“Vamos estar na rua”. Mário Machado desafia Moedas e convoca protesto anti-muçulmanos

Rodrigo Antunes / Lusa

O militante nacionalista Mário Machado

A marcha “anti-Islão” de 3 de Fevereiro próximo não vai ser autorizada pela Câmara de Lisboa. Decisão indigna o grupo de extrema-direita que a organizou e o seu porta-voz, Mário Machado, convoca um “protesto” para a mesma hora e para o mesmo dia.

“Não nos vão calar, não nos vão obrigar a aceitar esta islamização forçada, esta imigração forçada”. Quem o garante é Mário Machado, porta-voz do grupo neo-nazi 1143 que queria fazer uma manifestação anti-Islão em Lisboa, no próximo dia 3 de Fevereiro.

Fonte oficial da Câmara de Lisboa confirma à Rádio Renascença que a autarquia não vai autorizar a manifestação depois de um parecer da PSP que indica que há “um elevado risco de perturbação grave e efectiva da ordem e da tranquilidade públicas”.

Na quarta-feira passada, a Câmara de Lisboa aprovou, por unanimidade, um “voto de repúdio” quanto a esta marcha “Contra a Islamização da Europa” e que
está a motivar a preocupação das autoridades e da comunidade imigrante que reside na zona da Mouraria e do Martim Moniz, em Lisboa, por onde está previsto passar.

O anúncio da proibição por parte da autarquia levou o grupo 1143 a anunciar que, em vez de uma manifestação, vai, agora, “convocar para o mesmo dia e a mesma hora uma acção de protesto“, como indica Mário Machado num vídeo divulgado no X, o antigo Twitter, no perfil “Racismo contra europeus”.

Assim, “já não temos a obrigatoriedade de notificar a Câmara”, sublinha o porta-voz do grupo neo-nazi, salientando que o objectivo é “reunir todos os patriotas” para mostrar “indignação”.

“Vamos estar na rua”

“Ordeiramente e pacificamente, vamos estar na rua”, promete ainda Mário Machado, assegurando que o grupo não vai “responder com violência”.

Machado apela a que “rumem a Lisboa” para “dizer ao Moedas, ao Governo socialista e aos Comissários da PSP que estão por detrás desta cabala: nós não cedemos”. “Temos o direito de dizer alto e em bom som que estamos fartos desta islamização em Portugal“, sublinha ainda.

Numa altura em que “a democracia está a ser ameaçada e a liberdade de expressão não é um bem garantido, todos os patriotas que se indignam nas redes sociais, que todos os dias são heróis de teclado a vociferarem contra tudo e contra todos, têm aqui a sua oportunidade de dizer ao sistema: nós não aceitamos isto“, sublinha também.

O porta-voz do grupo 1143 aponta ainda que as pessoas estão a organizar-se para se deslocar a Lisboa. “Tiraram folga, alugaram carrinhas, já compraram bilhetes“, nota, salientando que vão aparecer vindos de cidades como Guimarães, Porto e Braga, e também do Algarve e do sul de Espanha.

Mario Machado, porta-voz do Grupo 1143, responde à proibição da manifestação “Contra a Islamização da Europa”, decidida pelos traidores à Pátria da Câmara Municipal de Lisboa. pic.twitter.com/YWw9HXdIaz

— Racismo Contra Europeus (@racismocontrapt) January 26, 2024

Proibição da manifestação “é uma vergonha”

“É uma vergonha”, destaca ainda, notando que as contra-manifestações que estão a ser organizadas para o mesmo dia e a mesma zona por colectivos anti-racistas não foram proibidas, nem alvo de “qualquer tipo de censura por parte das autoridades”.

O porta-voz do grupo nacionalista 1143 salienta que a manifestação que não tem a autorização da Câmara é “legal, ordeira e pacífica”. E, por isso, refere que “é com muito pesar” que constata que, “50 anos depois do 25 de Abril, a liberdade de expressão ainda não chegou a Portugal”.

“Nunca vamos abdicar dos nossos direitos constitucionais e vamos sempre, sempre, lutar pelos nossos direitos, liberdades e garantias”, promete também Mário Machado, criticando o que define como “uma decisão política”.

“É uma mentira da PSP e do senhor Moedas”

Mário Machado também cita um email camarário, alegadamente assinado por Carlos Moedas, o presidente da Câmara de Lisboa, que apontará para “informações históricas sobre eventos similares” como a causa dos receios de que haja incidentes de violência.

Ora, Machado assegura que nunca ocorreram quaisquer “incidentes” violentos em “todas as manifestações nacionalistas feitas em Portugal desde 2005” – e realça que foi o primeiro a organizá-las.

“Não existe qualquer historial de violência” e, por isso, “é uma mentira da PSP, das chefias, e do senhor Carlos Moedas”, sublinha.

“Se formos pela história e pelos eventos históricos e informações passadas, a extrema-esquerda nunca se podia manifestar em Portugal“, aponta ainda, notando que “há pouco tempo, agrediram dois deputados do partido Chega” e vários polícias, além de “danificaram material” nas manifestações pela habitação.