Esta quinta-feira, a reunião no Infarmed ficou marcada por críticas ao Governo, nomeadamente quanto à falta de capacidade de antecipação para conter segunda onda de covid-19.
Para os especialistas que participaram na reunião no Infarmed, o Governo devia ter adotado medidas mais duras e mais cedo. A crítica foi feita à porta fechada, mas confirmada por duas fontes ao Observador.
O retrato que ficou da reunião é tudo menos animador: a vacina ainda é uma miragem, os hospitais estão perto da rutura, o pico da segunda onda surgirá no final de novembro e nada garante que não venham a existir terceira e quarta ondas. Apesar das medidas adotadas pelo Governo, os especialistas não têm dúvidas de que o pior ainda está para vir.
João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, disse estar convencido de que “vai haver uma terceira e uma quarta onda e que teremos um período de tempo em que vamos ter de conviver com este vírus”. “Não estamos em situação de catástrofe, ainda, mas estamos em rutura em muitos sítios.”
O especialista disse que o risco de não conseguir tratar todos os doentes covid-19 é real e que a taxa de ocupação dos cuidados intensivos é muito preocupante, sobretudo a Norte do país.
Henrique de Barros, presidente do Conselho Nacional de Saúde, apresentou um estudo que concluiu que “o uso de transportes coletivos, a frequência de espaços de restauração e a frequência de espaços comerciais e de hotelaria não parecem aumentar a probabilidade de infeção”. Segundo o especialista, os maiores focos de contágio acontecem em contexto laboral e em casa.
Em relação às universidades, Henrique de Barros sustentou que “não há sobre-exposição ao vírus relacionada com esta atividade”, em linha com o que defendeu o ministro Manuel Heitor.
Na reunião, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes referiu que, com a atual tendência do índice de transmissão, o país vai atingir o pico da segunda vaga entre 25 e 30 de novembro, com 7 mil casos por dia. Além disso, o especialista apontou o pico de óbitos para a segunda semana de dezembro, altura em que se devem registar 95 a 100 óbitos diários.
O dado mais positivo da reunião foi a chegada da vacina em janeiro. Rui Ivo, presidente do Infarmed, admitiu que as primeiras vacinações aconteçam no início do próximo ano. As entregas devem acontecer por tranches ao longo de 2021: cinco milhões de doses no primeiro trimestre, cerca de oito milhões no segundo trimestre e mais dois milhões no último trimestre de 2021, escreve o Observador.
Mas há ainda muitas dúvidas, entre elas o calendário para autorização da agência europeia que tutela o setor e o facto de não haver qualquer contratualização com Moderna para a aquisição da vacina que se apresenta como a mais eficaz contra o vírus.
Quanto à estratégia do Governo, os especialistas defenderam a necessidade de a afinar. Manuel Carmo Gomes sublinhou que o critério para definir os concelhos de maior risco – o número de novos casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias – pode, isoladamente, não ser o mais acertado.
O especialista defende que é preciso também ter em conta o ritmo de novos contágios, a realidade dos concelhos envolventes e a origem dos surtos em cada concelho.
“Há que fazer um refinamento das medidas de acordo com as realidades locais. E para isso é necessário contar com as autoridades de saúde locais que são quem conhece melhor a realidade”, alertou, citado pelo diário.
Coronavírus / Covid-19
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Alguem com Coragem para dizer as coisas tais como elas estão e não com paninhos quentes a fazer de conta que está tudo controlado. E depois queixam-se que as pessoas não tem cuidado poderá os politicos/governantes deste país é que deram a entender isso. Agora não venham dizer que a desculpa é da população. Não é, a culpa é vossa.