Grupo neo-nazi invade cidades com mensagens contra muçulmanos. Marcha de Fevereiro deve ser proibida?

Estandarte a dizer "Orgulhosamente sós" do Grupo neo-nazi 1143.

Um grupo neo-nazi tem afixado cartazes contra a presença de muçulmanos na Europa em diversas cidades portuguesas, nomeadamente em Braga, Porto, Lisboa e Santarém. É o mesmo grupo que está a promover uma marcha anti-Islão para 3 de Fevereiro em Lisboa.

“Stop islamização da Europa” e “Portugal aos verdadeiros portugueses” são alguns dos dizeres dos cartazes que estão a aparecer em diversas cidades portuguesas.

Segundo o Expresso, já foram vistos, pelo menos, em Braga, Porto, Lisboa e Santarém.

A manifestação está a ser anunciada nas redes sociais nos perfis do chamado “Grupo 1143” que se define como “a maior organização nacionalista portuguesa” que pretende “fomentar a resistência moral da nação” e “cooperar na sua defesa contra os inimigos da pátria e da ordem social”.

Mário Machado, conhecido neo-nazi português e condenado no âmbito da morte de um cidadão cabo-verdiano, já fez parte deste grupo e aparece em várias mensagens divulgadas nas redes sociais.

Note-se que o nome do grupo reporta para o ano da fundação de Portugal em 1143, com a celebração do Tratado de Zamora entre D. Afonso Henriques e Afonso VII de Leão e Castela.

Num vídeo partilhado no X, o antigo Twitter, o grupo neo-nazi mostra a impressão de alguns dos cartazes que foram colados nas ruas.

O “Grupo 1143” também divulga várias publicações racistas e xenófobas, além de promover o recrutamento de novos membros através das redes sociais. E tem uma loja online onde vende t-shirts, porta-chaves, estandartes e autocolantes com dizeres nacionalistas.

Muçulmanos “têm que sentir que não são bem-vindos”

No perfil do X “Racismo contra europeus”, também foi publicado um vídeo com pessoas a colarem cartazes em vários locais e a promover a marcha anti-muçulmanos de 3 de Fevereiro na zona do Martim Morniz e da Mouraria em Lisboa, com uma foto de Mário Machado pelo meio.

Tudo isto ao som de uma música que canta sobre o “orgulho em ser português”.

A manifestação de 3 de Fevereiro também tem uma página no Facebook, onde se nota que “uma democracia que não se defende vigorosamente não tem o direito de sobreviver” e que “e um povo que não se insurge, não tem o direito de vencer”.

Esta marcha vai começar pelas 18 horas no chafariz do Intendente/Desterro, passando pelas ruas Benformoso, Fernandes da Fonseca e da Palma em Lisboa, como se nota nas redes sociais.

Pelas ruas com mais imigrantes do país, sobretudo de origem islâmica, vamos demonstrar aos traidores que nos governam desde o golpe de 1974, que existem portugueses que não querem alterar o seu modus vivendi, nem estão dispostos a sacrificarem mais mulheres no altar do multiculturalismo“, escreve-se no perfil “Racismo contra europeus”.

“Estas comunidades que idolatram um profeta pedófilo e praticam actos terroristas em toda a Europa têm que sentir que não são bem-vindas, e que existem portugueses dispostos a lutar pela reconquista da nossa pátria, tal como os nossos antepassados liderados por D. Afonso Henriques”, acrescenta-se no mesmo perfil.

Manifestação pode ser proibida?

Já há uma carta aberta com mais de duas mil assinaturas a pedir que a manifestação seja proibida. E o Bloco de Esquerda pediu a intervenção do Ministério da Administração Interna (MAI).

Entretanto, está a ser organizada uma contra-manifestação por parte de colectivos anti-racistas e temem-se eventuais confrontos. As autoridades estão atentas e revelam alguma preocupação.

Mas, afinal, a manifestação pode ser proibida à luz da legislação portuguesa e dos direitos definidos na Constituição?

O advogado João Nabais diz ao Expresso que as autoridades “devem impedir a manifestação se se perspectivar a prática de actos violentos“.

A advogada Rita Garcia Pereira concorda, notando que o direito à manifestação “não é absoluto” e pode “ser restringido quando estejam em causa situações de violência ou de ofensa a outros direitos fundamentais, como o da igualdade e não discriminação“, também conforme declarações ao Expresso.

Susana Valente, ZAP //

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