter participado numa manifestação. A rapariga tinha enviado uma mensagem aos pais a dizer que estava a ser perseguida pela polícia e, dez dias depois, a família encontrou-a na morgue de um centro de detenção.

Eurodeputada corta cabelo durante discurso

Como forma de demonstrar solidariedade com as mulheres iranianas e com os protestos das últimas semanas, a deputada sueca Abir Al-Sahlani cortou o cabelo, durante um discurso no Parlamento Europeu.

“Até que o Irão seja livre, a nossa fúria será maior do que a dos nossos opressores. Até que as mulheres do Irão sejam livres iremos apoiar-vos”, afirmou Al-Sahlani, que nasceu no Iraque, num discurso em Estrasburgo, esta terça-feira.

Depois do discurso, a deputada sueca cortou o cabelo que tinha amarrado num rabo de cavalo e disse em curdo: “Jin, Jiyan, Azadi” — Mulher, Vida, Liberdade.

Os Guardas da Revolução iranianos têm atacado vários alvos na região curda do Norte do Iraque com drones e mísseis. Já atingiram as instalações de três partidos curdos nas províncias iraquianas de Erbil e Suleimanyah.

A milícia justifica os ataques, acusando os partidos de instigarem os protestos e designando-os como organizações terroristas, refere o Público.

Atrizes francesas como Juliette Binoche e Isabelle Huppert também se filmaram a cortar pedaços de cabelo em protesto contra a morte de Mahsa Amini e em solidariedade com as mulheres iranianas.

Alice Carqueja, ZAP //

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