/

Mensagem de Marcelo deixa recado ao Governo e dá fôlego à esquerda

1

Eduardo Costa / Lusa

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, proferiu esta quarta-feira a habitual mensagem de Ano Novo, deixando alguns recados ao Governo socialista liderado por António Costa e dando algum fôlego à esquerda.

Falando a partir da ilha do Corvo, nos Açores, o chefe de Estado desejou um 2020 de esperança e, em Portugal, considerou Marcelo, “esperança quer dizer Governo forte, concretizador e dialogante para corresponder à vontade popular que escolheu continuar o mesmo caminho, mas sem maioria absoluta”.

Apesar de a mensagem do Presidente ser sobre novo ano e os desafios que se aproximam, Marcelo não esqueceu o Orçamento de Estado (OE 2020) e prova disso é o facto de frisar que o Governo socialista não tem maioria absoluta, necessitando assim de dialogar com outras forças partidárias para conseguir aprovar o documento.

Tal como frisa o jornal Público esta quinta-feira, este foi o principal recado que o Presidente deixou ao Governo, apesar de não o referir de forma direta. O OE2020, recorde-se, vai ser votado na generalidade dentro de poucos dias, a 10 de janeiro, decorrendo a votação final global do documento a 7 de fevereiro.

E foi esta mesma referência à necessidade de diálogo que mais interessou os partidos à esquerda do PS: PCP e Bloco de Esquerda (os antigos parceiros de geringonça), bem como o PAN (que no passado já aprovou orçamentos socialistas) pegaram na deixa de Marcelo Rebelo de Sousa para pressionarem também o Governo.

BE satisfeito com pressão de Marcelo

O eurodeputado do Bloco de Esquerda José Gusmão considerou “muito significativo” que o Presidente da República tenha recordado que “foi escolha dos portugueses” o PS não ter maioria absoluta, especialmente em altura de debate orçamental.

“Precisamos de decidir se as escolhas para o desenvolvimento económico e social do país são mais importantes que algumas décimas de superavit para mostrar em Bruxelas”.

“Estas escolhas têm tudo a ver com as opções e com os compromissos que serão feitos em sede de debate orçamental”, considerou o bloquista, vincando que “é, por isso, muito significativo que o Presidente da República, neste momento em que se debate o Orçamento do Estado para 2020, tenha recordado todos os atores envolvidos“.

Também o PCP, que não recebeu a mensagem de Marcelo com grande entusiasmo, tentou tirar algum proveito do recado. “O diálogo só é útil se servir para alguma coisa, para prosseguir políticas de avanço e não de estagnação ou retrocesso”, disse Rui Fernandes.

Até agora, frisou o dirigente comunista, o processo de negociação com o PS limitou-se a ser a apresentação de propostas por parte do PCP e a “espera por respostas” do Governo.

O PAN elogiou o discurso do Presidente da República, destacando a a importância do Governo dialogar com os partidos de oposição.

Os socialistas, pela voz de Carlos César, já fizeram saber que o PS entendeu “muito bem” a mensagem de Marcelo. “Entendemos muito bem o apelo do Presidente em um Governo mais forte e dialogante e numa oposição mais forte e mais construtiva”.

PS e Governo, garantiu Carlos César, têm levado a cabo “contactos” e, na próxima sexta-feira, haverá “ronda de conversações com os partidos com que o PS tem privilegiado o diálogo”. “Confiamos que desse diálogo resulte”.

A mensagem de Marcelo está em linha com o que já tinha noticiado o semanário Expresso, que dava conta há duas semanas que o Presidente prefere um orçamento aprovado à esquerda, evitando assim soluções mais criativas para a aprovação do OE2020 – PS, Livre, PSD/Madeira e PAN, por exemplo – e o “pântano governamental”.

ZAP // Lusa

1 Comment

  1. O discurso do Sr. Presidente pediu mais e melhor do mesmo! No que respeita aos desejos e expectativas dos portugueses tudo foi parar à esfera de responsabilidade da “D.Esperança”. Se isto não é de facto um zero absoluto é pelo menos uma aproximação infinitesimal desse valor.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.