Em entrevista à Fox News, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, afirmou neste domingo não saber onde se encontra o corpo do jornalista Jamal Khashoggi, considerando que a sua morte foi um “erro monumental”.
“Descobrimos que foi morto no consulado [saudita em Istambul]. Não sabemos como, em detalhe. Não sabemos onde está o corpo”, declarou o chefe da diplomacia saudita, a partir de Riade, em entrevista à televisão norte-americana Fox News.
O chanceler saudita considerou o incidente um “erro monumental”, acrescentando que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, “não foi informado” da operação, que não foi sequer autorizada pelo poder.
“Os indivíduos que fizeram isso atuaram fora do seu campo de responsabilidade. Foi feito um erro monumental, agravado pela tentativa de o esconder”, disse o ministro. Apesar do enorme erro, o ministro dos Negócios Estrangeiros saudita disse estar convencido de que os laços entre Riade e Washington vão resistir a esta situação.
O chefe de diplomacia do reino disse que a investigação está ainda numa fase inicial e afirmou que o presidente saudita, Salmán bin Abdulaziz, quer que os responsáveis pela morte do jornalista Khashoggi “apresentem contas”.
“Os indivíduos fizeram isto fora do alcance da sua autoridade”, disse Al Jubeir, descrevendo o que aconteceu como uma “operação desonesta”, garantindo que nenhum dos envolvidos tinha laços estreitos com o monarca saudita Bin Abdulaziz.
Khashoggi, jornalista saudita residente nos Estados Unidos desde 2017, era apontado como uma das vozes mais críticas da monarquia saudita. O jornalista, de 60 anos, entrou no consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro para obter um documento para casar com uma cidadã turca e nunca mais foi visto.
De acordo com notícias que foram publicadas na Turquia e nos EUA, as autoridades turcas têm provas de que o jornalista foi torturado e assassinado no consulado.
Também neste domingo, um oficial saudita falou sob anonimato à Reuters, revelando que Khashoggi terá morrido nas mãos de um grupo de 15 sauditas que estariam no consulado de Istambul. O incidente terá ocorrido depois de este grupo entrar em confronto com o jornalista, que terá levantado a voz ao sentir-se ameaçado.
Os contornos da sua morte são ainda certos e foi só neste sábado, mais de três semanas depois do seu desaparecimento, que a Arábia Sauddita confirmou a sua morte no interior do consulado. Até então, o reino negava qualquer envolvimento ou responsabilidade no desaparecimento do jornalista saudita.
Príncipe tem mentalidade de um “líder tribal”
Pouco antes da sua morte, Jamal Khashoggi criticou o “governo autoritário” e a mentalidade de “líder tribal” príncipe Mohammed bin Salman numa entrevista secreta que apenas foi publicada após a sua morte ter sido confirmada.
Em declarações à Newsweek, que estava a desenvolver um artigo sobre liderança e o poder em Riade, Khashoggi rejeitou ser a “oposição”, afirmando que queria apenas uma “Arábia Saudita” melhor. O jornalista dizia não estar a pedir para o regime ser derrubado, apenas pretendia que uma “reforma”.
Quanto ao príncipe herdeiro, Jamla Khashoggi teceu duras críticas, considerando-o um “líder tribal antiquado“, que não tem qualquer contacto com os pobres da Arábia.
“Às vezes, sinto que [o príncipoe] quer aproveitar os frutos da modernidade no primeiro mundo e em Silicon Valley, e nos cinemas mas, ao mesmo tempo, também quer governar da mesma forma que seu avô governou a Arábia Saudita”, disse Khashoggi, acrescentando que o príncipe “ainda não vê o povo”, e só quando o começar a fazer é que a “verdadeira reforma começará”.