O PCP apresentou queixa da cobertura mediática feita ao funeral de Jéssica, a menina de três anos morta em Setúbal num quadro de extrema violência. Um caso que levanta dúvidas quanto à actuação do Estado. A presidente do Instituto de Apoio à Criança diz que “era difícil evitar uma morte assim”.
A menina de Setúbal morreu, com apenas três anos, depois de ter sido, alegadamente sequestrada e torturada por uma falsa ama e pelo marido e a filha desta, devido a uma dívida da mãe.
Os três suspeitos estão detidos e conhecem, neste sábado, as medidas de coacção. Devem ficar em prisão preventiva, até porque a principal suspeita fugiu da sua residência depois do primeiro interrogatório na Polícia Judiciária (PJ).
A Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) tinha Jéssica referenciada desde que esta tinha um mês de vida. Mas tendo sido impossível “contactar a mãe, a CPCJ alertou o caso ao Ministério Público, que abriu uma investigação”, explica ao Expresso a presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC), Dulce Rocha.
“Houve uma comunicação formal do caso logo à nascença, mas não se poderia retirar a criança, porque não havia sinais de maus-tratos“, explica esta responsável que recusa a ideia de que tenha havido alguma falha no sistema.
A comunicação social avança que há cerca de 15 dias, terá sido feita uma visita de responsáveis à casa da família da menina, mas nada de anormal terá sido assinalado.
“Era difícil evitar uma morte assim”, considera a presidente do IAC e magistrada do Ministério Público, apontando que “a morte ocorreu numa outra casa, onde a criança foi refém e alvo de maus-tratos físicos”. “Casos destes são cíclicos e difíceis de prever“, conclui.
PCP queixa-se de “cobertura mediática chocante”
O PCP apresentou uma queixa na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) devido à “cobertura mediática chocante” do funeral da menina, como refere a deputada Alma Rivera numa publicação no Twitter.
A deputada comunista fala de uma “desumana exploração de tudo o que mais sórdido há neste caso”.
A morte violenta de uma criança de 3 anos a 20 de junho em Setúbal tem sido alvo de uma cobertura mediática chocante pela comunicação social, numa desumana exploração de tudo o que mais sórdido há neste caso. Foi entregue um requerimento à ERC sobre este tratamento inacreditável
— Alma Rivera (@almabcrivera) June 24, 2022
Também a deputada Inês de Sousa Real, líder do PAN, critica o que chama de cobertura “voyeurista”, considerando que “é inaceitável e em nada contribui para a prevenção e a protecção de outras crianças”.
“Há entidades reguladoras que devem pronunciar-se” “e “códigos de conduta que já deveriam ter sido criados, adaptados à Convenção de Istambul, para que a cobertura noticiosa de casos de violência doméstica, onde se incluem as crianças, seja adequada e evite um “expectável efeito contágio””, aponta ainda Inês de Sousa Real.
Morreu uma menina de três anos, em circunstâncias trágicas e que dificilmente podemos sequer conceber.
A forma voyeurista como tem sido feita a cobertura desta tragédia por parte de alguns meios é inaceitável e em nada contribui para a prevenção e a proteção de outras crianças.— Inês de Sousa Real (@lnes_Sousa_Real) June 24, 2022
A deputada Isabel Moreira, do PS, fala em “abutres” e num comportamento “aviltante” por parte de “muitos órgãos de comunicação social”. “Jornalistas a perseguirem familiares da criança de câmaras em riste, a fazerem perguntas indecorosas, sem respeito algum pela privacidade dos ditos”, aponta numa publicação no Facebook.
“Parecem abutres em concurso uns com os outros, anunciando imagens recolhidas para deleite das audiências”, acrescenta, lamentando que “houve quem fosse ao quarto da menina”.
“Que interessa a dignidade de uma criança que já morreu? Aliás, Jéssica não pode ser velada no tal silêncio, porque parece que há direitos televisivos nesse momento e relatos das reacções dos vários familiares que não vou descrever”, nota ainda Isabel Moreira.
“Seria normal respeitarem a dor colectiva de uma comunidade que falhou, mas nem sequer respeitam a dignidade de uma pessoa concreta, uma criança de 3 anos, que tinha um nome, chamava-se Jéssica, com direito a direitos, e com direito a que outros cuidassem deles”, sublinha também, falando de uma espécie de “segunda morte de Jéssica”.
Lembrando que estamos num “Estado de direito fundado na dignidade da pessoa humana”, Isabel Moreira apela, assim, às “entidades que zelam pela decência” que se “pronunciem”.
Hoje em Portugal é fácil ser Ditador, como é fácil ser fascista, estão, pela comunicação social criadas todas as condições para se recuar ao antes do 25 de Abril, é claramente evidente a necessidade de uma comunicação social para qualquer regime politico vingar, antes tínhamos uma ditadura do estado (do Povo) hoje temos uma ditadura de grupos de interesses, veja-se a TVI que apesar da sua deontologia, onde tem assento tudo quanto é Organizações de Peso de grupos económicos, as Ordens e Sindicatos de médicos, enfermagem e outros com antena 25 horas por dia, 32 dias por mês, tem até um programa chamado contra o poder que parece exatamente conversa em família do tempo de Marcelo, em democracia nao pode existir grupos de interesses sociais financeiros, seitas sem valor, que tenham mais poder que um governo democraticamente eleito, existe comunicação social (RTPs e Radio) que não depende, ou não devia depender dos grupos de interesse, económicos ou financeiros, financiado pelos Portugueses, mas acaba por ser pior que os outros.
Mas o PCP não está isento de culpas, quanto a mim também se entregou aos interesses da comunicação social, não será por acaso que já ninguém se lembra de instabilidade, reivindicação, discussão em contratos coletivos de trabalho, exigências, criticas etc. na comunicação social. os mais jovens acho que nunca assistiram a tal proeza.
A sociedade está PODRE!
“uma cobertura mediática chocante pela comunicação social, numa desumana exploração de tudo o que mais sórdido há neste caso.”
Infelizmente este tem sido o caso cada vez pior das televisões. E pelo que parece não é só em Portugal, mas numa forma geral nos outros países. É isso que aprendem nos cursos de jornalismo, explorar ao máximo tudo o que lhes for possível, não se importando minimamente com os sentimentos dos envolvidos?
Os números das audiências mandam mais do que o humanamente aceitável, do que os sentimentos, do que o desgosto das famílias? Pois, a resposta, infelizmente, é sim.
Quais são os canais que têm mais audiência em Portugal? Aqueles que mais exploram a vida das pessoas. Quais são os programas com mais audiência? Os que mais exploram as pessoas, tipo “Big Brother” e outras porcarias iguais. É por essas e por outras que TVI, SIC, CMTV e outros que tais para mim são canais postos de lado há muito tempo.
100% de acordo, os noticiários são uma vergonha, repetem 100 vezes a mesma coisa enquanto situações importantes vão ficando escondidas. Uma situação tão triste como uma criança que é morta por três abutres, tem uma cobertura miserável sem respeito pela própria criança tendo em conta de todo esse massacre de noticias em nada vai contribuir para evitar situações iguais.
Quem já leu o livro 1984, vê o retrato desta sociedade podre em vivemos.