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Do confinamento político ao Governo em fim de ciclo. Mensagem de Costa não convence partidos

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Paulo Vaz Henriques / Gabinete Do Primeiro-Ministro / Lusa

O primeiro-ministro deixou esta sexta-feira uma mensagem de Natal aos portugueses, que parece não ter convencido os partidos com assento parlamentar que falam em “confinamento político” e um Governo “em fim de ciclo”.

António Costa manifestou nesta sexta-feira, dia de Natal, esperança na recuperação do país, após um ano de “combate, dor e resistência” por causa da pandemia de covid-19, expressando “especial gratidão” aos profissionais de saúde.

A mensagem parece não ter colhido junto do PAN, Bloco de Esquerda, Iniciativa Liberal e CDS, que reagiram à comunicação com críticas à atuação do Governo.

O porta-voz do PAN, André Silva, afirmou que o primeiro-ministro está em “confinamento político”, além do isolamento profilático, por esquecer as “pontes” com outros partidos.

“O primeiro-ministro fez o discurso em confinamento político, uma vez que, sabendo que não reúne uma maioria absoluta no parlamento, continua a assumir o discurso oficial do PS como único caminho possível e parece já ter esquecido as pontes com outras forças políticas lançadas em sede do último orçamento do Estado”, lamentou, em reação à mensagem de Natal do chefe do executivo.

Segundo o deputado do PAN, Costa “parece falar de um país que só existe no discurso oficial” e que não se vê “nas ações práticas do Governo e do PS”. “A gratidão expressa-se, acima de tudo, em ações, e as palavras do primeiro-ministro só têm significado se forem acompanhadas de medidas concretas que toquem a vida das pessoas”, defendeu.

Para o Bloco, só palavras não chegam

O deputado Moisés Ferreira, do BE, disse que “só palavras não chegam” e instou o primeiro-ministro a traduzir os agradecimentos da mensagem de Natal “em atos” como a contratação “imediata” dos precários do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Só palavras não chegam. As palavras têm de ter uma tradução em atos que têm de ser consequentes. Reconhecer a importância dos profissionais da saúde, em particular do SNS, e depois não traduzir em atos é manifestamente insuficiente”, disse Moisés Ferreira.

Num ano marcado pela pandemia de covid-19, e quando fazia uma reação à mensagem de Natal de António Costa, também centrada na crise pandémica, o deputado bloquista referiu que Portugal “não pode ter um SNS com milhares de trabalhadores com contratos de quatro meses precários” e ao mesmo tempo um “Governo que se recusa a mexer no que quer que seja das carreiras dos profissionais da saúde, mas lhes agradece”.

“Nesta noite de Natal, estão a trabalhar nos hospitais do SNS muitos precários”, disse.

Em declarações aos jornalistas, o deputado defendeu a necessidade de que seja levada a cabo a “contratação permanente e imediata” de quem está com vínculo vulnerável no SNS, tendo também abordado o tema da vacinação e feito uma análise aos “erros” do executivo socialista de António Costa na gestão do combate à pandemia.

IL pede “primeiro-ministro bom”

Por sua vez, o deputado único da Iniciativa Liberal (IL) defendeu que “Portugal precisa de um primeiro-ministro (PM) bom e não apenas de um PM bonzinho”.

Portugal precisa de um primeiro-ministro bom (capaz de garantir um plano de vacinação sólido e ambicioso e um caminho de recuperação que não dependa só do Estado) e não apenas um primeiro-ministro bonzinho (focado na gratidão e solidariedade a tantos a quem o Governo falhou). Assim fica difícil ter esperança”, declarou João Cotrim Figueiredo.

“Uma mensagem de esperança implica ter um bom plano de vacinação, não apenas palavras. Uma mensagem de esperança implica ter ideias concretas para a retoma económica e não estar apenas dependente de dinheiro europeu. O Governo não dá qualquer confiança de que será capaz de implementar um plano de vacinação, nem medidas económicas que permitam a retoma social e económica do país”, apontou.

O parlamentar da IL lamentou que “as principais figuras do Estado” achem que “o futuro dos portugueses se resolve apenas com expressão de afetos”.

“Uma mensagem de Natal deve sobretudo apontar para o futuro e dar esperança, infelizmente não se ouviram novas soluções, apenas o mesmo caminho cujos resultados não têm criado condições para progresso. Temos um Governo que não confia nos portugueses. Um Governo que não acredita e não dará condições à iniciativa privada”.

CDS fala em Governo em fim de ciclo

Os centristas, por sua vez, reagiram vaticinando que o Governo se encontra em fim de ciclo. O vice-presidente do CDS-PP Miguel Barbosa sentenciou esta sexta-feira o “fim de ciclo” do Governo minoritário socialista dirigido por António Costa.

“António Costa serviu-nos hoje, em dia de Natal, um Governo em fim de ciclo e sem qualquer capacidade para contagiar de esperança os portugueses. O Natal de 2020 é marcado por uma angústia profunda em que centenas de milhar de portugueses vivem o Natal do seu descontentamento, sem direito a espírito nem ‘milagre de Natal’”, afirmou.

Segundo o dirigente democrata-cristão, “a mensagem de António Costa desfia lamentos e acrescenta desalento ao sofrimento”.

Sobre o plano de vacinação anticovid-19, Miguel Barbosa mostrou preocupação pela “opção preferencial pelos centros de saúde, em alternativa a centros de vacinação em larga escala”, pela “ausência de um plano de comunicação agressivo de sensibilização da população para aderir à vacinação”, questionando ainda “o porquê de os profissionais de saúde do setor privado não estarem incluídos na primeira fase de vacinação”.

“O CDS defende claramente um maior envolvimento das Forças Armadas em todo o plano de vacinação e no combate à pandemia em geral”, acrescentou.

PCP notou falta de contratações para SNS

Já o dirigente comunista João Frazão sublinhou este sábado a falta do anúncio de mais contratações para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ou de políticas de rutura na mensagem de Natal da véspera do chefe do Governo, António Costa.

“O que faltou ao primeiro-ministro (PM) foi anunciar a contratação dos profissionais de Saúde em falta, para o que tem, por proposta do PCP, cabimento no Orçamento do Estado. O que faltou foi anunciar a rutura com as políticas que criaram os problemas estruturais que ficaram agora expostos com a pandemia”, declarou.

“A dificuldade está em passar do reconhecimento dos profissionais do SNS, que deram uma notável resposta até agora, para a valorização concreta das suas carreiras e profissões. A dificuldade está em passar da solidariedade com o sofrimento de quem perdeu o seu emprego para a defesa concreta de empregos e salários, em passar da preocupação com a economia para a defesa da produção nacional”, defendeu Frazão.

O membro da comissão política do Comité Central do PCP acrescentou que “o que faltou ao PM foi assumir uma palavra de condenação para os que tudo querem destruir, mesmo à custa de uma maior degradação da situação económica e social”.

“Certamente não fizemos tudo bem e cometemos erros, porque só não erra quem não faz”, admitiu Costa, prometendo não regatear esforços para combater a pandemia e aliviar o sofrimento dos portugueses.

Falta de ambição, aponta PSD

O maior partido da oposição considerou que a mensagem de Natal de António Costa “define bem” a “forma paradigmática” de governar do atual executivo pela ausência de palavras de “ambição e futuro”, disse o vice-presidente dos sociais-democratas André Coelho Lima.

Não houve uma palavra de ambição. Não houve uma palavra de futuro. Esta mensagem é de tal forma paradigmática que o senhor primeiro-ministro se esqueceu que Portugal terá dentro de cinco dias a tarefa honrosa que vai por os olhos da Europa sobre nós que é a de presidir à União Europeia. Essa tarefa não mereceu uma única palavra”.

Para o PSD, a mensagem de Natal de António Costa “define bem o que é este Governo e a sua forma de governar”, porque foi focada na palavra “esperança”, mas ofereceu ao país uma “esperança contemplativa”.

“É curioso que [o primeiro-ministro] escolhe a palavra ‘esperança’ sem ser acompanhada de futuro. É uma esperança contemplativa. Uma manifestação absolutamente paradigmática da forma de governar deste Governo e muito particularmente deste primeiro-ministro”, vincou o vice-presidente dos sociais-democratas.

Em declarações aos jornalistas, na sede do PSD, no Porto, André Coelho Lima disse que Costa “teve o cuidado de situar a ‘esperança’ em três circunstâncias”, mas enumerou-as uma a uma para concluir que todas são alheias à atuação do executivo socialista.

“Falou da passagem para o novo ano, que é uma circunstância que depende apenas do calendário. Falou da vacina [para a covid-19], que é algo que depende da investigação científica e tecnológica. A nós compete-nos apenas fazer competentemente um plano de vacinação. E o que o senhor primeiro-ministro chamou de solidariedade reforçada da UE, os fundos extraordinários que virão para Portugal e restantes países europeus”, analisou o vice-presidente do PSD.

ZAP // Lusa

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